No dia 29 de agosto saem os dados de crescimento do PIB no segundo trimestre e o mercado começa a especular se a tal “recessão técnica” já uma realidade. Isto porque no primeiro trimestre, o desempenho também foi medíocre, com crescimento de apenas 0,2% e de lá para cá tudo piorou. Nossas estimativas são de que neste segundo a economia deve patinar numa retração próxima a 0,5% (ou mais), impactada pelo menor número de dias úteis com a Copa do Mundo, clima de desconfiança dos agentes econômicos, no aguardo da definição do quadro eleitoral, crédito mais apertado e juro elevado, famílias no limite do endividamento, adiamento dos investimentos, dentre outros fatores conectados.
Realmente, estamos empacados na armadilha do baixo crescimento. Isto bem se refletiu no IBC-Br do segundo trimestre, mergulhando 1,2% contra o período anterior. Para reforçar isto, em junho a produção industrial recuou 1,4% contra o mês anterior e o varejo também levou um tranco, recuando 0,7%. Neste contexto, os indicadores de mercado de trabalho já começam a sentir esta desaceleração. Os dados do Caged, sobre geração de empregos formais, refletem isto. Em junho, registrou forte queda (-71,5% contra o mesmo mês do ano passado), com a geração de 11,7 mil vagas com carteira assinada, o pior resultado para o mês desde 1999. Saíram também os dados parciais de desocupação do IBGE, mostrando queda, mais em função da desistência das pessoas em procurar emprego, já que a procura por colocação em quatro cidades pesquisadas recuou 1% nos 12 meses.
A recessão já bate às portas do país. Em resposta, o governo até tenta mitigar este quadro, com a adoção de medidas de estímulo ao crédito, mas sem efeito imediato. Há um mês anunciou um pacote de estímulo ao crédito, em R$ 45 bilhões, e na semana passada, mais R$ 25 bilhões foram jogados no mercado, R$ 10 bilhões em redução do compulsório para consumo a prazo e R$ 15 bilhões para tentar melhorar a capacidade de emprestar dos bancos, com alívio nos indicadores financeiros e de liquidez. Em adição, foram anunciadas medidas legais para agilizar (ou desburocratizar) as operações de crédito, como a retomada mais rápida do carro do devedor inadimplente e o parcelamento das dívidas no crédito consignado.
Como dito, estas medidas, no entanto, só devem ter efeito mais a frente, talvez ano que vem, até porque a economia não reage porque os consumidores estão no limite do endividamento e as empresas adiam seus projetos de investimento. Estudos da Serasa mostraram que em alguns casos o comprometimento da renda das famílias com dívidas ultrapassa 60%.
E até o final do ano? Como podemos enxergar a atividade econômica? Pelo lado dos indicadores antecedentes, entre julho e julho até observamos alguma melhoria, mas é cedo afirmar que isto configure uma tendência.
Na análise setorial, as vendas de papelão ondulado avançaram 5,4%, depois de recuar 3,3% em junho contra maio. Já o consumo de energia elétrica avançou 1% em julho contra junho, depois de recuar 1,4% em junho contra maio e o fluxo de veículos pesados nas rodovias avançou 3,2% depois de recuar 4,4% na mesma base de comparação. Um argumento plausível é que os feriados em dias úteis acabaram mais intensos em junho do que em julho, afetando diretamente a atividade.
Nesta toada, dificilmente teremos a economia crescendo mais do que 1% neste ano. A pesquisa Focus prevê 0,8% e crescem os que acreditam num crescimento próximo a 0,5%. E o pior é que não dá para ser muito otimista em relação a 2015. Primeiro ano do novo governo eleito (ou reeleito), fortes ajustes serão necessários, a começar pelo realinhamento tarifário, o que deve jogar a inflação para mais do que 8% e a necessidade de uma política monetária ainda restritiva, não sendo surpresa se o juro for elevado a 12%. Com certeza, 2015 será tão, ou mais difícil, do que neste ano eleitoral. Sobre isto, uma boa notícia é de que os dois candidatos de oposição já anunciaram o retorno do chamado tripé de política econômica, com câmbio flutuante, sistema de metas e responsabilidade fiscal, assim como aprovar a autonomia operacional do Bacen e colocar na pauta do Congresso (mais uma vez) a agenda de reformas.
Esta ânsia reformista dos candidatos não deixa de ser uma boa notícia. Dependendo da intensidade das medidas anunciadas a economia poderá responder com mais ou menos rapidez. Isto será importante no esforço de tentar reverter a maré de desconfianças que se abate sobre a economia neste momento. Sendo rápido, muitos acham que a economia já ingressaria num ciclo de crescimento em fins de 2015, caso estas medidas se tornem reais. A expectativa de mudanças no arcabouço macro e micro do país já dariam um ânimo nos agentes econômicos, ávidos por boas sinalizações, manutenção de regras, menos intervenções nocivas do Estado nos mercados, etc.
Estudos indicam que três são as principais fontes de crescimento, a taxa de investimentos, a incorporação da mão de obra ao processo produtivo e a produtividade.
Pelos vários ruídos gerados pelo governo, a taxa de investimentos vem recuando nos últimos trimestres. Entre o quarto trimestre do ano passado e o primeiro deste ano, passou de 18,2% para 17,7% do PIB. Isto vem junto com o recuo da poupança interna, de 15,5% para menos de 13%, em muito fruto dos excessos da política de estimular a economia pelo consumo. Projetos de concessão confusos, pouco interesse do setor privado, investimentos da economia não deslanchando nos anos Dilma, cobram seu preço.
Já a oferta de mão de obra avança mais em áreas de baixa qualificação como serviços básicos, com as mais qualificadas paradas, ou até em apagão, como no caso dos engenheiros.
Por fim, temos a produtividade em patamar sofrível, fruto das políticas de renda do governo Dilma e do péssimo ambiente de negócios no país, reflexo da carga fiscal excessiva, burocracia paralisante, custo excessivo para contratações pelos empregadores, corrupção, excesso de Estado na vida dos cidadãos. Enfim, são variados os problemas para se avaliar a produtividade baixa do país.
No passado, até os anos 80, os índices de produtividade cresceram rapidamente com as mudanças estruturais da economia brasileira. Segundo a pesquisadora Fernanda de Negri do IPEA, a população migrou para as cidades e começou a engrossar as fileiras de trabalhadores da indústria e serviços – setores cuja produtividade costuma ser maior que a do setor rural.
Nos anos recentes, no entanto, com o esgotamento deste processo, nossa produtividade vem perdendo força. Segundo a entidade de pesquisas dos EUA, Conference Board, os trabalhadores das empresas do país produziram em 2013 uma média de US$ 10,8 por hora trabalhada, a menor média entre países latino-americanos. A chilena, por exemplo, foi de US$ 20,8, a mexicana, de US$ 16,8 e a argentina, US$ 13,9. Além disso, o crescimento do nosso índice de produtividade foi de apenas 0,8% no ano passado, após queda de 0,4% em 2012. Comparando, o índice chinês teve alta de 7,1%.
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