Um alerta à Dilma Rouseff e a Guido Mantega: para voltar a crescer, até acima dos níveis desejados, o Brasil precisa contar com a pequena empresa. Sem a participação das pequenas, o desenvolvimento não ganhará ritmo, não terá a impulsão desejada. Querem que o Brasil cresça? Pois chamem os pequenos, convoquem os pequenos, incentive, mas incentive para valer, a pequena empresa. Esta é a receita que nos dá a realidade dos últimos 30 anos.
Devastado por duas enchentes consecutivas no início dos anos 1980, Santa Catarina entrou em crise profunda. Havia 250 mil desempregados no estado. Uma indústria têxtil de Blumenau abria uma vaga para tecelão e formavam-se filas quilométricas para disputá-la.
O governador era Espiridião Amin. Começou a ser pressionado fortemente a criar incentivos para a pequena empresa por uma associação de Blumenau, sob a liderança do economista Pedro Cascaes Filho. Amin reagiu. Aprovou na Assembleia um estatuto da pequena empresa oferecendo assim vários incentivos ao segmento. Uma semana após a aprovação do estatuto, Santa Catarina saiu da crise. O índice de desemprego caiu a praticamente zero.
É incrível como esses registros históricos da extrema capacidade da pequena empresa em dar emprego, em fazer a roda da economia girar com mais intensidade, perdem-se no tempo e ninguém presta muita atenção neles, sequer na hora em que o governo federal acelerar o desenvolvimento.
Pedro Cascaes Filho organizou a associação de Blumenau e partiu em seguida para a implementação do movimento da pequena empresa com amplitude nacional. Mais recentemente, escreveu um livro sobre a aventura que viveu no decolar impetuoso do movimento de união dos pequenos. O livro chama-se “Prosperidade reprimida”. Vejam só que coisa feia: além de não darmos a menor atenção ao valor dos pequenos empresários ainda somos capazes de reprimir suas iniciativas políticas.
As sementes pulverizadas por Cascaes em todas as regiões do país vicejaram. O movimento dos pequenos tem hoje mais de 400 associações e sindicatos espalhados pelo Brasil. Pessoas abnegadas estão à frente dessas entidades. A luta, contudo, é inglória. O Brasil é muito desajeitado no modo de entender e lidar com os pequenos. Sequer compreendeu até agora que os diferentes – os pequenos – precisam ser tratados por suas diferenças.
Há o Simples e o Super Simples, que ainda permanecem como programas de natureza extremamente fiscalista; há debates sobre a introdução de um Simples Trabalhista, ou seja, a introdução de um programa que libere as pequenas de tantos encargos com o trabalho, o que só faz aumentar o custo do emprego num momento em que precisamos criar milhões de empregos. Dizem que o Simples Trabalhista fica pronto só no ano que vem. Será?
A promessa de campanha de Dilma Rousseff, da criação do Ministério da Pequena Empresa, parece ter sido esquecida. No esforço do governo pela redução dos juros, surgem bancos que oferecem crédito aos pequenos, mas é tudo descoordenado com os reais interesses do segmento.
Dilma Rousseff, Guido Mantega, chamem os pequenos e chamem depressa. Não se esqueçam de que eles só serão encorajados a contratar e a investir se forem contemplados com um amplo plano de incentivos: crédito fácil e barato, com carência de dois a três anos para início de pagamento; redução da carga tributária; desoneração da folha de pagamento; nenhuma burocracia na hora de abrir e, principalmente, na hora de fechar uma firma. E por aí vai. Querer que o Brasil cresça sem olhar para a pequena empresa é como exigir que um velocista ganhe a prova de cem metros rasos com uma das pernas engessadas.
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