*Por Guilherme Dadda/ Instituto Atlantos
Em 1961, a escritora norte-americana Jane Jacobs lançou a obra clássica do urbanismo teórico “Morte e Vida de Grandes Cidades”, enaltecendo as vantagens que um alto adensamento pode prover à uma grande cidade. No livro, diversas áreas são abordadas por Jane, como segurança pública, economia de mercado, transporte público e também aquele que é o tema deste artigo, o meio ambiente.
Quando pensamos em uma grande metrópole, é contra intuitivo atrelar isso a um contexto de menor dano ambiental, mas é exatamente isso que os pesquisadores Haroldo Ribeiro do Departamento de Física da Universidade Estadual do Paraná, Diego Rybski e Jürgen P Kropp, ambos do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre Impactos Climáticos da Alemanha, descobriram ao analisar a relação entre densidade e emissão de dióxido de carbono na atmosfera em cidades de pequeno, médio e grande porte.
Eles perceberam que um aumento de 1% na densidade de cidades com 10 mil habitantes em média geraram um aumento de 0,58% na emissão de CO2 em média, enquanto o mesmo aumento de 1% na densidade de cidades com em média 1 milhão de habitantes acarretou um aumento na emissão de apenas 0,44% em média. Isso mostra como as grandes metrópoles são mais verdes proporcionalmente, em comparação com subúrbios e cidades pequenas, deixando claro como elas podem servir como solução para os problemas climáticos atuais.
Quais as razões por trás da maior eficiência das grandes cidades?
Uma importante razão é o fato de que quanto mais pessoas vivem em uma pequena área, maiores são os incentivos para a oferta de serviços e produtos nesta curta distância, possibilitando-as de realizar grande parte de suas tarefas diárias caminhando ou andando de bicicleta, inclusive trabalhar, reduzindo drasticamente o uso de carro ou transporte público e por consequência, as emissões de CO2.
Outro fator que influencia é a eficiência energética proporcionada pelos prédios. Uma casa unifamiliar tradicional é exposta de todos os lados aos fatores do tempo, enquanto um apartamento é exposto em apenas um ou dois lados. Devido à menor exposição e a diferença de materiais usados na construção, os apartamentos usam muito menos energia para aquecer e resfriar a mesma metragem. Um estudo mostrou que uma casa americana típica gasta em média 100 milhões de BTU por ano para manter o controle de temperatura, enquanto um apartamento com a mesma quantidade de espaço em um prédio com mais de cinco andares usa em média 40 milhões de BTU no mesmo período.
Também é importante salientar a melhora significativa do transporte público propiciada pelo alto adensamento. Zonas periféricas e subúrbios costumam ser tão pouco adensados que é quase impossível prover um transporte público eficiente e de qualidade a todos, criando assim um círculo vicioso. Como já podemos perceber nas capitais e regiões metropolitanas brasileiras, a ineficiência no transporte público gera pessoas buscando resolver esse problema de forma individual. Essa busca individual gera aumento do uso de carros individuais, que, por sua vez, gera engarrafamentos, os quais geram ineficiência no transporte público, alimentando o ciclo.
O segundo maior prejudicado, atrás apenas das pessoas que perdem seu valioso tempo de vida em engarrafamentos, é o meio ambiente, que sofre com a quantidade cada vez maior de gases despejados na atmosfera em decorrência deste desgracioso processo.
Por último, mas não menos importante, é o fato de que a alta densidade possibilita que as cidades cresçam dentro de seus limites geográficos preestabelecidos, incentivando ao máximo o pleno uso de espaços já disponíveis e mal utilizados. Isso evita o desmatamento de novos terrenos ao redor das cidades, preserva ecossistemas inteiros e favorece espécies de animais e plantas que muitas vezes dependem desses locais específicos para sobreviver.
Essas alternativas podem servir para as cidades brasileiras?
Infelizmente, é perceptível o viés anti-adensamento estabelecido nos planos diretores Brasil afora, motivo pelo qual fomos extremamente prejudicados nas últimas décadas. Isso torna uma viagem a qualquer cidade mediana do exterior uma verdadeira viagem no tempo, do ponto de vista de mobilidade urbana, predisposição de estruturas públicas e privadas e de integração entre a cidade e aqueles que a habitam.
No entanto, como alternativa, neste e no próximo ano diversas das principais cidades brasileiras revisarão seus planos diretores e estabelecerão as novas diretrizes de desenvolvimento urbano em suas respectivas jurisdições para a próxima década. Será nosso dever contribuir com a discussão, ampliar o debate e incentivar o abandono das premissas erradas levadas em consideração para gerar planos diretores retrógrados e ineficientes no passado.