O governo ganhará muito se desistir, enquanto ainda há tempo, da mania de achar que a improvisação e as criticas à oposição são os únicos caminhos para chegar em segurança ao dia 31 de dezembro de 2018. Se tais hábitos forem substituídos por um pouco (um pouquinho só) de profissionalismo, a presidente Dilma Rousseff pode ter algum sossego e talvez até recupere um naco da popularidade que deixou escapar entre os dedos. Infelizmente, para ela e para o Brasil, nada indica que isso acontecerá. Muito pelo contrário: os movimentos mais recentes levam a crer que o Planalto insistirá nas notas desafinadas que, até aqui, têm sido as responsáveis pela falta de melodia, ritmo e harmonia da atual administração.
[su_quote]A presidente precisa por ordem no próprio terreiro antes de procurar na oposição os culpados pelos dissabores que enfrenta[/su_quote]
A semana especialmente rica em tiros no pé começou com o anúncio da intenção de podar uma dezena na penca de 39 ministérios pendurada na Esplanada de Brasília. Em seguida, veio a atabalhoada entrada em cena do debate sobre a volta da CPMF — o velho imposto dos cheques. Para citar um último exemplo de falta de bom senso, basta mencionar o discurso da presidente na quinta-feira, durante a cerimônia em homenagem aos atletas que representaram o Brasil nos jogos Panamericanos de Toronto. Numa solenidade em que poderia ter demonstrado grandeza, ela voltou a se apequenar ao acusar os adversários de desrespeitar o resultado das eleições.
Distorções impensáveis
O que cada uma dessas situações tem a ver com a outra? São partes que integram o todo das trapalhadas e da falta de rumo político do governo. Veja o caso dos ministérios. Até o mais parvo dos cidadãos sabe que, no Brasil, a quantidade de pasta é inversamente proporcional à eficiência na administração pública. E que esse número absurdo de 39 surgiu apenas para sossegar os partidos da “base aliada” com cargos que lhes permitam nomear amigos e liberar verbas a torto e a direito. O resultado da farra gerada por esse modelo se traduz na gestão sofrível e gera distorções impensáveis em qualquer país sério.
Veja, por exemplo, o caso do agronegócio, único braço da economia que ainda tem alguma capacidade de produzir novidades positivas — e que agora também começa a andar para trás. Ele está sujeito à fiscalização e à interferência de pelo menos três ministérios distintos: o da Agricultura, o do Desenvolvimento Agrário, o do Meio Ambiente. Uma pitada de ordem nessa bagunça seria desejável e necessária — e, nesse ponto, Dilma tem até razão ao falar em reduzir a quantidade de ministérios. Mas por que dez? Com que critério ela chegou a esse número? Por que não nove? Ou doze? Quais pastas sobreviverão e quais deixarão de existir?
Por tudo o que se vê, a presidente precisa por ordem no próprio terreiro antes de procurar na oposição os culpados pelos dissabores que enfrenta. No Brasil de Dilma Rousseff, o governo é o pior adversário do governo.
Fonte: Hoje em Dia, 30/08/2015.
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