Quanto mais o aquecimento global se intensifica, maiores são as alterações do clima e, consequentemente, a frequência de eventos atípicos, como ondas de muito frio ou calor, em locais que não costumavam apresentar picos na temperatura. Essas mudanças, que afetam não apenas nossas vidas, mas também a economia, estão ligadas principalmente às grandes emissões de gases de efeito estufa.
Segundo a ONU Meio Ambiente, as emissões globais desses gases precisam diminuir, para que até 2030, o aumento de temperatura média da Terra fique entre 1,5°C e 2°C, que é o limite considerado seguro pelos cientistas. Como uma das formas de cooperar com esse objetivo é neutralizar ou diminuir as emissões de carbono, o assunto está sendo cada vez mais discutido principalmente entre as empresas.
O sócio da AGBI, gestora independente de recursos e veículos de investimento com especialização na alocação de recursos em produtos Agro e de Real Estate, Gustavo Fonseca, comenta que os debates começaram a partir do Acordo de Paris, onde 195 países firmaram um compromisso de cumprir metas que visam a redução da emissão desses gases na atmosfera. Ouça o podcast!
“Após a assinatura do acordo, os países se voltaram internamente para suas políticas internas e as empresas, evidentemente, criaram essa mesma preocupação. Com o assunto em voga, uma das questões que surge é que para atingir essas metas de redução de emissões de carbono, é necessário fazer a neutralidade do carbono. É preciso ter um nível de emissão igual ao nível de captura. Isto é, tudo aquilo que for emitido para a atmosfera deve ser capturado e trazido para dentro da Terra. O Brasil, por exemplo, se comprometeu com uma redução de 37% das emissões até 2025 e 43% até 2030. Então vemos que não é algo de tão longo prazo. A ideia é chegar a 2060 numa equivalência perfeita”, esclareceu.
O selo de carbono neutro, conforme afirma Gustavo Fonseca, é dado às empresas que foram atrás dessa neutralização da emissão do carbono por meio de investimentos que as permitam capturar carbono de volta da atmosfera.
As organizações têm buscado novas estratégias para alcançar essas metas com foco na preservação do meio ambiente. “Hoje já existem alguns mercados livres de carbono, em que empresas que estão produzindo mais do que a necessidade, compram os créditos de carbono de forma a neutralizar. E esse selo de carbono neutro vale para tudo aquilo que ela conseguir absorver e neutralizar na sua operação”, apontou.
Por conta dessa preocupação mundial, é possível dizer que a descarbonização se tornou uma tendência nos últimos anos. “Acho que é uma preocupação não só de carbono, mas também com o nosso planeta. Ficou mais claro para as pessoas a necessidade de deixar um legado para o futuro”, comentou.
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As mudanças comportamentais no âmbito da sustentabilidade vêm acontecendo de forma mais intensa desde os anos 90 e o progresso tem sido considerável. Com o aumento da população, das produções e, consequentemente, do uso dos recursos naturais, foi percebida a necessidade de agir de maneiras que venham a preservar o meio ambiente.
“Temos empresas, bancos e financiadores mundiais que estão buscando só alocar recursos onde se tenha um cadeia produtiva positiva sustentável. Então isso começa a ser imposto. Se você quer ter uma fonte de financiamento para fazer o seu tipo de investimento, negócio ou produção, você terá que se atentar a questões de ESG [sigla em inglês para “environmental, social and governance” ou “ambiental, social e governança”, em português], de emissões de gases e de como que você, dentro da cadeia produtiva, está controlando isso de forma positiva e entregando seu produto final para o consumidor. Ou seja, a preocupação não é apenas com o negócio, mas também com o ambiente em que você está inserido”, analisou.
Gustavo Fonseca alerta ainda que “aquele país que tiver uma preocupação e souber adotar práticas positivas de pautas sustentáveis ao negócio vai ter incremento positivo na sua economia. Vai conseguir ter fontes de financiamento melhores e aprovadas para o seu negócio, vai ter consumidor entendendo aquela sua preocupação para se chegar a um produto final de qualidade. Então aquela pequena ou grande empresa, ou aquele governo, que não se preocupar com essa pauta marco de carbono ou de ESG, vão ter impactos negativos em médio, curto e longo prazo para as suas economias”.
O Brasil e as tendências globais de ESG
O Brasil tem grandes chances de ser uma potência nas questões de ESG, pois tem como vocação o agronegócio, que é muito voltado para a sustentabilidade e o ambiente onde as pessoas estão inseridas.
“Hoje temos pautas na imprensa falando sobre o agronegócio, que é o maior contribuinte para o PIB do nosso país. Já contribui ao longo dos anos acima de 20%, a gente chegou a 27, 28% do PIB com contribuição do agronegócio. O ESG pode ser pautado e liderado pelo nosso agro”, observou.
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No agronegócio há a possibilidade de gerar créditos de carbono de forma sustentável integrando lavoura, agricultura e pecuária. Como exemplo, Gustavo Fonseca citou o trabalho na AGBI, onde atua. “Nosso próximo fundo é focado na aquisição de terra. A gente só compra áreas onde a gente mantenha a área de reserva florestal necessária, para manter aquilo da melhor forma. A ideia é transformar o pasto em lavoura, pois quando a soja for colocada, começará a absorver e a gerar carbono. E no próximo fundo que vai ser lançado a gente vai passar a gerar créditos de carbono, onde as empresas poderão comprar no mercado livre ou, futuramente, no mercado regulado”, concluiu.
O assunto sustentabilidade já deixou de ser uma novidade faz tempo, e o agronegócio, se bem atrelado à preservação do meio ambiente, pode ser o grande passo para o progresso econômico, colocando o Brasil como uma das maiores potências agroecológicas do mundo.