O Brasil ficou em 51º lugar no ranking Competitividade Digital 2021, realizado pelo IMD (International Institute for Management Development) em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC). O país repete assim a colocação do ano passado. Mas há avanços importantes em áreas como capacitação e concentração científica, em função dos importantes polos de pesquisa criados pelas universidades.
A percepção de que o treinamento dos funcionários é uma das prioridades das empresas (passou da 59ª para 43ª posição no ranking) foi um dos destaques.
“É fundamental que as empresas entendam seu papel no treinamento dos funcionários, então esse é um dado positivo, avançamos muito nessa posição”, observa o professor de Inovação e Competitividade da FDC, Carlos Arruda.
Por outro lado, ainda há um enorme potencial humano que não recebe preparação adequada, observa o especialista. No sub-fator Talento, por exemplo, o Brasil ocupa a 63ª posição em um total de 64 países. “Embora haja uma predisposição para treinar as pessoas, não estamos preparando todo esse potencial humano para tirar vantagem da tecnologia digital na velocidade necessária”, observa Arruda.
Os dados revelam uma fragilidade do país: a falta de investimentos em educação digital de base para que futuros profissionais possam aprender habilidades relacionadas à inovação e ao uso da tecnologia. Somada a isso, a falta de infraestrutura para disponibilizar o acesso democrático à internet também preocupa o pesquisador.
“Nas cidades menores, no interior ou nas periferias dos centros urbanos, a internet não é compatível com as demandas. Como eu posso ter soluções tecnológicas para a educação, para a medicina ou para o cidadão, se a infraestrutura não é compatível? Nós precisamos melhorar o acesso à internet de forma mais harmoniosa e igualitária, do contrário vamos gerar gaps. Vamos ter gente qualificada para explorar a tecnologia, mas um universo muito grande de pessoas sem acesso”, analisa.
Pesquisadoras em destaque
O Brasil continuou se sobressaindo em alguns pontos fortes, como a proporção de pesquisadores do sexo feminino, que é de 49% – o país obteve o 8º lugar nesse quesito. Este é um dos itens analisados para avaliar a concentração científica, além dos polos de pesquisas – em sua maioria universidades públicas, reconhecidas mundialmente por sua produção. A produtividade de P&D (medida pelo volume de publicações em proporção ao Produto Interno Bruto) também conseguiu a oitava colocação.
Para o Brasil, as principais perdas no ranking se concentraram na quantidade de assinantes de banda larga (que caíram de 89,2% da população para 75,7%); no total de gastos em P&D em relação ao PIB (da 31ª para a 35ª posição) e também na proporção da população usuária de internet (que passou da 46ª para a 53ª posição).
Segurança digital
Outro ponto levantado pela pesquisa é a segurança digital. Nesse quesito, o Brasil aparece em 58º lugar no ranking, com uma nota de 4,27. O primeiro colocado foi Israel, com nota 7,92. Para Arruda, houve avanços no país do ponto de vista regulatório, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e o marco regulatório das startups. No entanto, é preciso que as empresas tomem providências urgentes para melhorar a cibersegurança.
“Vários estudos indicam que a resposta das empresas no Brasil está muito lenta [em relação à segurança digital]. O ponto frágil da cybersegurança são as pessoas, não são os sistemas. É preciso treinar os funcionários para não clicar em um link que possa ser arriscado. Precisamos avançar nos mecanismos de educação, para sermos mais zelosos com as informações”, explica Arruda, que lança hoje o e-book O desafio da confiança e da segurança, dentro da série Economia Digital, produzida pela FDC.
EUA seguem no topo
Os Estados Unidos permaneceram no topo do ranking de competitividade digital, com bons resultados principalmente em Prontidão Futura (1º) e Conhecimento (3º). Hong Kong assumiu a segunda colocação, subindo 3 posições em relação ao ano passado. Suécia e Dinamarca completaram os 4 primeiros lugares, nessa ordem. Singapura, que nas edições anteriores foi a vice-líder, ficou com a quinta posição após queda em Conhecimento e Tecnologia.
Para chegar aos resultados, o ranking compara 64 nações em fatores associados às condições para adotar, criar e promover tecnologias digitais nos setores público e privado. São três os pontos principais: Conhecimento, Tecnologia e Prontidão Futura. Eles são divididos em outros sub-fatores, como avaliação educacional, treinamento de funcionários, agilidade das empresas nas respostas aos desafios do mercado, investimento em P&D e segurança digital.
Fonte: Época Negócios (29/09/21)
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