Em uma das ações para aumentar a competitividade das empresas brasileiras, a nova equipe da Economia pretende ampliar o programa Brasil Mais Produtivo, que ajuda pequenas e médias empresas a aumentarem a produção com ações simples, como mudanças de rotinas produtivas e redução de desperdícios.
Segundo apurou o “Estadão/Broadcast”, a meta é que o programa passe a atender a 7 mil empresas neste ano e 15 mil por ano a partir de 2020. Entre 2016, quando foi lançado, e o ano passado, o Brasil Mais Produtivo atendeu apenas 3 mil empresas, com um orçamento de R$ 50 milhões, mas alcançou um resultado que chamou a atenção do novo governo: as empresas aumentaram em média a produtividade em 52%, ante uma meta de 20% estabelecida.
Foi o custo baixo e o retorno considerado significativo do programa, criado ainda no governo Dilma Rousseff, que agradou a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes. Ainda na transição, o secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, disse que manteria o programa e estudaria a viabilidade de ampliá-lo.
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A avaliação é que se esse aumento médio na produção for replicado para um universo maior, terá impacto positivo na economia. Os técnicos acreditam que, ao levar a um ganho de eficiência, o programa pode ajudar a resolver problemas de competitividade das empresas “do muro para dentro”, junto com a maior abertura para compra de máquinas e equipamentos e qualificação de mão de obra, políticas que, segundo fontes da área econômica, serão adotadas concomitantemente a outras que ajudarão “da porta para fora”, como a reforma tributária, por exemplo.
Ajustes
Para a nova etapa, foram feitos ajustes no modelo de intervenção, em que um consultor ligado ao Sistema S passa cerca de 180 horas dentro da empresa fazendo um diagnóstico, sugerindo e implementando mudanças para aumentar a produtividade. O número de horas do consultor em cada empresa deve cair para 120, o que foi considerado suficiente na avaliação do programa. Com isso, o custo por intervenção deve ser reduzido de R$ 18 mil para R$ 12 mil, o que levaria o orçamento total do programa para cerca de R$ 84 milhões neste ano.
Neste momento, técnicos do novo governo buscam parceiros como a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para garantir a expansão. O programa recebeu recursos também do Sistema S e, no desenho inicial, cada empresa bancava cerca de R$ 3 mil da intervenção.
Sem previsão orçamentária para custear o programa neste ano, a nova equipe está montando um modelo para financiar a expansão que considera várias alternativas, desde criar um fundo ligado às associações, até aumentar a parte das próprias empresas na divisão dos custos.
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Soluções
“São soluções simples, mas de alto impacto e que ninguém tinha pensado antes”, afirma Philipe Lima, administrador da Camisaria Nyll, fábrica de moda masculina do Distrito Federal. Com cerca de 40 empregados, a empresa, fundada há mais de 30 anos, tinha uma produção “bem arranjada”, mas que precisava ser lapidada e, por isso, aderiu ao programa Brasil Mais Produtivo.
Depois de um diagnóstico, foi feito uma mudança no layout da fábrica e ajustes no processo. A produção mudou: se antes era linear, com máquinas e funcionários organizados por etapa – molde, corte, costura, acabamento – após a consultoria, foram montadas células. Cada equipe faz a produção completa de gola, punho, manga e outras são responsáveis pelos acabamentos.
“Mudamos costureiras e máquinas de lugar e enxugamos a linha de produção, Os funcionários andavam demais dentro da fábrica. Até os passos das costureiras chegaram a ser contados para otimizar o processo produtivo”, lembra Lima. O resultado já foi contabilizado: a produtividade aumentou 37%, com a capacidade de fabricação passando de 320 camisas para 440 peças diariamente.
O Brasil Mais Produtivo atende a empresas de até 200 funcionários, inicialmente de quatro áreas: metal mecânico, móveis, alimentos e bebidas e têxteis e vestuários, mas seu alcance também deverá ser expandido. O programa é baseado no conceito de manufatura enxuta e prevê, por exemplo, a mudança de lugar de insumos e equipamentos e a diminuição da movimentação de trabalhadores na planta produtiva, ações simples, mas que geram ganhos de eficiência.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”