Os protestos de rua de junho de 2013 ainda ecoam, neste novo ano, nas mentes dos brasileiros. Descontada a minoria de bagunceiros que, infelizmente, sempre aparece, as grandes massas de pessoas que protestaram pacificamente foram às ruas pela primeira vez em suas vidas. Grande parte dos manifestantes foi de jovens exibindo cartazes e expressando suas insatisfações, nas ruas e no Facebook, com o descaso das autoridades em relação ao dinheiro público – incluindo aí tanto o dinheiro roubado como o mal aplicado.
Foram às ruas jovens que, hoje, têm cerca de 20 anos de idade mas que, já aos 11, ouviram falar no escândalo do Mensalão pela primeira vez. Jovens que viram somente agora, quase metade de suas vidas vividas até aqui depois, que, ainda que um tanto tarde, a falha Justiça brasileira finalmente chegou aos mensaleiros. Apesar da boa notícia, a justiça chegou com direito a inúmeras regalias, tanto as previstas em lei – como o cumprimento de parte das penas fora da prisão – quanto as regalias frutos do “jeitinho” – como o furo dado na fila aos familiares e amigos dos políticos presos na Papuda, em Brasília.
Jovens de cerca de 20 anos que viram o Brasil ser escolhido o país da Copa e construir estádios faraônicos enquanto falta estrutura e boa remuneração para os professores em suas escolas; enquanto espera-se meses nas filas de atendimento do SUS; enquanto eles próprios, jovens, são assaltados não apenas nas saídas das festas à noite mas, também, ameaçados por bandidos nas ruas em plena luz do dia. O Brasil “país sem pobreza” vendido pelos bilhões gastos em publicidade pelo Governo Federal e suas estatais é para esses jovens, ironicamente, um país que lhes dá poucas possibilidades de produzir riquezas: educação deficiente, impostos escorchantes, corrupção, burocracia avassaladora, leis atrasadas e muita insegurança. Apesar de suas muitas riquezas, o Brasil vai se tornando um pobre de um país para a sua juventude.
As eleições deste ano poderão ser um ponto de inflexão importante. A classe política brasileira já está se preocupando em encontrar novos discursos para dirigir-se a este novo eleitorado. No entanto, sem reformar profundamente nossas instituições, reduzindo o tamanho do Estado onde ele é desnecessário e dando mais segurança e liberdade ao indivíduo, infelizmente é improvável que novos discursos gerem também novas práticas políticas. E, enquanto novas práticas políticas não são adotadas, o novo momento político nacional que se iniciou para muitos jovens em junho do ano passado permanecerá em estado latente até eclodir em novas manifestações.
No Comment! Be the first one.