O Brasil teve o maior número de mortes de jornalistas nas Américas, segundo relatório da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) em 2013. Com cinco profissionais mortos, o país ultrapassou o México, uma das nações mais hostis para o exercício do jornalismo. Além do Brasil, apenas o Iraque registrou a morte de um jornalista neste ano.
Sandro Vaia, jornalista e especialista do Instituto Millenium, afirma que o posicionamento do atual governo em relação ao papel da imprensa contribui para o aumento da hostilidade contra os profissionais da área. “O partido político que está no poder tem alimentado um discurso contra a imprensa livre, defendendo o controle social da mídia. Isso facilita com que as pessoas cometam atentados contra a imprensa e continuem impunes”, afirma.
Nos dois primeiros meses de 2014, três representantes da mídia brasileira foram mortos: o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, o proprietário do jornal Panorama Regional, Pedro Palma, e o cinegrafista da TV Cabo Mossoró, José Lacerda da Silva.
A RSF alerta ainda para o aumento dos casos de agressões contra os profissionais de imprensa desde o início das manifestações de junho de 2013. Ao todo, 114 jornalistas foram agredidos em protestos. Mais de dois terços dos ataques são atribuídos às forcas policiais, de acordo com a ONG.
Violência nas manifestações
Guilherme Fiuza, jornalista e escritor, ressalta que a Argentina e a Venezuela apresentam situação mais complicada que o Brasil em relação ao trabalho da imprensa, mas acha que o quadro brasileiro também chama a atenção. “Há uma difusão de reações contra a imprensa que é muito preocupante”, alerta. Para Vaia, os ataques se devem à crença de que a imprensa é contra os movimentos sociais. “Como a mídia corporativa é vista como um inimigo a ser derrubado, os seus representantes acabam sendo vitimizados”, explica.
Ambos os jornalistas cobram uma atuação mais eficaz do poder público para inibir atos ilícitos nas manifestações, como o que vitimou o cinegrafista da TV Bandeirantes. “Cabe ao poder público exercer a sua autoridade de guardião da ordem. Ele parece ter se demitido dessa responsabilidade”, critica Fiuza.
Vaia acredita que o projeto de lei que tipifica o crime de desordem em locais públicos, proposto pelo secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, é uma solução possível. Contra os crimes cometidos no interior do país, ele aposta na maior profissionalização das relações entre o poder público e a imprensa. “Nas cidades do interior o poder da imprensa é bastante relativo, os pequenos jornais estão sob o controle do poder público, que os financia. Quando há rupturas nesse sistema, a violência se manifesta e não existem garantias aos jornais de oposição. Cabe à Justiça punir esse tipo de crime”, conclui.
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