O Brasil ficou estagnado no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2012. O país manteve a mesma 85ª posição que havia registrado em 2011, de acordo com dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), de um total de 187 países. O indicador que apura o bem-estar das populações avançou de 0,728 para 0,730, uma alta de 0,27%, o que manteve o Brasil no grupo dos países de desenvolvimento elevado. A escala do IDH varia de 0 a 1. Quanto mais perto de 1, maior é o desenvolvimento humano no local.
Diante das críticas do governo em relação aos dados utilizados para o cálculo do IDH 2012, no entanto, o Pnud decidiu refazer as contas para o Brasil informalmente. Assim, o IDH do Brasil passou para 0,754. O país estaria, então, no mesmo nível do Cazaquistão, com IDH de 0,754, que ocupa a 69ª posição no ranking.
O recálculo foi feito com dados da Pesquisa Nacional Por Amostragem de Domicílios (Pnad) de 2011, enquanto no cálculo oficial do IDH a fonte é o Instituto de Estatísticas da Unesco. Um dos indicadores de educação considerados são os anos esperados de estudo da população. No caso brasileiro, a base para esse cálculo utilizada no IDH de 2012 foi 2005. Além disso, a média de anos de escolaridade utilizada foi a calculada com dados de 2010.
Os anos esperados de escolaridade, por exemplo, subiram de 14,2 anos para 15,7 anos. Já a média de anos de escolaridade saltou de 7,2 anos para 7,4 anos. A expectativa de vida — indicador de saúde para o IDH — subiu de 73,8 anos para 74,1 anos. Já o indicador de renda subiu de US$ 10.152 para US$ 11.547.
Segundo a analista de desenvolvimento do Pnud, Daniela Gomes Pinto, as novas contas para o Brasil não são oficiais e não podem ser usadas para reclassificar os países no ranking do IDH. Ela explicou que isso só poderia ser feito se o Pnud refizesse os cálculos para todos demais países. Ao ser questionada sobre o motivo pelo qual as contas brasileiras foram refeitas informalmente, ela explicou:
— Sabemos o impacto do relatório e do IDH para o Brasil. E também sabemos que alguns países podem ter um retrato diferente com dados mais recentes. Foi apenas um exercício.
Brasil é o 97º mais desigual do mundo
A parada na melhoria dos dados de educação segundo o cálculo oficial — que vinha em ritmo mais forte nos anos 90 e no início da década de 2000 — é um dos principais fatores que seguram o desenvolvimento humano brasileiro. E a situação é ainda mais preocupante quando se olha a desigualdade. Apesar da queda recente, o Brasil ainda é o 97º país mais desigual do mundo, no ranking de IDH que considera a desigualdade.
— O Brasil já esteve em 73º lugar no ranking de IDH, em 2010, e agora está em 85º. A distância do primeiro lugar hoje é maior do que já foi. Estamos atrás de Azerbaijão, São Vicente e Granadinas, e Omã. Efetivamente, a situação no Brasil piorou — afirma o professor da Universidade de Cambridge e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Flávio Comim. — A educação é a imagem mais forte da parada, mas a renda não se mexe muito e a expectativa de vida também não.
A partir da entrada de novos dados, o Pnud recalcula o índice e por isso recomenda não se faça comparações com resultados anteriores.
O índice olha três componentes do desenvolvimento humano: saúde, educação e renda. Na saúde, a expectativa de vida do brasileiro subiu de 73,5 anos em 2011 para 73,8 anos em 2012. O nível é próximo ao da Bulgária, de 73,6 anos. A renda per capita passou de US$ 10.086 para US$ 10.152, na mesma base de comparação. A renda brasileira à próxima da do Cazaquistão (US$ 10.451) e Montenegro (US$ 10.471).
Já a educação ficou parada. Pelos dados do Pnud, o brasileiro tinha 7,2 anos de escolaridade em 2012, mesmo número de 2010 e 2011. O nível é próximo ao de países como Portugal (7,7 anos), Ilhas Maurício (7,2 anos) Já a expectativa de anos de escolaridade também está mantida em 14,2 anos desde 2005.
Ministério da Educação contestara dados
Antes de saber do recálculo informal, o Ministério da Educação tinha contestado os dados, alegando que são defasados e apresentam “graves distorções”. “No caso do Brasil, os dados de educação são do ano de 2005 e de fontes não reconhecidas pelas agências estatísticas nacionais. Para alguns países, os dados utilizados no cálculo são atualizados para o ano de 2010”, dizia a nota do ministério.
A família da dona de casa e moradora da comunidade do Coque, na Ilha de Joana Bezerra, na área central do Recife (PE), Elisa Andréa Gomes, de 28 anos, é uma das que reflete parte da realidade brasileira. A principal renda da família vem do Bolsa Família e Bolsa Escola, mas o marido trabalha como pedreiro, sem salário fixo.
Com quatro filhos, Elisa tem um cardápio restrito na casa: feijão, arroz, farinha e leite para as crianças.
Fonte: O Globo
CORREÇÃO: O Brazil não manteve a posição, mas PERDEU uma posição, já que no ranking de 2011 era o 84º e agora no ranking de 2012 passou para o 85º lugar.