De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), em seu último relatório, até o ano 2017, os Estados Unidos vão superar a Arábia Saudita na posição de maior produtor mundial de petróleo e vão se tornar exportadores líquidos de petróleo até 2030. O relatório prevê ainda que os Estados Unidos ultrapassarão a Rússia como o principal produtor mundial de gás natural em 2015.
Essa drástica reversão de tendência é resultado de um conjunto de políticas de eficiência energética e de incentivos para o aumento de produção de petróleo e de gás natural, que somados ao preço alto do petróleo no mercado internacional, acabaram por viabilizar a retomada dos investimentos no mercado americano. Após a descoberta das reservas de xisto, de onde podem ser extraídos petróleo e gás, através da adoção de técnicas como o fraturamento hidráulico e a perfuração horizontal, tornaram essas reservas acessíveis e, no caso do gás natural, resultaram em um extraordinário crescimento da oferta, tendo como consequência uma brutal queda nos preços.
Enquanto isso, no Brasil, assistimos à estagnação da produção de petróleo, desde 2009, apesar das elevadas reservas do pré-sal. Mantidas as atuais tendências de crescimento do consumo doméstico de petróleo e seus derivados, já em 2013 deixaremos de ser autossuficientes.
Os motivos para tendências tão díspares entre o Brasil e os EUA não faltam. O aumento da produção nos EUA, em especial no caso do shale gas, está fundamentado no empreendedorismo de empresas pequenas e médias, que buscaram a produção onshore, que é mais barata e de retorno mais rápido. Por outro lado, no Brasil, todas as fichas estão alocadas na Petrobras, que hoje tem dificuldades de financiamento e disponibilidade de equipamentos e mão de obra e ainda deverá, obrigatoriamente, ser a única operadora de todos os campos do pré-sal. Em paralelo, as empresas privadas brasileiras do setor de E&P estão enfrentando uma série de problemas, que são agravados pela não ocorrência de leilões desde 2008 e por indefinições regulatórias, como a questão da distribuição dos royalties ainda em aberto, impossibilitando a diversificação de seus riscos através da aquisição de novos blocos exploratórios. No Brasil, fez-se a opção por explorar petróleo e gás natural em reservatórios extremamente distantes da costa e em águas ultraprofundas, o que necessita de tecnologia cara e complexa, que exige um grande volume de investimento e um longo tempo entre o início da exploração e a produção em larga escala e para dificultar ainda mais, através de praticamente uma única empresa, a Petrobras.
Os investimentos na área de petróleo e gás natural nos EUA foram viabilizados pela alta dos preços do petróleo no mercado internacional, que são instantaneamente repassados para o mercado doméstico. No Brasil, a política de preço de combustíveis obriga a Petrobras a vender a gasolina e o diesel a um preço abaixo do observado no mercado internacional. Esta política imposta pelo Governo tem vários efeitos perversos sobre o setor. A Petrobras é prejudicada na sua geração de caixa e, com isso, não consegue fazer frente aos investimentos necessários para o crescimento da sua produção. O controle de preços no mercado doméstico impede o investimento privado em refinarias e terminais de importação e incentiva o consumo, ao invés de estimular o uso mais eficiente e a substituição dos combustíveis fosseis pelos renováveis.
Até quando vamos ficar na contramão?
Fonte: O Globo, 19/11/2012
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