O Brasil tem um objetivo ambicioso na sua relação com os Estados Unidos, afirmou nesta terça-feira o secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, ressaltando que o país quer avançar tanto em acordo envolvendo tarifas como em temas não tarifários.
Após o encontro que será realizado nesta quarta-feira entre autoridades do governo Jair Bolsonaro e o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, em Brasília, a equipe econômica quer estabelecer marcos temporais para o que será possível fazer nos próximos seis meses em áreas como infraestrutura, investimento e facilitação de negócios, disse Troyjo, em entrevista à Reuters.
“Acho que vai sair dessas conversas um cronograma conjunto para examinar essas coisas todas”, disse.
“Principal interesse do Brasil é a expansão e melhoria do seu intercâmbio econômico e comercial com os EUA. São as duas maiores democracias do Ocidente, mas têm comércio bilateral muito aquém do seu potencial.”
Mais cedo, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que sua administração vai buscar um acordo de livre comércio com o Brasil.
“O Brasil é um grande parceiro comercial. Eles nos cobram um monte de tarifas, mas, fora isso, nós amamos o relacionamento”, disse Trump a repórteres nesta terça, quando também elogiou Bolsonaro.
O secretário lembrou que, pelo fato de o país integrar o Mercosul –uma união aduaneira–, uma discussão sobre acordo comercial envolvendo tarifas tem que ser feita entre o bloco e os EUA.
Mas ele chamou a atenção para a “conexão e coincidência de propósitos” hoje existente entre Bolsonaro, Trump e o presidente da Argentina, Mauricio Macri.
“Essas boas relações entre o presidente Bolsonaro e o presidente Macri foram fundamentais pra gente concluir o acordo com a União Europeia”, disse ele, a respeito do acordo de livre comércio que foi fechado pelo Mercosul no fim de junho após negociações iniciadas há 20 anos.
“Os três presidentes –Bolsonaro, Macri e Trump– querem também melhorar as relações econômicas e comerciais entre o Mercosul e os Estados Unidos. Então a gente tem essa conjuntura que é muito favorável”, completou.
Colaborando para o que vê como janela de oportunidade, Troyjo destacou a vigência de uma espécie de aval conferido pelo Congresso norte-americano à Casa Branca para que o presidente dos EUA possa negociar acordos comerciais envolvendo tarifas que não sejam bilaterais. A chamada Trade Promotion Authority (TPA) vai até junho de 2021.
“O bacana de você ter um objetivo ambicioso é que seu objetivo é tão maior que você consegue resolver (no caminho) questões supostamente mais específicas”, frisou Troyjo.
“Vistos para homens de negócios, acordos de bitributação, comércio eletrõnico, comércio de bens digitais — tudo isso você consegue avançar mais se você tem esse objetivo maior adiante”, finalizou ele, a respeito dos temas que estão no radar do governo.
Pendências comerciais
Em fevereiro, antes da visita de Bolsonaro aos EUA, a administração Trump pediu ao Brasil a suspensão de uma tarifa de 20% aplicada às importações de etanol que superem 150 milhões de litros por trimestre.
Em contrapartida, a indústria de açúcar brasileira pediu a liberação de tarifas de importação estipuladas por Washington. O Brasil conta apenas com uma pequena cota de açúcar para exportação aos EUA com taxa mais baixa.
Em meio a irregularidades no setor frigorífico brasileiro identificadas pelos norte-americanos, os EUA suspenderam as importações de carne in natura do país, em 2017.
Na viagem do presidente Bolsonaro a Washington, em março, havia a expectativa de que as exportações de carne in natura do Brasil para os EUA pudessem ser retomadas, o que acabou não acontecendo.
Em meio às negociações, um acordo entre EUA e Brasil foi firmado para o estabelecimento de uma cota sem tarifa de importação de trigo produzido fora do Mercosul, algo que ainda não foi regulamentado.
Fonte: “Época Negócios”, 30/07/2019