O economista Arminio Fraga, sócio da Gávea Investimentos e ex-presidente do Banco Central, afirmou nesta terça-feira, durante o seminário “Política e Economia na dinâmica da crise”, organizado pelo Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC), que o Brasil corre o risco de sofrer um segundo rebaixamento de rating no atual ambiente de imensa incerteza política e econômica. Apesar de considerar que algumas medidas anunciadas pelo governo para ajustar as contas do governo em 2016 estão no caminho certo, ele avaliou que se esperava mais pelo lado do corte de gastos. Também participaram do seminário o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o cientista político Sergio Abranches.
— Me parece desconfortavelmente possível, neste momento, um segundo rebaixamento (de rating), diante da imensa incerteza do ambiente. Eu não esperava que o anúncio (das medidas do governo) fosse ter um impacto duradouro. Há um clamor por uma coisa maior, que aborde uma série de questões que dificultam o investimento, o crescimento sustentado do país, que mantenha a inflação sob controle. Os problemas são graves a resposta do governo tem sido pontual — afirmou Arminio, que não soube avaliar se a alíquota de 0,2% da CPMF proposta pela equipe econômica será aprovada pelo Congresso.
Ele observou, entretanto, que a solução da questão fiscal pelo lado do imposto está sendo rejeitada pela grande maioria das pessoas e pela classe política. Para ele, a questão não é apenas “fazer cortes drásticos no orçamento, mas é preciso dar uma resposta mais abrangente”.
‘Ficha não caiu’
O ex-presidente do Banco Central afirmou que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, é um “corpo estranho” dentro do governo e está isolado fazendo o papel que tem que cumprir. Ele acredita que com a paralisia da economia, além da operação Lava-Jato, que pode demorar a ser encerrada, os custos econômicos e sociais para o país podem crescer.
— Não acredito que a ficha tenha caído, aqui dentro do país, de que o quadro é grave. Quando falo com investidores estrangeiros eles me perguntam se chegamos ao fundo do poço. E está ficando claro que o fundo do poço não existe — afirmou.
Em sua palestra, Fraga criticou o governo da presidente Dilma Rousseff afirmando que houve interferência do Estado em áreas onde o Brasil já tinha evoluído para um modelo melhor, citando, entre outros, o setor elétrico que hoje vive “pendurado” por problemas financeiros e torcendo para que venha chuva. Também afirmou que o atual governo perdeu o compromisso com a austeridade, e que a relação dívida/PIB, que hoje se aproxima dos 70% poderá pular rapidamente para 80%, porque nossa dívida é cara.
— Com juros (reais) de 7,5% ao ano não precisa ser PHD para saber que a dívida pode chegar a 80%, 90% do PIB se nada for feito. O quadro da evolução da dívida pública é preocupante. É preciso lembrar que a austeridade não é uma conquista permanente — disse Fraga.
Para ele, até mesmo no setor de infraestrutura, no qual o investimento privado seria óbvio, já que existe demanda, está paralisado.
— Do ponto de vista da economia, é preciso que surja algum tipo de agenda. Hoje, não fazer nada é empurrar o país para o buraco — disse o ex-presidente do BC.
Fonte: O Globo.
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