Principal cabo eleitoral da campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já dedica tempo ao diálogo com a juventude, segmento em que a petista enfrenta forte rejeição. Segundo pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, 45% dos jovens com idade entre 16 e 24 anos disseram que não votariam em Dilma de jeito nenhum no primeiro turno, em resposta estimulada. Essa percentagem é de 15% em relação ao candidato do PSDB, Aécio Neves, o principal adversário dela. Se o segundo turno fosse entre Dilma e Aécio, 46% dos eleitores nessa faixa etária votariam no tucano, contra 39% em Dilma. Por conta disso, as três campanhas presidenciais decidiram dar atenção a esse grupo.
Nas últimas semanas, o Instituto Lula postou na internet oito vídeos da série intitulada “Lula, os jovens e a política”. Neles, o ex-presidente insiste na importância da participação dos jovens na política e tenta conscientizá-los. Em um dos filmetes, Lula diz que ele próprio, quando jovem, negava a política e que mudou de posição no movimento sindical, quando se deu conta de que os trabalhadores não tinham deputados, senadores, vereadores nem governadores para defender seus interesses.
— Não adianta você ficar em casa sentado no sofá xingando todo mundo. Não adianta você ficar no seu iPad falando o palavrão que você quiser, falar no seu iPhone. Isso é simples. Agora, você quer ser um revolucionário de verdade? Você quer ter coragem? Vá à sua universidade discutir com seus companheiros o que você quer que aconteça no mundo. Vá ao seu bairro discutir com seus companheiros o que você quer que mude — afirma Lula em um dos vídeos.
Aécio vai a Vigário Geral
Na campanha de Aécio, quem foi escalado para cuidar dos jovens é José Júnior, fundador e coordenador executivo do AfroReggae. Hoje, os dois se encontram em Vigário Geral, Zona Norte do Rio, como parte do primeiro evento de campanha fortemente voltado à juventude.
— Nosso foco vai ser o jovem negro em situação de risco, porque há no Brasil um verdadeiro genocídio. Pesquisas indicam que, para cada jovem branco morto, quatro jovens negros morrem no mesmo período. E é sobre isso que o Aécio vai falar em Vigário Geral — adiantou José Júnior.
O coordenador do AfroReggae sabe que a campanha do tucano terá que encarar questões polêmicas, como a redução da maioridade penal, defendida pelo vice de Aécio, Aloysio Nunes (PSDB), mas se diz preparado para isso.
— Até espero que esse assunto surja amanhã (hoje) em Vigário Geral para a gente poder esclarecer a posição do Aécio — afirmou José Júnior.
Na agenda moldada pelo líder do AfroReggae também está previsto um encontro do tucano com “jovens herdeiros”. Segundo Júnior, o evento ocorrerá em São Paulo, até a segunda semana de agosto, e vai misturar a elite com jovens de periferia. Todos com idade entre 16 e 30 anos — justamente a faixa em que Aécio aparece com mais força, segundo o Datafolha.
Também de olho no eleitor jovem, o presidenciável Eduardo Campos (PSB) anunciou semana passada que, se eleito, apoiará prefeituras e estados para que implantem o passe livre no transporte público. A ideia é atender cerca de 15 milhões de estudantes de escolas públicas e privadas que são beneficiados por programas sociais do governo, como o Fies e o ProUni. A proposta terá um custo anual de R$ 15 bilhões, de acordo com o candidato.
A bandeira surgiu justamente num encontro do presidenciável do PSB com cerca de cem universitários de São Paulo. A adoção da bandeira faz parte da estratégia de Campos de se aproximar de jovens que simpatizam com a candidata a vice de sua chapa, a ex-senadora Marina Silva.
A campanha também pretende implantar nos próximos dias um núcleo nacional voltado para a juventude. Ele deverá articular grupos em todos os estados.
— Os núcleos estaduais vão organizar atividades, e algumas delas terão participação dos candidatos (Campos e Marina) — afirmou Milton Coelho, coordenador de mobilização da candidatura presidencial do PSB.
De olho também nos sindicatos
Além de se preocupar com a relação do PT com os jovens, Lula vai se centrar no movimento sindical. Foi ele quem articulou evento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), na semana que vem, com participação de Dilma, e um outro, no próximo dia 7, com diversas centrais sindicais. Na última segunda-feira, Lula participou do 8º Congresso da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (Fequimfar), em Praia Grande, e tem reunido dirigentes sindicais em seu instituto.
Apesar das reclamações das centrais em relação a Dilma, lideranças do PT egressas do movimento sindical defendem que não há motivo para queixas. Segundo elas, a presidente manteve conquistas do governo Lula, como a política de valorização do salário mínimo e a correção da tabela do Imposto de Renda (IR).
— A relação com ela é outra, é mais distante. O Lula conhece todo mundo pelo nome, na conversa lembra um dia em que estavam juntos na calçada da Volks e outras histórias. Mesmo assim, não tem comparação. Ela é a candidata que tem compromisso com o trabalhador, o emprego e a renda. O candidato da oposição (Aécio) foi presidente da Câmara e líder do PSDB no governo (Fernando Henrique Cardoso) que arrochou o salário do trabalhador. É uma questão de História — disse um auxiliar de Dilma.
Fonte: O Globo.
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