Para o indiano Yeswant Abhimanyu, de 27 anos, especialista em cidades inteligentes, as gerações mais jovens já estão empregando alguns conceitos da metrópole do futuro, com menos carros e mais transporte compartilhado, e essa nova forma de planejamento urbano tem gerado uma série de oportunidades de negócios — desde o uso cada vez maior de aplicativos de transporte à volta do mercadinho de bairro.
As mudanças que as novas tecnologias proporcionarão no mercado imobiliário serão debatidas no Summit Imobiliário Brasil 2017, promovido pelo “Estadão”, em parceria com o Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). O evento acontecerá no dia 4 de abril. A seguir, trechos da entrevista concedida por Abhimanyu.
O conceito de cidades inteligentes e com mais mobilidade está deixando de ser algo distante?
Se olharmos para São Paulo, por exemplo, onde moro há cerca de quatro anos, as mudanças são enormes. Há mais avanços em alternativas de mobilidade, mais investimentos em infraestrutura. Hoje, discute-se a melhor forma de construção de ciclovias, uso de carros compartilhados. Tudo isso é novo, mas está acontecendo.
Mas essas modificações, como a ampliação de ciclovias, ainda enfrentam resistência…
De certa forma, mas eu não chamaria de resistência. Acredito que essas reações negativas são parte do desafio de se renovar o espaço urbano. Estamos falando de uma mudança cultural — e modificações culturais nunca são tão simples.
Esse conceito também vai trazer oportunidades de negócios?
Já está trazendo. Há oportunidades em energia, em mobilidade, em infraestrutura, saúde, educação. A tendência é que as cidades vejam o morador como um consumidor. Há exemplos, como o Porto Maravilha, no Rio de Janeiro, em que o espaço urbano é modificado para que o cidadão possa tirar melhor proveito dele, com comércio, transporte, espaços culturais. Em São Paulo, podemos perceber fenômenos espontâneos, como a volta dos mercadinhos de bairro, mesmo sob a bandeira de grandes redes, em áreas bem urbanizadas ou o sucesso de aplicativos como o Uber. Esses são exemplos concretos do quanto o mercado pode se beneficiar quando entende as novas demandas do consumidor.
Há uma nova geração que parece se preocupar menos em ter carros do que em viver em locais com opções de transporte compartilhado. Ela irá acelerar a mudança do conceito de cidade?
A questão é que essa nova geração, e esse é um fenômeno global, é mais aberta a utilizar os recursos que a cidade tem a oferecer. Ela quer melhorias no transporte público, poder deixar o carro em casa durante a semana e usar o transporte coletivo ou aplicativos. De muitas formas, as cidades do futuro já estão em construção. Os jovens estão bem próximos desses conceitos, querem ser parte da solução e não contribuir para o agravamento dos problemas urbanos. Paralelamente, assistimos em todo o mundo, inclusive no Brasil, ao envelhecimento gradativo da população. Vai ser preciso haver uma mudança em como as cidades serão desenhadas para seus moradores.
A busca por cidades mais integradas à tecnologia já tem afetado os lançamentos do mercado?
Sim, sem dúvida. O impacto dessa nova maneira de imaginar o espaço urbano é visível no mercado imobiliário. Os novos edifícios já são pensados para abrigar um espaço de coworking (ambiente compartilhado de trabalho), por exemplo, prevendo que a tendência será que as pessoas trabalhem mais a partir de casa e usem escritórios virtuais. Se pensarmos que, há apenas algumas décadas, seria impensável construir um condomínio sem vagas de garagem, a mudança de postura do mercado imobiliário realmente impressiona. As construtoras vão ter de se adaptar ao novo consumidor, mais consciente dos problemas de poluição, interessado em ter acesso a espaços de lazer para praticar exercícios e buscando formas de ser mais saudável. Além de preocupado em ser um cidadão melhor.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”, 30 de março de 2017.
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