A profusão de candidatos de centro nessa disputa presidencial mostra o total descolamento de parcela da classe política diante da realidade do país e dos desejos do eleitor. Vivemos um momento polarizado, o ápice de um ciclo de 30 anos que iniciou-se com a Nova República e que agora chega ao seu final. Nesses momentos, o eleitorado mostra uma tendência de voto em candidatos que prometem uma mudança profunda de rumo nos destinos do país.
Assim, não deixa de ser curiosa a opção de tantos candidatos pelo chamado centro, que possui estratégia diametralmente oposta ao movimento do eleitor. O que não surpreende é que os centristas, até o momento, ainda não decolaram. Este bloco tenta seguir unido na disputa presidencial. Contudo, dificilmente embalam durante a disputa. Mesmo entre seus representantes já existem aqueles que, cientes da inviabilidade eleitoral, aderem aos candidatos que pontuam de forma relevante nas eleições presidenciais.
Essa mudança de fundo cíclica operada pela sociedade brasileira tende a mudar as bases do tecido que constitui os alicerces políticos da República, trazendo elementos diferentes que, aos poucos, formarão uma nova correlação de forças. A entrada de membros da magistratura e do Ministério Público na política é um primeiro sinal dessa mudança de representação, que deve ser acompanhada pela eleição cada vez maior de líderes evangélicos de cunho neopentecostal, além de âncoras e apresentadores populares dos meios de comunicação. Essa mudança está em curso e será sentida durante a nova formação dos quadros parlamentares no Congresso Nacional. Os políticos tradicionais já estão perdendo preciosos votos para esses movimentos.
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Para além disso, esses grupos possuem uma agenda própria, sufocada pelos últimos governos e que, finalmente, desejam reagir e ter voz. A pauta ainda é difusa, mas toca em temas centrais, como o duro combate aos corruptos, resgate dos valores conservadores, briga sem tréguas contra a criminalidade, entre muitos outros. Essa vertente do eleitorado, órfã durante muitas eleições, parece ter encontrado rumo neste ano.
Se do lado conservador parece haver cada vez mais unidade, a esquerda ainda busca seu representante. Com a prisão daquele que forneceria voz para sua agenda, outros buscam viabilizar-se em cima de seu eleitorado. A reação dos grupos ligados ao petismo e seus satélites tendem a constituir-se como a força oposta nas eleições, polarizando a disputa e o debate, um enfrentamento entre a agenda em curso diante de um crescente movimento conservador.
Existe um vácuo no centro, entretanto, este lugar não permanece vago pela falta de alternativas, mas pela falta de interesse do eleitor em sua agenda. Aqueles que insistirem em transitar por este caminho, tendem a sucumbir, como estamos vendo neste processo eleitoral. A política brasileira está passando uma mudança profunda e aqueles que não entenderem este movimento, ficarão de fora do próximo capítulo.
Fonte: “O Tempo”, 02/07/2018