Chegar ao Colégio Estadual Waldemiro Pitta, no distrito de Monte Verde, em Cambuci, no Noroeste do estado, não é tarefa fácil: o principal caminho é uma estrada tortuosa, de terra batida, que em dias de chuva fica praticamente intransitável. Sinal de celular, nem pensar. Mas, no quarto e último dia da série de reportagens “O Rio que o Rio não conhece”, O GLOBO mostra que essa escola, localizada nos confins de uma inóspita zona rural, foi nada menos do que a melhor da rede pública do estado e a segunda melhor do país na avaliação do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2011, com nota 7,8. Para completar, ainda ficou, no ano passado, com o Prêmio Gestão Escolar do estado, concedido pelo Conselho Nacional dos Secretários de Educação (Consed) a boas práticas de ensino. Com apenas 14.829 habitantes, o município ainda tem a segunda melhor escola pública do estado e terceira do país no último Ideb: o Colégio Estadual Oscar Batista, com 7,7.
Foi numa sexta-feira do mês de maio que repórteres do GLOBO estiveram na Waldemiro Pitta. Era hora do almoço e, no refeitório, primeiro tocou uma música sertaneja no rádio e, depois, começaram a ser ouvidos os batuques do ensaio da banda da escola. A diretora Neiliany de Campos Manhães Marinho define o clima na unidade, que tem 268 alunos de ensino médio e fundamental:
— A semana toda já é de tanto estudo, que sexta-feira é dia de pensar no sábado.
Pai se forma no ensino médio
E foi assim, com descontração, mas muito trabalho, que a diretora conseguiu alcançar um rendimento tão alto, num lugar com as características de Cambuci. A cidade está em o 65º lugar no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os 92 municípios do estado. E, num distrito como Monte Verde, que possui não mais do que 2 mil habitantes, o colégio acabou se tornando referência não só para a vida dos próprios alunos, como para a de seus pais.
— Já tivemos um Ideb de 4,5 em 2007. Fizemos então um trabalho intenso de combate à evasão, trazendo os pais dos alunos para voltar a estudar, no período noturno. Sem a ajuda deles, da comunidade, eu não conseguiria fazer a manivela da escola girar tão bem — afirma Neiliany.
Um dos exemplos é José Luiz de França, de 48 anos, que tem dois filhos na Waldemiro Pitta, um com 15 e outro com 17. Desde 2010, ele, que só tinha cursado até o 5º ano do ensino fundamental, retornou à sala de aula e conseguiu se formar no ensino médio:
— Foi muito bom. Eu fazia até uma competição saudável com meus filhos para ver quem tirava a melhor nota.
Apesar de estar numa área sem sinal de celular, a escola tem computadores com internet e até uma padaria própria. O cuidado está em cada detalhe: salas como a de cinema têm na porta nomes de moradores locais, para homenagear quem fez história por ali.
Uma outra iniciativa importante foi a implementação de um curso de formação de professores para aproveitar os alunos que estavam se formando e, em muitos casos, iriam trabalhar na lavoura. Douglas Parreira Braga Garcia, de 20 anos, formou-se no ensino médio em 2010, mas se viu com poucas perspectivas. Tentou a vida em outros municípios onde acabou em subempregos e caiu em depressão. Viu na Waldemiro Pitta um recomeço.
— Voltei ao colégio e me descobri no curso de formação de professores. Já faço estágio e agora quero fazer Letras, numa faculdade em Itaperuna. Quero fazer a diferença — diz ele.
Já no Colégio Estadual Oscar Batista, que fica a cerca de 20 minutos de distância do Waldemiro Pitta, o grande foco do diretor Obede Peres tem sido o combate à repetência. A escola também teve uma evolução impressionante no Ideb, saindo de 3,3 em 2007 para 7,7 em 2011. O índice leva em conta provas de português e matemática, além da aprovação dos alunos. Há 393 estudantes matriculados. Este ano, 56 foram contemplados com tablets pela Secretaria estadual de Educação por estarem entre os de melhor rendimento em provas aplicadas na rede no ano passado.
— Primeiro, combatemos a evasão, fiz de tudo para que os pais viessem para a escola ajudar seus filhos, fiz até sorteio de prêmios para quem comparecesse às reuniões. Depois, atuamos na repetência, com reforço escolar e projetos de leitura. Quando eu estava na 8ª série, não aprendia a dividir de jeito nenhum, mas tive apoio de colegas e não repeti. Tomei gosto pela matemática e hoje virei professor. A repetência não faz bem ao aluno — avalia Obede.
Fonte: O Globo.
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