O diretor de cinema e teatro, Moacyr Goés, participou do ciclo “Liberdades” promovido pelo Instituto Millenium em parceria com a Casa do Saber Rio, na última terça-feira, 4 de junho. Na palestra “Liberdade e servidão consentida”, Góes defendeu a ideia de que o mercado esteja ligado ao processo de criação que envolve a arte: “A obra é um produto e pode estar inserida no mercado, pois ele viabiliza a construção artística e a originalidade. Não acredito na ideia da perda de valor quando a obra entra em contato com a indústria ou com fatores econômicos”, afirmou.
Como exemplos, o diretor apontou a construção da Capela Sistina, o legado artístico de Wagner e “toda obra estruturante ocidental”. “Poucos foram como Van Gogh”, afirmou, ao exemplificar a ausência do mercado no processo artístico.
Cultura e Estado no Brasil
Ao ser questionado sobre a cultura nacional, Góes falou sobre a diferença entre o desenvolvimento da música e do cinema no país: “A música brasileira se estabeleceu fora das leis de incentivo. É uma das poucas manifestações artísticas que começaram a constituir uma indústria independente. Isso tornou o acesso facilitado. Não é o caso do cinema nacional que, sempre dependente do Estado, nunca conseguiu estabelecer uma indústria”. Góes foi enfático: “A relação de dependência do cinema brasileiro produziu um divorcio entre os filmes e o público”, ressaltou.
Lei de incentivo
O diretor mostrou uma postura crítica à metodologia da Lei Rouanet. Para ele, o acesso às produções financiadas através do incentivo deve ser repensado: “Nós, artistas, pedimos dinheiro público para a viabilização dos nossos projetos, mas a contrapartida nunca é trabalhada. É função do Estado e da classe artística refletir e promover o acesso a esses bens culturais. Muitas pessoas, em última estância, pagam por algo que nunca vão ver. Há a necessidade da prestação de contas. Do contrário, a lei traz benefícios de forma desigual”.
Góes acredita na reestruturação da lei: “Um museu, algo que traz retorno à população, socialmente e economicamente, não pode ser financiado da mesma forma que um mega-show de um ídolo sertanejo”. “O acesso à cultura e muitas outras questões precisam ser reavaliadas”, afirmou.
Estado de Direito
Moacyr Góes finalizou a penúltima palestra do ciclo “Liberdades” falando sobre questões relacionadas ao Estado de Direito e a sua importância para o desenvolvimento humano: “O Estado é essencial para garantir a conquista civilizatória. Só ele garante e protege as liberdades individuais e a garantia do livre exercício artístico. Por isso, ele deve se concentrar em não interferir demais na vida dos cidadãos”, finalizou.
Os mega-shows sertanejos não têm sido financiados pelo Estado através da Lei Rouanet. Esses artistas são os que menos pedem dinheiro ao Estado. Ao contrário dos medalhões da MPB como Maria Betânia. Quem vai decidir o que beneficia maior número de pessoas? Qual Arte é boa? Qual Arte é ruim?