Não é a reputação que temos no exterior neste momento, mas o agronegócio brasileiro é uma ilha de excelência, de inovação e… de respeito ao meio ambiente. Em 2012, a riqueza que brota do campo respondia por 19% do PIB nacional. Atualmente, o índice é de 22%. Projeções mostram que a economia do país encolheu 4,5% em 2020, o ano da pandemia — para o agro, contudo, o crescimento estimado é de 1,5%. Por trás dessa pujança, há uma faceta moderna, comparável às melhores do mundo. Um estudo recente mostrou que 84% dos produtores e prestadores de serviços rurais fazem uso de pelo menos uma tecnologia digital em benefício da produção agrícola. Tal inovação torna as lavouras mais eficientes e menos deletérias para a fauna e a flora. Desde 2015 e até agosto de 2020, foram realizadas no Brasil ao menos cinquenta emissões de green bonds, os títulos para o financiamento de projetos sustentáveis, que totalizaram 43,8 bilhões de reais. Estima-se que o mercado tenha potencial para captar 700 bilhões de reais. É um desempenho que nos instala em lugar confortável. Com o aumento da população global, a redução da pobreza e o crescimento da classe média, o consumo de produtos agrícolas será 20% maior até 2030. Desse total, 40% deverão vir do Brasil.
Não há dúvida: o país é uma potência agrícola, personagem fundamental para garantir a segurança alimentar do mundo, mas não precisa deixar de ser visto também como uma potência ambiental. Hoje, mais do que nunca, a todo país de agricultura relevante, e imensa capacidade de exportação, cabe demonstrar compromisso com o desenvolvimento sustentável, a redução de emissão de CO2 e a manutenção da biodiversidade (algo que em diferentes governos vínhamos fazendo com competência). Por isso a Presidência de Joe Biden, nos Estados Unidos, é excelente oportunidade para o Brasil de Jair Bolsonaro retomar o caminho da sensatez, no avesso do balé negacionista que a diplomacia de ambos os lados ensaiava, incentivando os produtores irresponsáveis — turma que VEJA sempre fez questão de denunciar. Uma mudança de política ambiental neste momento, uma que pregue respeito absoluto ao meio ambiente, é crucial — obrigatória, na verdade — para que o agronegócio brasileiro possa continuar a crescer, sem sofrer punições pela falta de habilidade do governo em conduzir o tema.
Um bom modo de saber o que fazer é olhar para os ótimos exemplos da iniciativa privada no campo – sobretudo porque eles é que levaram o setor a patamares invejáveis de produção e de credibilidade internacionais. Para revelar os detalhes desse fascinante segmento, o repórter Luiz Felipe Castro foi designado para conhecer práticas de zelo ambiental no campo, como mostra a reportagem a partir da página 22. Ao lado do fotógrafo Egberto Nogueira, ele visitou a Fazenda Mantiqueira, do Grupo Roncador, em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, e a Fazenda Morena, em Campo Novo do Parecis (MT), a 400 quilômetros de Cuiabá. Ambas são premiadas e reconhecidas por ações de proteção à natureza, como a utilização de insumos biológicos, captação de água da chuva, integração da lavoura e da pecuária com a floresta e o amplo uso de energia solar fotovoltaica. Iniciativas como essas, que devem ser louvadas e valorizadas, são vitais para a preservação ambiental, para a recuperação da nossa imagem e, consequentemente, para o crescimento do Brasil.
Fonte: “Veja”, 28/01/2021
Foto: Veja/Reprodução