‘Tesourômetro’ inaugurado na UFRJ contabiliza cortes no orçamento federal para pesquisas e universidades desde 2015
A ciência brasileira está “perdendo” dinheiro a um ritmo de R$ 500 mil por hora, colocando em risco o presente e futuro da produção de conhecimento no país. A conta é do “tesourômetro”, uma espécie de relógio digital inaugurado nesta quinta-feira no campus da Praia Vermelha da UFRJ que exibe os cortes no orçamento público federal para as áreas de ciência e tecnologia e instituições de ensino superior este ano e no passado na comparação com 2015, num total que já passa da marca de R$ 11,1 bilhões.
A inauguração do “tesourômetro” também marcou o lançamento da campanha “Conhecimento sem cortes”. Promovida por professores universitários, cientistas, estudantes e técnicos de diversas instituições de ensino e pesquisa espalhadas pelo país, ela tem como objetivo monitorar e denunciar os cortes no orçamento para a área e suas consequências negativas para a sociedade brasileira, além de sensibilizar a população para o que se produz nas universidades e nos institutos de pesquisa.
— Está sendo perdida toda uma geração de pesquisadores, na qual o governo investiu nos últimos anos, seja na universidade, nos cursos de mestrado e doutorado, bastante dinheiro, e que hoje estão com dificuldade de continuar a suas pesquisas — disse à Agência Brasil Tatiane Roque, presidente da Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj). — A pesquisa científica é cumulativa e o que está se perdendo agora não se pode recuperar no futuro.
Estudantes sem condições de se manterem
Ainda de acordo com Tatiane, sem as bolsas do governo federal alguns estudantes universitários não têm como se manter, com os cortes afetando também o fornecimento de moradia via alojamentos, alimentação por meio de bandejões que necessitam. Isto sem falar na própria infraestrutura básdica de pesquisa.
— A pesquisa científica precisa de investimentos em material, em reagentes, precisa de laboratórios e também de pessoal para continuar a exercer seu trabalho — destacou.
Baseado em cálculos de economista Carlos Frederico Leão Rocha, professor da própria UFRJ, o “tesourômetro” considera só as verbas de custeio e investimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), das instituições de pesquisa e universidades, não levando em conta salários de professores, cientistas e funcionários administrativos.
Só no caso do MCTIC, o orçamento original deste ano, que era de cerca de R$ 5 bilhões e já apenas a metade dos aproximadamente R$ 10 bilhões registrados em 2013, sofreu no fim de março um contingenciamento radical de R$ 2,2 bilhões, ou 44%, para ajudar a cumprir a meta fiscal de 2017. Com isso, os recursos da Pasta regrediram a valores registrados 12 anos atrás, apontou a Academia Brasileira de Ciências (ABC) à época.
— Se estamos passando por uma crise no modelo econômico e de desenvolvimento, o que nós precisamos é justamente que se faça o contrário, que se invista em pesquisa, em formação de quadros, em pensadores que nos levem a sair dela (crise) — concluiu Tatiane.
Fonte: “O Globo”
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