Este acima é o termo exato a ser usado no momento atual.
Temos quase certeza de um segundo turno entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, mas não será surpresa se der o capitão logo no primeiro. Isso ocorrendo é importante saber o que pensa sua possível equipe de governo, seus assessores mais diretos, no chamado “núcleo duro”. Aqui ingressamos numa maré revolta, pois não se sabe bem como pensa o capitão ou se ele dará autonomia total ao seu mentor econômico (ou “Posto Ipiranga”) Paulo Guedes.
Sim, porque nos poucos debates em que participou, escassas foram as contribuições na área econômica. Aliás, chamou atenção sua ignorância em diversos assuntos, algo incompreensível para um deputado com 27 anos de legislatura. Aliás, neste período foram 171 projetos enviados e apenas dois aprovados.
Importante observar também que a agenda ventilada por Paulo Guedes se choca com o comportamento de Bolsonaro nestes anos de Legislativo. Sua atuação foi caracterizada muito mais pela defesa de interesses corporativos, no caso da “família militar” do que pelo debate de temas nacionais. Em cima disso, foi oposição ao Plano Real, se opôs também às reformas estruturais, à da Previdência, ao fim dos privilégios dos militares, à privatização de empresas públicas, dentre variados pontos, hoje defendidos por Guedes.
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Sobre a agenda econômica, que o possível presidente eleito Bolsonaro terá que enfrentar, de primeira cabe a tentativa de adiar a onda de reajustes para os servidores dos três poderes em 2019, o que deve gerar um impacto fiscal de R$ 15 bilhões no Orçamento do ano. São 22,6% em gastos com pessoal, para cada R$ 5 gastos pela União, R$ 1 irá para os salários dos servidores. Ou seja, é desde já a segunda maior despesa do governo federal, atrás apenas das com benefícios previdenciários. No atual contexto fiscal de crescentes despesas neste front, deve sobrar pouco para custeio, para a “manutenção da máquina pública” e em investimentos. Ou seja, áreas estratégicas como saúde, educação e segurança acabarão afetadas.
Interessante observar que neste caso, o maior impacto dos salários vem do Executivo, particularmente no pagamento dos militares. Sendo assim, como Guedes conseguirá transitar neste “terreno minado”, parte da base de apoio do capitão Bolsonaro? Além disso, estes reajustes acabaram sancionados pelo governo Temer, frágil politicamente e refém da crise que ele mesmo ajudou a gestar. Nestes reajustes de salários, primeiro desafio a ser enfrentado será no Judiciário, abrindo mão dos auxílios-moradias, mas ganhando +16,4%.
É possível também que o governo coloque na agenda um programa de privatizações, desmobilização de ativos e aceleração de concessões de infraestrutura, com destaque para aeroportos e ferrovias, antes datados para este ano. A privatização da Eletrobrás m estará na pauta, mas a Petrobras, estratégica na visão da Escola Superior de Guerra (ESG), templo de aperfeiçoamento dos oficiais, não será mexida.
Guedes tentará também colocar como uma das prioridades a Reforma da Previdência, se possível até tentando agendar para o final deste ano, caso Bolsonaro seja eleito em primeiro turno. Nesta uma das discussões será tentar mudar o regime atual, de acumulação para capitalização, apenas para os novos entrantes.
Outro ponto em discussão diz respeito a autonomia do BACEN e o mandato único. Na visão de Guedes e sua equipe a autoridade monetária deve se ater ao combate à inflação e não a manutenção do crescimento, nem ao nível de emprego. Estes debates, aliás, nos remetem ao duplo mandato do Fed, preocupado com a inflação, mas também com o nível de emprego. Esta não deve ser atribuição do BACEN brasileiro.
O fato é que nesta “eleição binária”, entre dois candidatos de extremos, Bolsonaro parece ser mais palatável para o mercado. Dúvidas, no entanto, surgem sobre sua capacidade de governar.
Para a Consultoria MCM, “a despeito da recente melhora do ambiente financeiro, o país deve se manter distante do “cenário de retomada”. Teremos alguma euforia e retomada no curto prazo, logo depois de eleito, mas no longo prazo dúvidas pairam no horizonte. Na visão da supergestora PIMCO, “não se espera o tipo de agenda de reforma profunda que o Brasil precisa para ficar numa base mais sustentável”. Talvez. É possível que tenhamos uma agenda compatível com a base de apoio gerada pela possível eleição de Bolsonaro.
O mercado financeiro, embora apostando na vitória de Bolsonaro, mantém certa cautela ou neutralidade.
Se ele conseguir uma vitória acachapante em primeiro turno, com 60 milhões de votos, pode até ter uma maior margem de manobra para surfar nos chamados “100 dias de lua de mel”. Caso contrário, não deve ter tanta margem de manobra para aprovar medidas essenciais e inadiáveis, como a Reforma da Previdência. Cabe observar que nos dados fiscais de agosto, a Previdência veio com um déficit mensal de R$ 18 bilhões, para um total de R$ 19,7 bilhões de déficit pelo governo central.
De qualquer forma, será uma importante eleição, reunindo 147 milhões de eleitores, 35 partidos e uma imensa gama de candidatos.
Que o eleitor tenha consciência e vote com responsabilidade.