O Brasil em 2014 é um país menos competitivo: caiu do 56º lugar para 57º lugar no ranking mundial. É o que revela o último “Relatório da Competitividade Global” do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), que avaliou a situação de 144 países. Pelos critérios do Fórum, Panamá (48° lugar), Costa Rica (51º lugar) , Bulgária (54º lugar) e até África do Sul (56º lugar) são hoje mais competitivos que o Brasil. A má notícia não acaba aí:
“O país (Brasil) está prestes a enfrentar fortes ventos por conta de recentes mudanças na economia global, com a queda do preço internacional de commodities e possíveis saídas de capital que havia entrado no país vindo de economias avançadas no auge da crise financeira”, alerta o relatório do Fórum.
A lista de motivos para a queda no Brasil no ranking mundial é longa: o país perde posição não apenas pelo fraco desempenho macroeconômico, como também por “deficiências persistentes” de infraestrutura de transporte, “percepção” de que o funcionamento de suas instituições se deteriora, “preocupação crescente com a eficência do governo”, além de corrupção.
Do lado positivo, o Wef diz que o Brasil ainda se beneficia de pontos fortes, especialmente o fato de ter um grande mercado e uma comunidade de empresários “bastante sofisticada”, com excelência em inovação “em alguns nichos”.
Em Genebra, o espanhol Beñat Bilbao, economista senior e um dos diretores do Centro de Competitividade e Desempenho Global do Wef, disse que competitividade exige reformas e investimentos. Quem segue a regra, diz, colhe no longo prazo. E fez a clássica comparação: Brasil e Coréia do Sul.
— Vemos que no longo prazo o Brasil tem crescimento relativamente estável. Mas quando comparamos com a Coréia nos últimos 30 anos, vemos que em 1980, a Coréia do Sul tinha um Produto Interno Bruto (PIB) menor do que o Brasil, no final de 2012, a Coréia tinha o triplo do PIB do Brasil. É a competitividade que explica isso — disse.
Bilbao diz que o mercado brasileiro não está funcionando de maneira “tão eficaz como deveria”, sobretudo do que diz respeito à alocação de recursos. E citou “rigidez” e “falta de abertura” da economia brasileira como fatores.
— Mas, certamente, o fator chave que diferencia o Brasil da Coreia do Sul é o investimento na educação e na inovação — disse.
Ventos contrários
Sobre o quão duro vai ser para o Brasil enfrentar “os ventos contrários” da economia mundial daqui para frente, como a queda no preços de commodities, ele alertou:
— É muito difícil dizer, mas certamente existem áreas que, sem a implementação de reformas para aumentar a produtividade, podem afetar severamente a economia brasileira.
Bilbao insistiu que competivididade é essencial sobretudo agora, que a economia mundial “ainda está enfrentando riscos significativos”:
— Focar em competitividade é tão crucial porque é isso que vai realmente permitir uma recuperação econômica robusta e aumentar a resiliência das economias que enfrentam alguns ventos contrários hoje. As economias mais competitivas são aquelas que são capazes de criar empregos produtivos — explicou.
A cada ano, desde 1979, equipes do Fórum Econômico Mundial analisam dados de várias organizações internacionais, como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI), e organizam uma sondagem com mais de 1400 empresários do mundo inteiro para apontar as virtudes e fraquezas dos países nos quais operam. Tudo passa por escrutínio: da burocracia à educação da mão-de-obra.
Este ano, numa avaliação de 144 países, o Brasil ficou em 85º lugar em matéria de desempenho macroeconômico, e teve uma das piores piores avaliações do sistema de educação (126º lugar), que, segundo o relatório, “fracassa em fornecer trabalhadores com o conjunto de habilidades necessárias para uma economia que está num processo de mudança para atividades baseadas no conhecimento”.
“Abordar estas fraquezas, para o Brasil bem como para outras economias dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) vai exigir a implementação de reformas e se engajar em investimentos produtivos. Esta abordagem não é apenas importante, mas tornou-se urgente de reforçar a resiliência do Brasil”, afirma o relatório.
No topo da lista dos “fatores mais problemáticos” para fazer negócios no Brasil está a regulamentação tributária (18.2), seguido de regulamentações trabalhistas restritivas (15.0), infraestrutura inadequada (15.0), taxas de impostos (13.5), burocracia ineficiente do governo (12.8), corrupção (8.8), mão de obra inadequadamente educada (6.1). Depois disso,em importância decrescente, vêm acesso a financiamentos (3.4), instabilidade de políticas de governo (2.4), inflação (1.4), capacidade de inovação insuficiente (1.1), crime e roubo (0.8), baixa ética de trabalho na mão de obra do país (0.8), regulamentos de moeda estrangeira (0.6) e más condições de saúde pública (0.1).
Sobre a recessão brasileira, Beñat Bilbao afirmou :
_ Nós sempre dissemos que a situação do Brasil, como de outros países da América Latina, não se sustentava no tempo porque os fundamentos (da economia) não eram muito sólidos. A corrupção saiu como um dos fatores mais importantes. Mas, sobretudo, era a situação do funcionamento dos mercados, porque o Brasil não implementou reformas como fizeram países como Chile.
Entre as reformas que o Brasil deixou de fazer, o economista citou flexibilização do mercado (de trabalho), abertura de mercado e mais investimentos em infraestrutura, que virou um cavalo de batalha ainda não resolvido. Básicamente, os maiores problemas do Brasil podem ser resumidos em 4, segundo ele : “impostos muito altos que distorcem mercado”, ineficiência de instituições, (baixa) infraestrutura e educação. Bilbao não concorda com os que acham que hoje há uma divisão nítida na América Latina, entre países da Aliança do Pacífico, como Chile ou Colômbia, que reformaram suas economias e continuam crescendo, e outros como Brasil e Argentina, que estagnaram.
_ A diferença é que Brasil e Argentina contam com um potencial que outros não têm que é o tamanho do mercado e capacidade para inovar em determinadas áreas.
Só instabilidade política não preocupa
Na lista, só ficou com “0” — isto é, nenhuma preocupação — o quesito ” instabilidade do governo e golpes de estado”.
O Brasil não foi o único da América Latina a cair na lista de competitividade. O México baixou seis posições, ficando em 61º lugar. Brasileiros e mexicanos foram amplamente ultrapassados pelos chilenos (33º lugar) e até Panamá (50º lugar) e Costa Rica (51º lugar). A principal parceira do Brasil no Mercosul, Argentina, continua “estável” na sua posição entre os países menos competitivos do mundo: 104º lugar entre 144 países. Pior que a Argentina, só a Venezuela, que está em 131º lugar, imersa em “profunda crise macroeconômica e institucional”, diz o relatório.
Entre os países emergentes, o melhor posicionado é a Malásia, em 20º lugar, seguida da China (28º lugar), uma posição acima em relação ao ano passado. A Índia tem caído no ranking nos últimos seis anos, ficando este ano em 71° lugar.
— Em relação aos emergentes, a situação não é tão brilhante como no passado. Com exceção da China, a maioria dos emergentes está posicionada na metade do ranking e isso tem consequências globais, porque muitos destes países estão enfrentando fortes ventos com o contexto econômico atual e sem um bom nível de competitividade não vai conseguir enfrentar (os ventos) — alertou Bilbão.
Fonte: O Globo.
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