Embora 74% dos eleitores reprovem os ataques entre os candidatos à Presidência, segundo a mais recente pesquisa Ibope, PT, PSB e PSDB manterão a linha adotada nas últimas semanas, com forte artilharia entre os presidenciáveis Dilma Rousseff, Marina Silva e Aécio Neves. Enquanto a campanha da petista diz que continuará com a estratégia de desconstrução de Marina, a equipe da ex-senadora garante que reforçará o discurso de conivência do governo com a corrupção na Petrobras. O tucano, por sua vez, não poupará nenhuma das duas: apostará em críticas à desorganização da economia e também voltará a citar o escândalo da Petrobras, para atingir Dilma, e dará ênfase ao “parentesco ideológico” de Marina com o PT, apresentando-se como único candidato de oposição.
À frente nas pesquisas, Dilma e Marina têm protagonizado os principais ataques mútuos. A campanha do PT veiculou propaganda associando a autonomia do Banco Central, defendida por Marina, à ameaça de falta de comida na mesa do brasileiro. Marina não deixou por menos: comparou a ação da campanha de Dilma à de Fernando Collor de Mello em 1989.
A manutenção da estratégia de desconstruir Marina, explorando o que seriam suas contradições, foi externada pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão. Para Falcão, é Marina que faz ataques infundados. Ontem, o dirigente petista disse que a campanha da candidata do PSB excedeu “os limites de desfaçatez” ao responsabilizar, na TV, a presidente Dilma pela compra da refinaria de Pasadena, que causou prejuízos à Petrobras:
— A candidata do PSB excedeu todos os limites de desfaçatez ao atacar a presidente Dilma e o PT. E atacou às escondidas, igualando-se às práticas mais obscuras da velha política. Ela sempre diz que faz debates, e não embates, mas partiu para a baixaria — afirmou Falcão.
Tucano nega ataques
O coordenador da campanha de Marina, Walter Feldman, reagiu aos ataques. Disse que as palavras de Falcão merecem “análise psicológica”.
— Estou perplexo, Marina é alvo do mais duro ataque da História brasileira, de uma construção marqueteira de mentiras e boatos. Essa fala do Rui Falcão é uma questão de análise psicológica. Ele fala a partir do que ele próprio faz. É um método esperto de reagir quando se sente atingido na essência — disse Feldman.
Mais do que em discursos, as campanhas usarão estes últimos dias de propaganda no rádio e na TV para explorar as fragilidades alheias. O PT argumenta que o programa de Marina foi escrito a lápis, “podendo ser apagado ao sabor das críticas”, e que ela pode pôr em risco projetos como o do pré-sal. A campanha de Marina planeja explorar, além dos programas do horário eleitoral gratuito, espaços alternativos de comunicação, como entrevistas coletivas, os debates na TV Globo e na Record e as mídias sociais.
— Como temos pouco tempo de TV, vamos usar as entrevistas e debates para aprofundar as críticas a Dilma e mostrar que o futuro desse governo que está aí é de um quadro extremamente difícil, com a Petrobras, corrupção, inadimplência na classe C, dificuldades em manter o pagamento da dívida pública e inflação — afirmou Feldman.
Candidato a vice-presidente da República na chapa de Aécio, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) considerou óbvia a constatação da pesquisa sobre a reprovação dos eleitores aos ataques neste campanha.
— Não há nenhum ataque na nossa campanha. O que estamos fazendo em relação a Marina são questionamentos políticos. Mostrar a história política dela e suas contradições. Não há razão para mudar nosso discurso — disse o senador.
Pela primeira vez, o Ibope perguntou aos eleitores o que eles pensam sobre troca de acusações entre candidatos. A maioria (74%) desaprovou a tática; 20% concordaram com ela, e 6% não souberam responder. A campanha de Dilma foi identificada como a que mais atacou os adversários (28% dos eleitores). A de Aécio vem em seguida (20%); depois vem a de Marina (14%). A presidente foi citada como a que mais apresentou propostas (32%). Na sequência, vieram Marina (21%) e Aécio (18%).
Para Carlos Pereira, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio, campanha agressiva baseada em troca de ataques tem efeito a curto prazo.
— A literatura americana aponta que o efeito vai diminuindo ao longo do tempo e que é importante saber dosar. Se a campanha negativa for forte e por muito tempo, o efeito pode se virar contra o feiticeiro — afirmou Pereira.
Fonte: O Globo.
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