A enorme complexidade das negociações internacionais sobre o programa nuclear iraniano não impediu que fossem anunciadas na quinta-feira passada as bases de um acordo definitivo. É um feito, já que, nos últimos 12 anos, houve diversas tentativas malogradas.
Para os Estados Unidos e seus parceiros, o objetivo principal era convencer o Irã a aceitar limitações profundas em seu programa nuclear. Conseguiram. O Irã fez concessões que, se implementadas, vão inviabilizar, ou pelo menos retardar muito, a busca da capacidade de fazer uma arma nuclear. Segundo o acordo provisório de Lausanne, o país poderá continuar a enriquecer urânio em menores quantidades, mas será obrigado a abrir mão da maior parte do atual estoque de material físsil e a reduzir sua capacidade produtiva, fechando ou limitando o escopo de suas instalações atômicas. Tudo isso sob intensa verificação da Agência de Energia Nuclear, de Viena. Neste sentido, os Estados Unidos e seus aliados do Conselho de Segurança e a Alemanha obtiveram um resultado muito importante.
Para o Irã, o objetivo principal é o levantamento progressivo das sanções drásticas que lhe foram impostas ao longo dos anos e que constituem um sério fator de estrangulamento da economia iraniana. Não está claro até que ponto ocorrerá o levantamento completo. Portanto, o Irã teve menos vantagens até aqui.
Por mais paradoxal que pareça, a despeito do resultado positivo em assunto tão sensível, o Congresso americano dá sinais de que não vai aprovar o acordo de Lausanne. Após o discurso do premier israelense Netanyahu ao Congresso americano, com o patrocínio dos republicanos, ficou caracterizada a enorme força política de Israel e demonstrado que, para ser aprovado, o acordo terá que superar uma forte barreira. Com isso, os Estados Unidos perdem força na fase final da negociação, porque fica claro que sua voz se acha dividida.
[su_quote]Estão, de todo modo, lançadas as bases para um acordo definitivo, que será muito importante em termos de não-proliferação nuclear e de equilíbrio regional no Oriente Médio[/su_quote]
Quanto ao Irã, antes de mais nada, é preciso esperar a palavra do líder supremo, aiatolá Khamenei, e a reação dos maiores opositores a um entendimento. Será o levantamento das sanções um objetivo tão fundamental que justifique a abdicação de partes importantes do programa nuclear? Certamente, uma parte considerável do núcleo central do poder iraniano não pensa assim e vai fazer forte objeção ao acordo de Lausanne.
Outro elemento muito importante será a tradução dos parâmetros já anunciados em um texto detalhado, o que não será tarefa fácil porque, como se sabe, o diabo mora nos detalhes. O Irã vai tentar debilitar as diretrizes sobre a mesa e seus contendores vão procurar reforçar a verificação dos compromissos e amarrar os dispositivos de Lausanne.
Estão, de todo modo, lançadas as bases para um acordo definitivo, que será muito importante em termos de não-proliferação nuclear e de equilíbrio regional no Oriente Médio. Resta ainda um caminho difícil. Embora o acordo seja claramente melhor para os Estados Unidos e seus parceiros, superar a tenaz resistência da maioria republicana do Congresso e de Israel vai exigir de Obama uma imensa capacidade política. No momento, é incerto que Obama, em fase descendente, possa ter êxito. Por tudo isso, pode-se dizer que o acordo definitivo, previsto para junho próximo, está longe de ser uma certeza.
Fonte: O Globo, 7/4/2015
No Comment! Be the first one.