A incapacidade do Executivo em seus esforços de articulação parlamentar tem dificultado o enfrentamento da crise econômica. E a rápida deterioração da economia resulta por sua vez no crescente isolamento político de Dilma Rousseff. Instalou-se perversa mecânica de realimentação entre o agravamento da recessão e a impopularidade da presidente. Uma vez deflagrado, esse corrosivo mecanismo deve continuar orientando a opinião pública antes mesmo das próximas eleições.
Agora não se trata mais de “fulanização” da crise com o Legislativo ou de “apoio condicional à blindagem” na crise com o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal. Importa menos saber se Mercadante teria sabotado as campanhas de Cunha e Renan às presidências da Câmara e do Senado. Ou se teria boicotado Temer em seu recente papel de coordenação política de peemedebistas e aliados. Ou se o chefe da Casa Civil teria se aliado a Nelson Barbosa para enfraquecer as propostas de cortes de gastos de Joaquim Levy.
Pois tudo isso é passado, e o que realmente importa agora é o futuro, que se delineia entre expectativas econômicas cada vez mais adversas alimentadas pela disparada do dólar, pela alta da inflação, pela queda da produção, da arrecadação e do nível de emprego. Se Mercadante tornou-se obstáculo tanto ao controle de gastos proposto por Levy quanto às alianças políticas necessárias a sua aprovação, então terá se transformado em um empecilho à reversão dessas expectativas adversas. Se Mercadante teria feito tudo isso por iniciativa própria ou a mando da presidente, só eles sabem, mas o problema se agravou.
[su_quote]O que realmente importa agora é o futuro, que se delineia entre expectativas econômicas cada vez mais adversas[/su_quote]
Já existe em andamento uma dinâmica institucional benigna que deverá aperfeiçoar as nossas práticas políticas e as relações entre os três poderes, graças ao grande despertar do Judiciário. Mas, enquanto nossos principais atores políticos estiverem habilitados a seguir no desempenho de suas funções, o que se espera é que atentem a essa outra dinâmica perversa entre o aprofundamento da recessão e a impopularidade do governo, que pode tornar cada vez mais difícil a aprovação das medidas de ajuste fiscal. A degeneração econômica em meio às investigações da Lava-Jato é mistura explosiva. Não se deve deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.
Fonte: O Globo, 7/9/2015
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