A natural politização das discussões no processo eleitoral abrange a atuação política de diversos segmentos da sociedade, mas há certa dificuldade em entender seu papel socioeconômico.
É comum e saudável que cidadãos, independentemente do setor, se engajem no processo político. Isso, porém, não pode ser confundido com seu papel como profissional e agente econômico.
O médico pode ter sua opinião política, mas, no exercício da profissão, deve ter foco exclusivo na prática da medicina e na saúde do paciente. O mesmo deve valer para todas as profissões.
O jornalista também pode ter suas posições políticas, mas isso não elimina sua função profissional básica de bem informar, o que costuma gerar problemas de relacionamento com políticos de todos os matizes.
Outra área de atuação objeto frequente desse mal entendido é o setor empresarial. É normal que políticos queiram ver motivações políticas em decisões empresariais. Aqui também é importante ficar claro que a função do empresário é produzir mais, ao menor custo e com a melhor qualidade possível – sejam produtos industriais, agrícolas, financeiros ou serviços em geral. E quanto mais competitivo o mercado, menor o preço.
O foco principal do empresário deve ser a lucratividade de seu negócio dentro das leis vigentes. A empresa que tem prejuízo não sobrevive, não cresce e não cumpre seu papel na sociedade. A empresa lucrativa investe, gera emprego, eleva a produção nacional, cria riqueza, paga impostos e permite ao governo aumentar investimentos e programas sociais.
É essencial compreender essa dinâmica para evitar a visão errada sobre o papel de cada setor, inclusive o empresarial. Não cabe ao empresário tomar decisões políticas ao decidir investimentos – de longo prazo, no aumento da produção, ou de curto prazo, na Bolsa de Valores ou nos mercados futuros.
O empresário está preocupado não só com o retorno dos investimentos, mas com a previsibilidade econômica. O que gera muito mal entendido é que as políticas econômicas adotadas no país influenciam essa previsibilidade, as vendas e os resultados futuros. Por isso, na visão de cada empresário, é legítimo que ele avalie o retorno previsto de seus negócios e investimentos dentro do cenário eleitoral.
Sua ação empresarial, no entanto, deve se dar essencialmente no bom exercício de sua função profissional – como fazem os bons profissionais de todas as áreas.
Há grande preocupação dos candidatos com a melhora do diálogo com os empresários e os mercados.
Entender melhor o papel de cada um tornará esse diálogo mais produtivo ao país.
Fonte: Folha de S. Paulo, 5/10/2014
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