Caso mantenha a taxa média de crescimento das últimas duas décadas, o Brasil só dobrará seu PIB per capita em 2081, aponta um levantamento da consultoria McKinsey. O estudo “Visão Brasil 2030: Contribuindo para a Transformação do Brasil”, com metas para o país, foi elaborado nas eleições de 2014 como uma espécie de carta de recomendações aos candidatos que concorriam à presidência naquele ano. Este ano, quando o país terá novas eleições, a revisão do trabalho mostrou que ao invés de avançar em diversos indicadores que contribuiriam para dobrar o PIB per capita dos brasileiros até 2030, como era esperado, o Brasil regrediu em vários.
— Estabelecemos, em 2014, metas que o país teria que cumprir para dobrar o PIB per capita de sua população em 16 anos. Entre elas, acelerar a produtividade, reduzir a desigualdade e crescer entre 4% e 5% ao ano. Mas nesta primeira revisão, quatro anos após a conclusão do estudo, o PIB per capita caiu 10%. Se mantiver a taxa média de crescimento das últimas duas décadas, o Brasil levará 63 anos para dobrar seu PIB per capita. É quase uma tragédia — avalia Nicola Calicchio, sócio sênior da consultoria McKinsey.
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Para ele, a queda de 10% do PIB per capita brasileiro, nos últimos quatro anos, é uma ‘enormidade’. Só países em guerra tem uma queda dessa magnitude, diz Calicchio.
Segundo o estudo da McKinsey, o país tem uma taxa de produtividade 48% menor do que a de países como China e México e, se mantiver o mesmo ritmo de produção estagnado desde a década de 90, em dez anos o país será ultrapassado pela Índia, atualmente a última colocada no ranking de produtividade dos emergentes. A consequência dessa baixa produtividade é que o Produto Interno Bruto (PIB) per capita dos brasileiros é 39% menor do que países como a Rússia e o Chile.
Calicchio afirma que uma das principais razões para a baixa produtividade é o pequeno grau de abertura da economia. Ele observa que produtividade tem a ver com inovação, mas o país leva, por exemplo, até quinze anos para aprovar uma patente. Também não se veem nas universidades brasileiras muitos professores estrangeiros, que possam trazer novas ideias. Ele cita ainda que dos 400 acordos de livre comércio existentes no mundo, o Brasil participa de apenas 9, enquanto o Chile participa de 27, tendo acesso a 95% do comércio mundial.
Entre as recomendações dos mais de 150 especialistas de diversas áreas e 50 consultores da McKinsey que participaram da elaboração do estudo, o país deveria melhorar sua posição no ranking de igualdade de desenvolvimento humano da ONU. Passados quatro anos, o país segue entre os dez mais desiguais do mundo. Mais de 80 milhões de brasileiros ganham menos do que o necessário para ter acesso a bens e serviços básicos; o Brasil tem a sétima pior distribuição de renda do mundo e na região Nordeste a renda é 50% que a média dos brasileiros.
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Dos dez objetivos estabelecidos pelo estudo em 2014, o Brasil regrediu em quatro: não promoveu um choque de investimento para um crescimento sustentável; não eliminou barreiras de infraestrutura para aumentar sua competitividade; não reduziu o custo e as dificuldades de se fazer negócios no Brasil e não universalizou o acesso da população a bens e serviços. Nos outros seis objetivos, entre eles, incentivo aos investimentos, contenção dos gastos públicos, reorganização do sistema tributário, aumento da conectividade, formação de talentos e gestão sustentável dos recursos, o país estagnou.
Segundo Luana Tavares, diretora-executiva do Centro de Liderança Pública (CLP), entidade que trabalhou junto a McKinsey na elaboração do estudo, o país regrediu também em indicadores de saúde, como aumento da mortalidade infantil, e não investiu em setores prioritários como a educação na primeira infância.
— Trata-se de um investimento importante. O dado que temos é assustador já que metade das crianças nesta fase da vida é analfabeta funcional – disse Tavares.
Luana lembra que o sistema de saúde pública do país está sobrecarregado e o Brasil voltou a registrar doenças que já estavam erradicadas, como febre amarela e sarampo. Num país com recursos limitados para investimento público, diz a diretora do CLP, é primordial que os governantes façam as escolhas mais adequadas.
— O crescimento dos indicadores de mortalidade infantil é um reflexo dessa falta de prioridades para investir – afirma a diretora do CLP.
Fonte: “O Globo”