O Brasil e a China são emergentes antípodas. O Brasil fez primeiro sua abertura política, estando ainda em transição inacabada para sua abertura econômica. Já a China completou sua integração competitiva à economia mundial, enquanto prossegue lentamente em seu quase imperceptível processo de abertura política.
A taxa de poupança da China é extraordinariamente alta. Permite o financiamento de maciços investimentos públicos em infraestrutura. Permite também a geração de um excesso de oferta que transborda para os mercados globais por meio das exportações. A contenção do consumo interno possibilita que a produção local se direcione à fabricação de máquinas, equipamentos, bens de capital, instalações industriais, bem como a construção de aeroportos, ferrovias, portos, rodovias, usinas hidrelétricas, linhas de transmissão e redes de distribuição de energia.
Já o Brasil parece movido a consumo corrente, gastos públicos com pessoal e transferências de renda. Por isso somos prisioneiros da armadilha social-democrata do baixo crescimento. O boom de consumo empurrado à base de crédito e de bolsas governamentais estimula expansões cíclicas de fôlego curto, mas não o crescimento econômico a longo prazo. Os investimentos privados estiveram contidos por duas décadas de juros excessivamente elevados, baixas expectativas de crescimento e marcos regulatórios inadequados. E, mesmo nos orçamentos públicos, as despesas com os juros sobre a dívida, com os salários e aposentadorias do funcionalismo e com subsídios e transferências de renda acabaram comprimindo a níveis irrisórios os investimentos governamentais em infraestrutura.
A grande crise contemporânea exigirá ajustes importantes no Brasil e na China. Curiosamente, o que há de excesso em um país é o que falta no outro. A China tem de ampliar seu consumo interno para compensar os efeitos da desaceleração econômica global sobre suas exportações e sua engrenagem de geração de empregos lubrificada pelos fluxos do comércio internacional. E o Brasil tem de expandir seus investimentos em educação, infraestrutura e logística para transformar uma expansão cíclica à base de crédito ao consumidor e transferências de renda em crescimento econômico sustentável.
Fonte: O Globo, 05/11/2012
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