Uma pesquisa recente, realizada pela rede britânica “BBC” em 18 países, mostrou que oito em cada dez pessoas estão preocupadas sobre o que é mentira e o que é real na internet. O levantamento apontou ainda que os brasileiros são a população mais receosa quando o assunto é fake news. Embora exista tamanha conscientização de que nem tudo é verdade no ambiente digital, ainda há uma dificuldade em perceber que a fonte desses boatos não é oriunda de indivíduos isolados, mas de uma ação política organizada. É o que diz o sociólogo Demétrio Magnoli. Ouça a entrevista!
Segundo Demétrio, embora exista a ação isolada de indivíduos, eles agem como replicadores de mensagens, cuja origem é desconhecida. Em contrapartida, a difusão das fake news se torna uma ferramenta de partidos e movimentos políticos em geral, que utilizam tecnologias e softwares para definir público e alvos, replicam informações nas mais diversas plataformas e compram espaços e canais por onde o material é difundido.
No cenário internacional, a propagação de notícias falsas teve impacto em momentos importantes de diversos países, como nas eleições dos Estados Unidos e da França, no Brexit, quando o Reino Unido deixou a União Europeia, e, recentemente, na tentativa da independência da Catalunha, quando agências russas atuaram intensamente a favor do separatismo catalão.
“Hoje, em todos os processos eleitorais, atores nacionais operam intensamente distribuindo correntes de fake news favoráveis a um ou outro candidato. Os casos ocorridos em outros países podem nos ensinar que aquilo que assistimos nas eleições de 2014 e com menos intensidade em 2010, quando já houve guerrilha de informação na internet, vai se multiplicar em 2018”, acredita Demétrio.
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Para o sociólogo, a atuação da imprensa brasileira no esclarecimento da população ainda é muito “incipiente e amadora”. Seria preciso que os jornais tradicionais, que ainda são vistos como fontes de informação mais confiáveis do que sites e redes sociais, realizassem um trabalho de análise do discurso para identificar os temas das fake news, as mensagens principais e, a partir daí, quais são as mentiras específicas que estão sendo difundidas nas redes. Um exemplo deste tipo de atuação vem da própria Espanha, quando jornais locais atuaram organizadamente para combater as correntes de notícias falsas durante a crise na Catalunha.
A guerra às notícias falsas tem ganhado cada vez mais destaque nos debates. Sobre a premissa de impedir o “discurso de ódio” nas redes, senadores chegaram a votar um projeto polêmico que poderia censurar a internet. Após pressão popular, o texto foi vetado pela presidência. De acordo com Demétrio, é preciso ir com cuidado nesse terreno para que se tenha legislações que não firam a liberdade de difusão de informação, mas que atuem para que as empresas digitais, por razões de negócios, não funcionem como braços de agências de inteligência que espalham inverdades.
“Existe uma tentativa hoje de atribuir responsabilidades às grandes empresas de internet, como Google, Facebook e Twitter. É preciso fazer isso, pois elas não só difundem informações que vem de terceiros, como atribuem prioridades que decorrem de pagamento. Ou seja, se você pagar bem, consegue destaque nas plataformas. A censura não serve em caso nenhum. A resposta é mais liberdade e atribuição de responsabilidade”, finaliza.
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