A disputa eleitoral brasileira tem uma característica marcante: a ausência de embate aprofundados. Considerando que o modelo vigente é o aceito pelo mundo político, não existe um embate de idéias nem de programas.
Todos são a favor de programas assistenciais, de alguma intervenção na economia, de elevada carga tributária, de políticas industriais e de empresas estatais.
O debate ideológico ocorre na franja da política nacional. Notadamente na esquerda radical composta de micro legendas (PSTU, PCO e PSOL). Na direita, o debate é rarefeito e praticado por algumas poucas figuras. Nenhum partido assume posturas de direita.
O que sobra é uma extensa centro-esquerda, cujas fronteiras se iniciam no PTB e vão até o PCdoB. E incluem PP, PR, DEM, PMDB, PSDB, PPS, PV, PT, PDT e PSB. Sem debate de idéias e de programas, o que sobra é uma resenha de ataques, fofocas e escaramuças jurídicas.
Na semana passada, declarações duras e mal educadas se misturaram com o início da guerrilha jurídica eleitoral. Os eventos deram a tônica do que poderá ser o debate eleitoral deste ano.
Até mesmo pelo fato inconteste de que o modelo vigente é amplamente aprovado pela população e não existe, ao que parece, cansaço do eleitorado com relação às políticas públicas.
Tal situação pode indicar que a trilha eleitoral não deverá passar pelo questionamento do modelo. Mas sim, pela capacidade de fazer mais e melhor, pelos efeitos colaterais de um eventual escândalo e, ainda, por ataques pessoais e reflexões sobre temas como carisma e transferência de votos.
Porém, isso não é tudo. Não vemos uma reflexão aprofundada sobre outros aspectos importantes: máquina estatal federal; máquina estatal estadual; papel da mídia eletrônica e os palanques estaduais. Nesses quesitos, a balança pende para o governo.
A única dúvida é com relação à mídia eletrônica. Em 2006, as redes de televisão pouparam Lula dos efeitos mais nocivos do mensalão. Apesar de o PT achar que não, a situação de Lula poderia ter sido muito pior se os ataques fossem centrados no presidente.
Ficou ruim, apenas, quando ele deixou de ir à Rede Globo para um debate e, ainda, por conta da explosão do escândalo dos aloprados.
Agora, no início de 2010, o cenário da relação do governo com a grande mídia eletrônica não é bom. Duas iniciativas turvaram as relações: as propostas da Confederação Nacional das Comunicações e o Plano Nacional de Direitos Humanos.
Em ambas se encontram propostas que desagradaram a mídia de forma bastante aguda. E acenaram com o espectro de uma “cubanização”.
Lula, Serra e Dilma – os três principais protagonistas da campanha – devem refletir muito sobre como se relacionar com a mídia. De longe, Lula é o melhor. Mas está fora da disputa. Dilma ainda não encontrou o tom e Serra também está em busca de como se posicionar melhor.
Coincidentemente, ambos os grupos reclamam da mídia. Figuras próximas de Serra dizem que a mídia “se vendeu” para o governo e, do lado do governo, parece existir uma imensa mágoa com os grandes grupos de comunicação.
Toda a retórica aqui empregada prova que o debate eleitoral estará posto a partir de alianças, capacidade de comunicação e de se relacionar bem com a mídia e a ocorrência de eventuais escândalos.
Infelizmente não haverá uma reflexão aprofundada sobre o modelo. A falta de divergências programáticas e ideológicas pode ser o prenúncio de uma temporada de chutes, caneladas e pontapés.
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