Faz tempo que não escrevo sobre os problemas da ciência brasileira pois tenho estado ocupado com a “ciência do MHL”, ou seja, com os problemas de meus experimentos e papers, cuja escrita parece um processo sem fim. Bem, vamos agora ao que interessa.
Na última semana de maio tivemos a tal conferencia nacional de ciência e tecnologia aqui em Brasília, que segundo um amigo que lá esteve presente, mais parecia um show das supostas maravilhas dos indicadores científicos brasileiros do que uma séria discussão das grandes questões que temos pela frente (1). Isso sem falar no custo de R$ 4 milhões de gastos com exibicionismos governamentais. Uma das poucas exceções ao “show das maravilhas” foi a palestra do Prof. Sergio Penna, da UFMG, de debateu a questão da “fast-food science”, que é a ciência feita para ter resultados imediato e por conseguinte, publicações.
Cada vez menos as pessoas fazem ciência de descobertas, pois é um processo longo, e muitas vezes não dá certo! Pesquisador que arrisca nos dias de hoje é “otário”, pois publica menos – a não ser que seja um pesquisador sortudo e/ou ultra-inteligente.
Essa ciência fast-food, que gera papers rápidos e pequenos é, ao meu ver, a causa do Brasil continuar a ser um lanterninha no rank de citações por paper (CpP). Em 1997 estávamos em 30 lugar neste “rank absoluto” quando consideramos apenas países com pelo menos 1000 publicações por ano (clique na imagem para ampliar).
Oscilamos entre 30 e 33º lugar até 2005, quando passamos a perder muitas posições, ano a ano: 38º em 2006, 41º em 2007 e 44º em 2008 (não está disponível ainda a colocação no rank em 2009)
O fato é que entre 2005 e 2006 é quando as políticas de fast-food science da Capes (políticas estas iniciadas em 2004) começaram a fazer efeito. Ou seja, passamos a publicar cada vez mais, ano a ano, fazendo com que a quantidade de citações em relação ao que foi publicado caísse, ano a ano. O Brasil foi subindo no rank dos países que mais publicam mas estagnou no rank de total de citações. A resultante foi despencar no rank de CpP – que é o rank que mede o impacto das publicações.
Fui recentemente criticado por um pesquisador (2) que esta forma de analisar posições dos países, ano a ano, por meio do indicador CpP não estaria correto. Isso porque eu estabelecia um valor de “cut off” para os países poderem participar do rank. Em uma análise que fiz em janeiro deste ano o corte se deu em 5000 publicaçoes por ano – e foi sobre esta análise (3) que fui criticado. Na análise mostrada no gráfico com símbolos azuis (“rank absoluto”) o corte foi em 1000 publicações ano.
Pois bem, a crítica era que como a cada a ano aumentava o número de países rankeados, na verdade a perda de posições do Brasil no rank seria devido a entrada de novos países, ano a ano. De fato, na lista de 1997 estão presentes 51 países, enquanto que em 2008 estão 68. Para resolver o problema de entrada de países “nanicos” a lista, em posições melhores que a do Brasil (o que causaria a nossa queda no rank) resolvi mostrar a posição RELATIVA do Brasil no rank, ano a ano.
Como assim? Ora, se em 1997 estávamos na posição 28 (de CpP) entre 51 países, isso nos dá uma posição relativa de 57 – como se fossem 100 países na lista. Em 2008, com 66 países sendo rankeados estamos em 44º lugar – isso significa uma posição 65, relativa a 100 participantes.
Quando graficamos a posição do Brasil, ano a ano, neste rank CpP relativizado, observamos há uma leve tendência de melhora entre 1996 e 2005 (r=0,35). Entretanto, de 2005 para 2008, há uma piora considerável, mostrando uma tendência bastante significativa (r=0,93). Vejam o gráfico com símbolos vermelhos. Assim, se pegamos a média das posições relativas no Brasil entre 2004 e 2005, observamos que o Brasil sai da posição relativa de 55/100 (para 2004/2005) e vai para a posição 65/100 em 2008.
O resultado de 2009, que deve estar para ser publicado pela Scimago, irá confirmar ou não esta nítida tendência de piora no impacto mundial da ciência brasileira. Se esta tendência maligna for confirmada, vamos precisar urgentemente mudar os rumos das políticas científicas do Brasil, que, ao que parece, privilegia publicações, que em média, tem cada vez menos impacto no mundo.
Se eu fosse o Ministro de C&T não esperaria pelo diagnóstico final, pois pode ser muito tarde. Faria uma grande mudança na maneira de se fazer ciência no Brasil.
Quem sabe podíamos voltar aos “old days” em que se ouvia frequentemente nos corredores dos bons centros de pesquisa: “o que você descobriu?”, no lugar de “quantos papers você publicou?”
Citações do post:
1: http://metodologiaci.blogspot.com/2010/05/iv-cnct-um-balanco-acido.html
2: http://sufnec.wordpress.com/2010/02/22/sobre-volume-e-impacto-de-publicacoes-brasileiras/
3: http://cienciabrasil.blogspot.com/2010/02/olavo-de-carvalho-discute-retrocesso-da.html
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