A grande crise contemporânea se abate sobre os países da América Latina de forma assimétrica. De um lado, no cinturão do Pacífico, estão Chile, Peru, Colômbia e México. Transformando a crise em oportunidade, aprofundam reformas de modernização e mergulham suas economias nos mercados globais, em busca de uma integração competitiva à nova ordem mundial. De outro lado estão Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina, na rota equivocada das pequenas sociedades política e economicamente fechadas. Do trágico peronismo do século XX ao socialismo bolivariano do século XXI, acumula-se a evidência empírica de um grande desastre causado por ideologias obsoletas.
Os países colhem prosperidade ou pobreza de acordo com as instituições que plantam. O Brasil tem rumo certo. O caminho brasileiro é o de uma Grande Sociedade Aberta. Democracia, ainda que emergente. Mercados, ainda que imperfeitos. Estado de direito, embora cego muitas vezes. Redes de solidariedade social, ainda que precárias. Imprensa livre, mesmo entre a cenoura e o chicote dos poderes políticos e econômicos. Moeda decente, apesar das indefinições nos regimes monetário e fiscal. Marcos regulatórios em construção, embora ainda instáveis. A estrada é longa. O histórico julgamento do mensalão, demarcando a independência do Poder Judiciário, é uma etapa fundamental nessa jornada.
Enquanto retrocedem institucionalmente os peronistas e os bolivarianos, capturados por uma inadequada visão de mundo, avançam celeremente os países da Aliança do Pacífico. O Chile, a exemplo do que acontece hoje na China e ao contrário do que ocorreu no Brasil e na Rússia, executou sua abertura econômica antes da abertura política. Seu extraordinário sucesso econômico inspirou históricos rivais, os peruanos, a aprofundarem suas reformas de modernização. E a Colômbia, notável por seu histórico democrático na região, mergulha também na Aliança do Pacífico em busca da prosperidade. O México, que já participa do Nafta, a zona de livre comércio com os Estados Unidos e o Canadá, amplia seus acordos comerciais com as economias mais dinâmicas da América do Sul. Tudo isso no vácuo de uma liderança geopolítica não exercida pelo Brasil. Somos agora os retardatários.
Fonte: O Globo, 29/10/2012
Excelente abordagem