Chegamos a um ponto nestas eleições em que as pesquisas vão “cristalizando” quem parece ter mais chances de chegar ao segundo turno. Diante disso, como o mercado de ativos deve responder? Neste panorama, tentemos enxergar como deve transcorrer a eleição a partir da pesquisa mais atualizada do momento, do Ibope, e como devem se comportar alguns ativos, neste caso, Bolsa de Valores, dólar, juro Selic e por fim, inflação.
Estado atual da cena eleitoral. Continuamos acreditando na polarização entre centro-esquerda ou esquerda e centro-direita ou extrema direita, mas sem o ex-presidente Lula na disputa, o que deve abrir espaço para novos players, como Fernando Haddad, caso confirmado pelo PT. Ele, junto com Marina e Ciro Gomes, devem ser os maiores herdeiros do espólio de Lula. Resta saber qual deles terá fôlego para chegar ao segundo turno na disputa (muito provavelmente) com Jair Bolsonaro do PSL, líder das pesquisas.
Bolsonaro tem fôlego? Oscilando no patamar de 20% das intenções de voto, Bolsonaro parece ter seu lugar garantido no segundo turno. O problema é que isso não é garantia de nada. Com rejeição de 44% e um teto nos 20%, sua campanha radical tende a perder apoio. O risco de uma frente anti-Bolsonaro é maior do que uma frente contra um candidato da esquerda.
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Na pesquisa Ibope mais recente (outra deve ser divulgada nesta semana) Bolsonaro possui 22%, Marina 12%, Ciro Gomes 12%, Alckmin 9% e Haddad 6%, mas ainda não “oficializado” pelo PT. Sobre isso, cabe observar os contratempos causados pelos petistas, na esperança de conseguir virar o jogo a favor do ex-presidente Lula. Sua estratégia vem sendo protelar esta definição do candidato, através do envio de recursos ao TSE e STF, esticando ao máximo a corda em favor de Lula, associando-o ao candidato “reserva”, Fernando Haddad.
Bolsonaro e o resto. Vai se delineando uma disputa entre Bolsonaro e o resto. Destes, chama atenção a boa perfomance de Ciro nesta pesquisa, tendo passado de 9% para 12%, no melhor desempenho entre os candidatos que brigam pelo segundo turno. Aliás, um embate entre Bolsonaro e estes candidatos parece ser tudo que querem, pelo seu menor traquejo no enfrentamento de debates. Além disso, esta pesquisa do Ibope mostrou serem notórias as fragilidades do candidato, pela maior rejeição entre os postulantes e perdendo para quase todos no segundo turno.
Rejeição elevada. Se Bolsonaro possui o eleitorado mais fiel e dogmático, sua rejeição é considerável (44%), enquanto que os seus concorrentes possuem uma baixa rejeição: Ciro com 20%, Alckmin 22% e Marina 26%. Ou seja, todos estão aptos a crescer mais do que Bolsonaro.
Num hipotético segundo turno, Bolsonaro perderia hoje para Ciro (44% X 33%), para Marina (43% X 33%) e mesmo com Haddad, que ainda nem assumiu como cabeça de chapa do PT no lugar de Lula, apenas empataria (37% X 36%). Contra Alckmin, Bolsonaro perderia por 41% x 32%, confirmando o teto de pouco mais de 30% no segundo turno. Todos os outros candidatos, à exceção de Haddad, já fazem mais de 40%.
Numa rápida avaliada, numa eleição pulverizada como a atual, os votos da esquerda e do centro-esquerda se dividem entre Haddad (6%), Ciro (12%) e Marina (12%) e os três possuem condições de descarregar o voto útil contra Bolsonaro num segundo turno.
E o mercado? Como devem se comportar os ativos? Como devem se comportar a bolsa de valores, a taxa de juros e o dólar? Uma pesquisa divulgada pela XP na semana passada trouxe algumas luzes.
Parece notória a rejeição dos investidores de mercado a qualquer aventureiro, tanto de extrema esquerda como de extrema direita. Ou seja, não parece haver muita tolerância ao populismo, ao discurso de soluções fáceis e imediatistas.
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No pior cenário, com Fernando Haddad como o escolhido, 31% dos investidores passam a considerar a hipótese da bolsa cair a 50 mil pontos. No melhor cenário, com Geraldo Alckmin 90% acham que a bolsa pode ir a 85 mil pontos. Interessante observar é que, embora alguns considerando Jair Bolsonaro como o que resta, há uma divisão sobre como deve desempenhar a bolsa com ele eleito. Nesta pesquisa 51% acham que o mercado deve desempenhar abaixo de 85 mil pontos e 49% acham que pode ir acima. No dólar também há certa divisão, nesta circunstância.
Cerca de 32% acha que a moeda norte-americana deve vir entre R$ 3,60 e R$ 3,80 e outros 32% entre R$ 3,80 e R$ 4,00. Ou seja, não há uma unanimidade sobre os benefícios de se ter Bolsonaro eleito, mesmo tendo Paulo Guedes como “guru econômico”. Sobre este, aliás, embora brilhante intelectualmente, muitos na comunidade acadêmica o acham arrogante e pouco afeito ao debate.
No cenário aqui definido, a moeda brasileira deve estressar mais com Ciro Gomes eleito, 87% achando que o dólar deve ir a R$ 4,40. Geraldo Alckmin é mais bem aceito pelo mercado e o dólar deve recuar a R$ 3,40.
No candidato mais estressante para o mercado, Ciro Gomes ou Fernando Haddad, diante de um câmbio a R$ 4,40, o impacto na inflação, nos chamados “efeitos secundários”, deve levar o BACEN a responder de forma imediata, elevando a Selic no ano que vem a mais de 10%. Entre 38% e 39% dos entrevistados acham que com estes dois isso deve acontecer. Já com Marina Silva, Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin, o mercado deve se alinhar com uma agenda de reformas mais ambiciosa e a taxa de juros deve ficar entre 7,5% e 8,0%, em linha com esta Consultoria e a Focus.
Por fim, falando da agenda de reformas, sobre a da Previdência, 95% dos entrevistados acham que Alckmin, se eleito, deve aprová-la já no início do mandato em 2019, enquanto que 64% acham que Ciro ou Haddad não devem aprovar de imediato, talvez retomando o “debate com a sociedade”. Isso também parece ser a conduta da candidata Marina Silva, mais afeita a esgotar os assuntos em debates intermináveis. Jair Bolsonaro, e outros candidatos de centro, devem transitar pela mesma linha de ação de Alckmin, colocando esta reforma na agenda já no ano que vem.