Para quem o Brasil é sagrado e por quem ele sangra?
É sagrado para quem recebe dele sem trabalhar. Para quem, supostamente, presta-lhe serviços, mas dele tira apenas vantagens. Para quem é seu fornecedor, de comprador irresponsável e sócio nas comissões combinadas. Para quem, com menos de cinquenta anos, já está aposentado. Para quem tem um emprego de fachada e está, sempre, à disposição para nunca trabalhar. Para quem viaja de primeira classe, (por conta da “sogra”) embora seja de terceira. Para quem, em nome do povo, faz promessas impossíveis e enganadoras.
Para quem, embora se diga empresário, vive das benesses dos “esses” sem controles. Para quem consegue contratos generosos, com prazos imorais e dados forjados, firmados por quem, durante o curto mandato, fazem o malfadado “pé de meia” . Para quem vende e não entrega. Ou entrega o que não vendeu. Para quem, se dizendo patriota, vive de benefícios e bicos.
João Luiz Mauad: Quer diminuir as desigualdades?
É sagrado para quem, não julgado pela demora da justiça, desfila garboso e feliz.
Sangra para quem? Para os desajustados. Para os que não foram, de propósito, educados, a fim de se tornarem presas fáceis e levadas por quem os quer, na verdade, destruir. Para os que não tem escolas, hospitais, estradas e justiça. Para os que não tem futuro. Nem passado. Para quem não frequentou a escola, nem um dia apenas, e se deixou reproduzir, como se vontade de Deus fosse, para formar, de 1970 (noventa milhões em ação, pra frente Brasil…) para hoje, uma outra nação de mais 200 milhões.
À serviço de quem está esta imensa quantidade de brasileiros que não sabe ler ou, pior, não entende o que lê? Exatamente para aqueles que não criaram as condições normais
para seu desenvolvimento pessoal.
Reforma pífia, por Marcio Coimbra
É sagrado, entretanto, para quem, no conforto de seus “dinheiros”, arrecadados, às vezes, nas sombras e nas trevas da impunidade riem, (embora “perdoados” pelos saraus beneficentes) com facilidade, do sofrer eterno dos miseráveis, iludidos, todas as noites, pelos sonhos das novelas das oito ou pelos pratos inacessíveis dos cozinheiros reluzentes, de paladares coloridos, diversos e inatingíveis.
Sangra por ser um país ultrapassado por outros que investiram na educação de seu povo, geradora de saúde, produtora de conhecimento, exigente com o comportamento pessoal e que dignifica das pessoas. Sangra pela falta de Mães que, saindo muito cedo de casa, na busca do sustento diário, deixam seus filhos nas mãos do destino atroz e quando voltam, exaustas, mal tem tempo para lavar as roupas, preparar a comida do outro dia e chorar as lágrimas sofridas do dia a dia.
Sangra por não produzir inovação e por continuar a exportar “café”, agora na forma de minérios, carnes e soja, para um mundo ávido para comprar mais aviões, carros, bicicletas, fogões, chuveiros, qualquer coisa, que valesse a pena competir e ganhar. Que deixasse de importar até vassouras. Sangra por não melhorar a produtividade, por não competir no mercado internacional, onde continua patinando abaixo de dois por cento do total mundial.
Inexpressivo por não participar, efetivamente, deste imenso negócio, pois não inclui nos seus produtos, as peças importadas, tão necessárias para a disputa da dura competição. Em nome, imaginem, da “proteção” aos supostos “produtores” nacionais, acobertados e
protegidos da incompetência pela tal lei da defesa dos “componentes nacionais”.
Sangra para os jovens que sonham em nos deixar para tentar uma vida melhor, com mais perspectiva, em qualquer canto, desde que não seja aqui. Sangra para os que perderam a esperança de um futuro melhor. Sangra para as mães e pais que veem seus filhos submetidos a uma insegurança absoluta e à uma escola fechada por greve ou medo.
Sangra para os que precisam de Justiça, rápida e universal, privilégio de poucos. Se brancos e ricos. É sagrado para os que tem padrinhos, para os que não precisam melhorar para crescer, bastando esperar os tempos generosos das promoções. Sangra por trocar a esperança pelo medo. A honestidade pelo desvario da corrupção. O futuro pelo desalento.
Ao Brasil só resta um destino. A salvação pela educação ou o desespero dos perdedores.
Fonte: “ACRJ”, 09/10/2017
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