Fim de papo. Escrevemos numa sexta-feira de manhã e os clientes só devem ler depois das eleições de domingo (dia 26/10). Pelas últimas pesquisas observamos a candidata Dilma se descolando e abrindo vantagem. Crescem as chances da sua reeleição. Pode, no entanto, não dar isto. Ainda temos um debate na noite de sexta-feira e tudo pode acontecer.
Mesmo assim, a vitória do governo parece próxima. Muitos argumentam que este crescimento da “presidenta” se consolidou com a melhoria da economia. Na semana passada, a pesquisa Datafolha reforçou isto, ao constatar que o eleitorado está mais otimista com o emprego e a inflação. Alguns indicadores divulgados vieram melhores nesta linha, como a inflação mais comportada (IPCA-15 a 0,48% em outubro), o desemprego estável (4,9% da PEA em setembro) e a indústria reagindo por dois meses seguidos (0,7% em julho e agosto). Acreditamos que (caso confirmada) a reeleição de Dilma terá sido possível por uma série de fatores, como a tática de desconstrução adotada contra os adversários, a máquina pública favorável, os vários palanques regionais com ampla base de apoio, a reconquista da liderança em MG, o aumento da vantagem no NE e o “velho apelo populista” no eleitorado de baixa renda.
Façamos então algumas considerações sobre o que foi esta eleição e tracemos os cenários dos candidatos (com maior probabilidade para Dilma). Neste caso, são duas possibilidades: a da “presidenta” reeleita (70%) e do candidato do PSDB em 30% (vocês já saberão disto, mas para evitar surpresas, tratemos de colocar estas duas opções).
Disputa eleitoral– Foi uma das eleições mais acirradas da história do país, só comparável a 1989 e 2002. Várias foram as idas e vindas. A disputa começou com Aécio e Dilma na frente e a chapa Eduardo Campos-Marina ganhando musculatura para 2018. Em agosto, com o trágico acidente de Campos tudo virou e Marina surgiu como opção, “esvaziando” um pouco a candidatura Aécio. Em alguns momentos, no mês de setembro, Aécio chegou a 14% e muitos já achavam como consolidada a disputa entre Marina e Dilma.
No entanto, numa campanha que primou pela desconstrução, Dilma conseguiu praticamente liquidar a candidatura Marina e acabou viabilizando a ida de Aécio Neves para o segundo turno. Deu Dilma e Aécio na reta final e a tática do PT foi a mesma, colocando o PSDB na defensiva. Não que eles não tivessem também argumentos contra os vários casos de corrupção do ciclo PT no poder, mas estes se muniram da “tática do medo”, empregada com sucesso por Collor, tentaram angariar votos com ameaças de “volta ao passado” (o que quer que isto signifique), numa clara alusão ao período conturbado de crises cambiais no governo FHC em comparação ao ciclo de abundância de liquidez externa que o governo Lula herdou. Neste embate, Dilma veio conquistando o voto dos indecisos, na defesa da velha moral conservadora brasileira e com ataques pessoais ao candidato do PSDB (Lei Seca, agressão às mulheres, etc). Como dito acima, ainda não sabíamos o resultado das eleições, mas até sexta-feira passada a estratégia de marqueteiros de Dilma parecia lograr êxito.
Estratégia do governo eleito – Façamos então uma análise sobre a possibilidade forte de reeleição de Dilma, mas não descartemos a opção Aécio. Para a primeira, a probabilidade é de 70%, para Aécio, 30%.
Cenário Dilma– Acreditamos que ela deve dar continuidade à política econômica atual, mas com algumas variantes. É possível que ela já indique, nesta semana, o futuro ministro da Fazenda, com alguns nomes surgindo, como Nelson Barbosa, antigo desafeto de Mantega, Aloísio Mercadante e Otaviano Cannuto, diretor do Banco Mundial, estes “correndo por fora”.
Neste cenário, o esforço maior será de reconquista de credibilidade, com dúvidas se bem-sucedido. Uma tese é de que deve tentar melhorar a gestão fiscal, definindo uma meta mais próxima a 2,5% do PIB. O novo ministro da Fazenda deve anunciar uma programação fiscal dos próximos dois anos, com o governo ajustando despesas e receitas. Em 2015, saldo primário deve ficar próximo a 2% e em 2016 em 2,5%.
Sobre a política monetária, mudanças podem ocorrer caso a inflação se afaste muito da meta. Taxa de juros pode ir a 12% em 2015. Há, no entanto, os que defendem a manutenção da taxa já que as perspectivas de crescimento em 2015 são ruins. Soma-se a isto a política de subsídios do BNDES, mas esta deve começar a ser “esvaziada”, dado o alto endividamento contraído pelo Tesouro, acima de R$ 460 bilhões.
Entre outubro e dezembro de 2014 e início de 2015, período chamado de transição, com o governo anunciando sua equipe, pela desconfiança do mercado o dólar deve apreciar, assim como o risco país se manter elevado, podendo colocar o Brasil no caminho de um rebaixamento pelas agências de rating. Tudo dependerá do que for anunciado. Caso o governo reeleito opte por um “freio de arrumação na economia”, será possível uma trajetória da economia mais controlada em 2015 e o adiamento deste rebaixamento.
Cabe ressaltar também como será a vitória de Dilma, com maioria folgada ou apertada. Sendo folgada, sua visão será de que a sociedade concordou com as políticas adotadas até o momento. Teremos um governo de continuidade. Por outro lado, caso seja uma vitória apertada, ajustes mais fortes acabarão inevitáveis, sob a vigilância de uma oposição que deve ganhar espaço na cena política no quadriênio do governo eleito.
Sobre a política cambial de 2015, é possível que o BACEN comece o ano mantendo a estratégia atual de swap, com o desmonte gradual ao longo do ano. Importante frisar que já foram vendidos no mercado futuro mais de US$ 100 bilhões em contratos. Esta política está atrelada também ao timing para o início do ciclo de elevação de juro pelo Fed.
Cenário Aécio – Haverá uma mudança forte na forma de governar e na configuração das políticas macro e microeconômicas. Será uma gestão econômica mais amigável aos mercados. Na Fazenda, Armínio Fraga é o nome confirmado. Para o BACEN, um nome ventilado é o de Pedro Bodin, da PUC. Como assessores próximos ou ocupando outras áreas no chamado “núcleo duro” do governo Aécio, teríamos, da PUC, Gustavo Franco, Edmar Bacha e Pérsio Arida, da FGV, Samuel Pessoa, e do IPEA, Mansueto Almeida. Só esta equipe econômica já seria suficiente para um grande ganho de credibilidade dos investidores.
Em resposta o momento atual, de perda de confiança, o governo eleito deve aproveitar uma breve trégua com o Congresso em início de mandato, na chamada “lua de mel de 100 dias”, para colocar as reformas na pauta, com destaque para a tributária. Somado a isto, o BACEN deve começar a desmontar a política de swap, já que os investidores externos devem retornar ao país. Em complemento, deve começar uma política monetária mais cautelosa, com a elevação da taxa de juros de 11% para 12%, visando o objetivo da política monetária de alcançar a meta de inflação de 4,5% no final do segundo ano de mandato ou em 2017.
Em paralelo, o governo deve anunciar uma política fiscal sustentável no longo prazo, com vários ajustes necessários, sendo importante que seja “imune e transparente para a sociedade”. Propõem-se a definição de uma meta de longo prazo, com as despesas evoluindo abaixo do crescimento do PIB. Este possível choque de gestão do governo Aécio deve começar a derrubar a inflação, já que os agentes deixaram de adotar decisões defensivas, visando manter suas margens, como no governo Dilma. O saldo primário deve no primeiro ano se elevar a 2,0% e, nos anos seguintes, próximo a 2,5% e 3,0%. Isto abrirá espaço para reduzir o juro ao longo de 2016.
Sobre a política cambial, a eleição de Aécio deve representar uma melhoria de ambiente, aumentando o ingresso (ou retorno) dos investidores externos e a apreciação cambial num primeiro momento. Depois, com a possível elevação do juro nos EUA, entre 2015 e 2016, e a desmontagem das operações de swap, deve ocorrer alguma depreciação cambial.
Conclusão– Se Dilma Rousseff for reeleita, o mundo não acaba para o mercado, mas será necessário um período de readaptação e de muito convencimento. Como já dito, Dilma terá que anunciar uma série de medidas mais amigáveis para reconquistar a confiança dos agentes econômicos. Se partir para a confrontação, dificilmente terminará seu mandato com boa governabilidade.
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