O pensamento de esquerda, em baixa desde a queda do Muro de Berlim, ganhou alento com a falência do banco Lehman Brothers, o epicentro do colapso financeiro de 2008. Quem sabe a quebra de uma poderosa instituição de Wall Street fosse para o capitalismo o mesmo símbolo que a derrubada dos primeiros tijolos do Muro foi para o socialismo.
Passaram-se os meses, e o mundo, capitalista, não acabou. A crise não foi brincadeira, mas já no segundo semestre de 2009 apareciam os sinais de recuperação. Na virada de 2010 para 2011, parecia uma festa. Forte crescimento no mundo emergente, boa retomada nos EUA e na Alemanha. Aí, a história virou de novo.
A crise não acabara e se manifestava de outras maneiras ainda mais complicadas. Nesse clima aparece na imprensa internacional o artigo de Nouriel Roubini, “O capitalismo está condenado?”, e ainda por cima com o destaque para esta observação: Marx estava certo quando disse que “a globalização, a louca intermediação financeira e a redistribuição de riqueza do trabalho para o capital poderiam levar o capitalismo à autodestruição”. (Essa era a chamada, por exemplo, na revista eletrônica Slate.)
O economista Roubini não é socialista, muito menos marxista. É um teórico e intérprete do capitalismo, que traz a fama de ter previsto o colapso de 2008. Ora, se ele está dizendo que o sistema está “condenado”, a coisa é séria.
A esquerda se animou de novo, os conservadores se assustaram. O que viria por aí? – perguntaram-se todos.
O começo do artigo acentua a inquietação. Roubini descreve uma crise que não tem saída. Resumindo, o sentido do texto é o seguinte: há diversos problemas gravíssimos, para os quais as soluções são inviáveis ou por razões econômicas ou políticas.
O ambiente social já mostra esse beco sem saída. As manifestações populares que pipocam por toda parte, diz Roubini, são movidas “pelas mesmas tensões e temas: crescente desigualdade, pobreza, desemprego e desesperança” – fantasmas que assombram o mundo.
Que fazer? Já se vê um novo mundo?
Não, Roubini não entrega isso. Para começar, a citação de Marx é relativizada. O pensador alemão não estava propriamente certo na previsão de fim do capitalismo, mas “parecia estar parcialmente certo”. E, ainda assim, vem outra ressalva: “Sua visão de que o socialismo poderia ser melhor provou-se equivocada.”
Em seguida, Roubini dá o tiro final nas esperanças da esquerda. A questão central hoje, diz ele, é “encontrar o correto equilíbrio entre mercado e a provisão dos bens públicos”, para que as economias de mercado operem “como deveriam e como podem”.
Para ele, tanto o modelo anglo-saxão – “laissez-faire e economia vudu” – quanto o europeu continental – “estado do bem-estar sustentado por déficits” – estão quebrados.
O economista sugere o caminho alternativo – e aqui a coisa não é decepcionante apenas para a esquerda. Vem uma relação de políticas em torno das quais há consensos, se excluída a extrema direita, e que vêm sendo tentadas por toda parte.
Reparem as propostas:
. estímulo fiscal (gasto público ou isenção de impostos) para investimentos produtivos em infraestrutura, de modo a gerar empregos;
. taxação progressiva, os mais ricos pagando mais impostos;
. estímulo fiscal de curto prazo e ajuste fiscal (corte de gastos e aumento de impostos) de médio e longo prazo;
. autoridades monetárias garantindo empréstimos de última instância para evitar corridas contra bancos;
. redução da dívida para famílias e outros agentes econômicos insolventes;
. estrita supervisão e regulamentação do sistema financeiro;
. desmantelar oligopólios e os bancos “muito-grandes-para-quebrar”;
. países ricos precisam investir em capital humano, conhecimento e redes de segurança social.
Reparem: não tem nenhuma proposta para fechamento do comércio internacional, manipulação de moedas, avanço do Estado na economia, controle dos capitais privados, nacionalismos, etc.
Ao contrário, as sugestões cabem perfeitamente no pensamento clássico. Claro, a direita americana não aceita qualquer aumento de imposto, nem mais gasto público.
Mas é exceção. O governo conservador eleva impostos na Inglaterra, assim como na Alemanha. Não que sejam políticas unânimes e de fácil implementação. Sempre haverá o debate sobre quem deve pagar mais impostos e onde o governo gastará mais. Além disso, a coisa é localizada. Propor aumento de impostos faz sentido no México, onde a carga tributária é baixa. Já no Brasil…
O título original do artigo de Roubini diz “Is Capitalism Doomed?” – palavra esta que pode ser traduzida por “condenado”, como fizemos, ou por “amaldiçoado”. “Condenado” sugere que está acabado. Já um sistema pode ser “amaldiçoado” e continuar vivo. Deve ser isso. Maldito capitalismo, mas ainda não se inventou nada melhor.
Fonte: O Globo, 18/08/2011
Concordo é o melhor sistema até hoje. Entre tanto, o Capitalismo não atende a todas as faixas sociais e sim somente as com capacidade de consumo. Vejo que, o capitalismo tem de ser um pouco mais responsável com os dito miseráveis e mendigos. Quando falo capitalismo estou neste momento me referindo a governantes e empresários a dita responsabilidade social. Agora entre nós não espalha, que os capitalistas quando vão mal e quebram, são os maiores socialistas do planeta. Só não espalha.
“…Agora entre nós não espalha, que os capitalistas quando vão mal e quebram, são os maiores socialistas do planeta. Só não espalha…”
Poxa Luiz Roberto.
Não precisava tacar isso na cara do Sardenberg
KKKKKKKK
Carlos Alberto Sardenberg.
O Roubini só disse que Marx estava parcialmente certo para não magoar seus sentimentos.
Sou recém formado economista, mas…” só que que nada sei”. Fico me perguntando: por que tantas meias verdades para defender o sistema vigente? Afinal, a cada dia mais crises financeiras, estopins sociais na Europa, Chile, etc…. Estado e Capital demais é péssimo! Até aí, não falamos em Socialismo. A resposta será dada pelo Capitalismo, mais cedo ou mais tarde!
O novo capitalismo está em fase embrionária. Esse atual modelo de capitalismo da sociedade consumista onde a cadeia de produção é linear, é insustentável! A web juntamente com a inteligência humana irá e já está criando a economia criativa,que tem por alicerce quatro princípios básicos: A sustentabilidade ambiental, social, de talentos e negócios. Mudando o jeito de pensar e entendendo que a interação colaborativa é muito mais produtiva e desenvolvedora do que o modelo egoísta predatório.