Em 2016, cerca de 1,8 mil empresas de todos os tamanhos deverão pedir recuperação judicial no Brasil, maior número registro pelo Serasa Experian desde 2005, segundo projeção de Luiz Rabi, economista da instituição.
Caso confirmado, o número representará um aumento de 39% em relação aos 1.287 pedidos do ano passado, o atual recorde. “Vamos ultrapassar o recorde de 2015, com certeza”, diz Rabi.
Esse ano tende a ser, segundo o economista, um ano de recordes negativos. Começou no primeiro trimestre. Entre janeiro e março de 2016, 409 empresas recorrem à recuperação judicial, mais que o dobro de 2015 e o maior número já registrado para o período.
Para se ter ideia do tamanho do problema, foram 158 pedidos de recuperação judicial em março, dois a menos que os 160 registrados no Brasil em todo o ano de 2006.
A situação tão ruim no primeiro trimestre, um período mais lento que os outros pelo recesso de fim de ano e pelo carnaval, é indício de que a situação deverá piorar ainda mais, conforme a crise econômica avança contra micro, pequenas, médias e grandes empresas.
O segundo trimestre deverá ser ainda pior, diz Rabi. A partir do segundo semestre, o crescimento no número de pedidos deverá diminuir. Mas a quebradeira continua.
Disparada pós-eleições
A disparada do número de recuperações judiciais no Brasil começou no último trimestre de 2014, logo após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, diz Rabi.
A partir dali, foi possível notar não apenas o aumento no quebra-quebra de negócios, mas também no número de cheques devolvidos e na procura por crédito. “Foi quando a recessão começou a se instalar na economia. De lá para cá, só piorou”.
A recessão de quase 8% em dois anos não é o único problema. “Há outro agravante: as taxas de juro continuam subindo para empréstimos nos bancos, até pelo risco de inadimplência”, diz.
A conjunção de fatores cria um cenário desolador para empreendedores de todas as áreas: a receita cai, os gastos aumentam e o acesso a capital fica ainda mais caro. Pressionadas, muitas empresas não resistem.
Demitidos alimentam única categoria que cresce
Só uma categoria de negócio vem aumentando nos últimos meses: a de microempreendedor individual (MEI), modalidade que prevê um empregado e faturamento máximo de R$ 60 mil. Em janeiro, o MEI foi responsável por 82,4% das empresas abertas, outro recorde, segundo o Serasa.
Mas a escalada desse número não é tão positiva como parece. Trata-se de outra consequência da crise: milhões de desempregados são obrigados a se virar no microempreendedorismo. “Não é oportunidade de negócios, é por sobrevivência”, afirma Rabi.
Em 2015, o Brasil fechou mais de 1,5 milhão de postos formais de trabalho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
O preocupante aumento entre as grandes
Historicamente, a categoria de Micro e Pequenas Empresas sempre foi a que mais pediu recuperação judicial. É algo natural, segundo Rabi, já que 95% das empresas no Brasil são microempresas.
Nessa crise, porém, há uma novidade preocupante. A participação das grandes empresas precisando de ajuda vem aumentando frente às outras categorias.
Antes de 2014, diz o economista, as grandes respondiam por uma fatia média entre 13% e 15% dos pedidos mensais de recuperação judicial. Nos últimos meses, porém, o valor médio se aproximou de 20%.
Em alguns meses, como fevereiro de 2015, grandes empresas responderam por um terço dos pedidos.
O Serasa Experian compila informações sobre falências desde 1991 e de recuperações judiciais desde 2005, quando foi aprovada a lei número 11.101, chamada popularmente de Lei da Recuperação Judicial.
Desde então, o número de falências despencou e os dados sobre pedidos de recuperação são “o termômetro mais preciso” para avaliar a saúde financeira das empresas nacionais, segundo Rabi.
Fonte: Época Negócios.
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