Uma semana de calmaria nos mercados. Nos EUA, o ritmo de retomada ainda é muito errático e não será surpresa se o Fed anunciar novas medidas para irrigar de crédito o consumo e o setor produtivo. Na Europa, poucas novidades, o que é bem visto pelos mercados. Sinal de que os pacotes de ajuste fiscal e o “Teste de Estresse” foram bem absorvidos pelos mercados.
Por aqui, o que chamou a atenção de todos foi o ritmo da economia brasileira, mostrando uma reversão em relação ao pico de crescimento do primeiro trimestre. Além disto, a inflação, no chão, não se mostra preocupante neste momento, embora não devamos descartar possíveis pressões ao longo deste segundo semestre, em função de novos choques agrícolas, a exemplo dos ocorridos no início do ano, ou mesmo pelo lado dos serviços.
Desempenho da economia norte-americana. O desempenho do PIB norte-americano no segundo trimestre nos leva a acreditar que os estímulos – monetário e fiscal – já começam a perder eficácia, sendo necessários novos daqui para frente. No segundo trimestre deste ano, o PIB cresceu 2,4%, pela taxa anualizada, desacelerando bem, já que no primeiro o crescimento foi de 3,7%. Os gastos dos consumidores contribuíram pouco, com 1,6%, depois de crescerem 1,9% no primeiro trimestre. Já os gastos de empresas com informática responderam com 21,9% de crescimento, na mesma toada do primeiro trimestre (20,4%). Um fato a ser observado veio do desempenho do nível de poupança do País, em torno de US$ 765 bilhões, equivalendo a 6,4% do PIB, contra 6,3% em maio e 6,0% em abril. Isto mostra que as pessoas, no receio de perder o emprego, estão consumindo menos e poupando mais. Já o índice de preços para gastos com consumo pessoal (PCE em inglês) recuou 0,1% em junho contra maio, com o núcleo estável. Ou seja, a economia se encontra sem fôlego para retomar um crescimento consistente porque as famílias se mostram receosas de se endividar, adiando suas compras e retendo recursos na poupança.
Produção industrial de junho. Pelo lado do ritmo de expansão da indústria nacional, em junho um freio de arrumação acabou ocorrendo pelo lado da produção. A queda de 1% em junho contra maio foi um aviso claro de que no primeiro trimestre a economia teve um comportamento atípico, impulsionada por uma série de fatores pontuais que não devem se manter nos próximos meses. Os consumidores anteciparam suas compras de duráveis (linha branca e automóveis), diante da proximidade do fim da isenção de IPI, a renda e a oferta de emprego e de crédito continuaram impulsionadas no primeiro trimestre do ano. Em junho, porém, com o fim da isenção e com menos dias úteis, com os jogos da Copa do Mundo, o setor produtivo acabou perdendo fôlego, recuando em bases mensais, embora tenha mantido forte crescimento contra o mesmo mês do ano passado, de 11,1%, acumulando 16,2% no ano e 6,5% em 12 meses.
Para os próximos meses, pelos dados da indústria automobilística em julho, a indústria deve apresentar alguma reversão de desempenho, afastando a possibilidade do recuo da indústria nos últimos três meses ser uma tendência. Na verdade, houve um crescimento atípico no primeiro trimestre, uma reversão no início do segundo, com a economia se acomodando num novo patamar a partir daí. No restante do ano, é possível uma recuperação da produção, já que isto ocorre sazonalmente ao fim do ano, com as festas do período. No entanto, esta deve ocorrer sobre bases mensais, pois contra a base de comparação do ano passado haverá uma acomodação do crescimento a um patamar mais baixo, talvez entre 10% e 12%, desde já muito bom, mas menor do que no início do ano.
Inflação ainda baixa. A inflação segue no chão, em função do recuo dos preços agrícolas. O IPCA registrou 0,01%, mesmo patamar do índice anterior (0%), acumulando no ano 3,1% e 4,6% em 12 meses. A maior queda ocorreu pelo lado dos Vestuários, de 0,58% para -0,04%, com Saúde recuando de 0,57% para 0,31% e Despesas Pessoais de 0,74% para 0,54%. Já Alimentação se manteve negativa, mas repicando um pouco, passando de -0,9% para -0,76%. Já o IGP-DI registrou 0,22% em julho, um pouco abaixo do registrado em junho (0,34%). O IPA passou de 0,43% para 0,34%, com alimentos in natura mergulhando de -0,99% para -6,46%. Já pelo lado do IPC, a taxa se manteve estável em -0,21%, com o núcleo passando de 0,37% para 0,28%. Por fim, o índice da FGV acumula 5,71% no ano e 5,98% em 12 meses. Por fim, o IPC da FIPE registrou 0,17% em julho, com Habitação em alta de 0,37% contra 0,27%, Transportes passando de 0,06% para 0,25% e Alimentação, ainda em queda, mas perdendo força, passando de -1,05% a -0,40%. Em direção contrária, Despesas Pessoais passou de 0,78% para 0,62%, Saúde de 0,71% para 0,47% e Vestuário de 0,65% para -0,25%.
Concluindo. O comportamento baixista da inflação e a acomodação da indústria indicam haver espaço para a manutenção do “freio de arrumação” da política monetária do BACEN dado na última reunião. Deve ocorrer uma parada, talvez em setembro, quando haverá um ajuste entre 0,25 e 0,5 ponto percentual. Com isto, pelas nossas projeções, a taxa básica fecha o ano em 11,25%, salvo algum fator surpreendente nos próximos indicadores de atividade e de inflação.
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