O Brasil enfrentará o Chile nas oitavas de final da Copa, e escrevo estas linhas antes de saber o resultado, torcendo pela nossa seleção. Mas, se no futebol o time brasileiro é o favorito, no campo da economia levamos uma goleada. O Chile, nesse caso, deveria ser um exemplo a ser seguido. Enquanto o Brasil tem crescido cerca de 2% ao ano durante a gestão de Dilma, o Chile tem expandido seu produto interno bruto (PIB) a uma taxa perto de 5% ao ano. Não obstante, a inflação brasileira tem rodado próximo de 6,5% ao ano, apesar- dos preços represados pelo governo, enquanto a inflação chilena, embora tenha subido nos dados mais recentes, ficou abaixo de 3% ao ano nos últimos anos.
A renda per capita chilena chegou perto de 20 mil dólares em 2013, contra pouco mais de 12000 da brasileira. Ou seja, o chileno médio é quase 60% mais rico que o brasileiro médio. Quando analisamos o índice de Desenvolvimento Humano, o Chile fica em quadragésimo lugar, contra um vergonhoso 859 lugar do Brasil. Vários outros indicadores contam a mesma história: o Chile tem dado um banho no Brasil na economia. O que explica isso?
Para começo de conversa, o Chile foi pioneiro no processo de privatizações e liberação das amarras estatais na América Latina. Apesar de viver sob uma ditadura política na era Pinochet, o fato é que ao menos na economia o ditador foi uma espécie de “déspota esclarecido”, convidando os liberais da Universidade de Chicago para tocar as reformas no país. Deu certo. Até a Previdência Social foi privatizada no Chile, tornando-se um caso de sucesso internacional, estudado por vários outros países. Isso permitiu um acúmulo de poupança doméstica bem acima da média regional, possibilitando uma taxa de investimento expressiva.
A carga tributária chilena está perto de 20% do PIB, praticamente a metade da brasileira. Além da magnitude bastante inferior, trata-se de uma arrecadação bem menos complexa do que a nossa. No “manicômio tributário” brasileiro, as empresas gastam 2 600 horas por ano só para pagar impostos, nove vezes mais que no Chile.
No ranking “Doing Business”, organizado pelo Banco Mundial, que mede a facilidade de fazer negócios no país, o Chile aparece na 34ª posição, acima de Israel, Bélgica e França, enquanto o Brasil ocupa a absurda 116ª posição, perto de países como República Dominicana, El Salvador e Indonésia. No índice de Liberdade Econômica, feito pela Heritage Foundation, os nossos vizinhos chilenos ocupam uma invejável sétima posição, ostentando uma economia relativamente livre para padrões globais. Já o Brasil está na 114ª posição, ao lado de países como Grécia e Butão. Deve ser por isso que alguns políticos de esquerda já falam em medir a subjetiva “felicidade” em vez do PIB, para fugir da humilhante comparação mais objetiva.
As instituições chilenas gozam de maior confiança dos investidores, e, mesmo quando a esquerda social-democrata assumiu o poder, ela não ousou mexer nas “vacas sagradas” da era liberal. O respeito aos contratos é levado a sério, enquanto no Brasil, como já disse o ex-ministro Pedro Malan, até o passado é incerto.
Em suma, o Chile é o país latino-americano mais próximo de uma economia de livre mercado capitalista. Não é por acaso que é também o mais próspero e avançado. Não se trata de uma coincidência; ao contrário, o elo causal é evidente aqui: quanto mais liberdade econômica e respeito às regras do jogo, maior o progresso material e social.
Durante a gestão liberal do empresário Sebastián Pinera, a economia do Chile despontou como uma das que mais cresceram no continente. Com o México, o Peru e a Colômbia, o Chile fez vários acordos de livre-comércio por meio da Aliança do Pacifico, enquanto o Brasil permaneceu com a camisa de força bolivariana do Mercosul, completamente ideologizado.
É verdade que Michelle Bachelet voltou ao poder com um discurso mais radical de esquerda. Ainda é cedo para dizer se haverá um grande retrocesso no país, se a socialista terá a coragem (ou a estupidez) de matar as galinhas dos ovos de ouro, criando mais obstáculos aos empreendedores que produzem riqueza. Sua retórica tem sido preocupante, na linha bolivariana. Se o Chile for por esse caminho à esquerda, então suas conquistas estarão em risco. O populismo é sua maior ameaça atualmente. Resta torcer para que os chilenos consigam evitar essa derrota na economia, para que continuem sendo um farol a iluminar uma rota alternativa com mais liberdade na América Latina, infestada de vermelho por todo lado.
Fonte: Veja, 2/7/2014
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