Nos últimos dez anos, o mercado mundial de gás natural passou por importantes mudanças, sendo a principal, o desenvolvimento da produção de gás não convencional nos EUA. Essa revolução aumentou a oferta, o que tornaria o país exportador e levou lá a uma redução do preço, de US$ 11/MMBTU em 2008, para algo em torno de US$ 4/MMBTU em 2013, atraindo empresas de petroquímica, fertilizantes e siderúrgicas. Tamanho desenvolvimento está associado ao fato de o planejamento do setor ter sido elevado à categoria de política de Estado, ainda no primeiro mandato do presidente Obama.
No Brasil, o caminho tem se mostrado bem diferente. A produção encontra-se quase estagnada, as importações cresceram e a elevação dos preços do gás natural em taxas superiores aos demais energéticos é mais um ingrediente para a perda de competitividade da indústria. Enquanto nos EUA a média de poços perfurados para o desenvolvimento de produção entre 2000 e 2010 foi de 32,8 mil/ano, no Brasil foram furados, em média, apenas 261/ano.
No Brasil existe o mito de que a atividade de exploração de petróleo e gás é exclusividade de grandes empresas. Este mito vem do fato de a Petrobras ser o modelo nacional de empresa do setor. A experiência americana e canadense se mostra diferente. Empresas de médio porte são extremamente ativas na exploração em terra, que tem custos menores e tecnologia mais simples e barata.
Tal estrutura de mercado permitiu o boom do gás de xisto. O salto na produção de gás natural e a retomada da autossuficiência energética americana vieram da média empresa de prospecção de óleo e gás. A produção de gás natural cresceu 30% em cinco anos, gerando dois milhões de empregos. As novas descobertas geraram uma reserva de gás natural de cem anos.
Estima-se que a indústria do gás não convencional contribuirá com US$ 118 bilhões para o PIB americano em 2015. Em 2020, o PIB americano será de 2 a 3 pontos percentuais maior, devido ao impacto cumulativo da nova produção de gás e petróleo.
Enquanto os EUA se beneficiam da “revolução” do gás natural, no Brasil a exploração em terra nunca deslanchou. O setor viveu 45 anos de monopólio da Petrobras e apenas 15 anos de abertura, sendo que cinco deles sem leilões no governo do PT. Além disso, criou-se o mito de que não temos petróleo e gás em terra. Não temos petróleo e gás em terra porque falta uma grande campanha de exploração em terra, como ocorreu no caso do mar.
O gás natural em terra pode ter contribuição decisiva para a expansão da oferta de gás natural e para o crescimento econômico no Brasil, como tem ocorrido nos Estados Unidos. Pelo lado da oferta, é preciso pensar uma politica para o gás do pré-sal e que sejam definidas políticas de Estado que garantam a realização de leilões anuais e uma regulação específica para a exploração em terra por médias empresas, reduzindo royalties e criando incentivos fiscais e de financiamento. Pelo lado da demanda, políticas públicas, como o fim do PIS/Cofins, que incentivem o consumo de gás na cogeração, nas indústrias e nos automóveis.
Fonte: O Globo, 22/6/2014
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