Participei, na semana passada, em Dubai, do Fórum Global de Educação e Competências, em que personalidades de várias partes do mundo discutiram como educar a nova geração e, assim, mudar o mundo.
Pessoas como Juan Manuel Santos, ex-presidente da Colômbia, Tony Blair, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, os professores que estavam entre os finalistas do Global Teacher Prize e até a pequena Bana Alabed, que aos sete anos tuitava sobre a situação da Síria, falaram a respeito do que acreditam que deve ser feito para melhorar a educação.
Entre eles, chamaram-me a atenção dois palestrantes: Steven Pinker e Andreas Schleicher. O primeiro, autor de “O Novo Iluminismo”, ressaltava a importância da ciência e da razão na análise dos fatos e nos debates públicos.
Crendices, boatos e o viés de confirmação, em que só acreditamos naquilo que corrobora o que já pensávamos antes, vêm prejudicando uma discussão mais qualificada sobre o que ocorre ou mesmo acerca de dados de pesquisas.
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Lembrei-me disso ao ver a reação de muitos ao comentário do presidente brasileiro sobre um dos achados de uma pesquisa referente a crianças beneficiárias do Bolsa Família.
O pesquisador César Victora mostrou que o efeito da pobreza extrema (e não do sistema de transferência de renda) sobre o desenvolvimento intelectual delas era bastante perverso, o que viria a prejudicar, na falta de políticas sociais focadas, suas chances de futuro.
A leitura apressada dos resultados da pesquisa, em muitos casos nas redes sociais, mediados pela fala do presidente, levou alguns críticos do governo a desqualificarem as conclusões da investigação.
Andreas Schleicher, o criador e coordenador do Pisa, avaliação internacional de qualidade da educação, mostrou como a OCDE vem enfatizando, junto com o domínio do código letrado e do raciocínio matemático e científico presentes no exame, o ensino de valores para que jovens possam prosperar e viver em paz no século 21.
Há uma aparente contradição entre o que os dois pensadores levantam. Afinal é mais importante a ciência ou a ação baseada em valores?
Ambos são relevantes. Tanto a ciência como os valores são construídos historicamente, embora de formas distintas, mas sempre considerando as experiências que vivemos.
A partir deles elaboramos hipóteses que podem ser testadas e revisitamos nossos conceitos sobre o que é certo e errado para a vida em coletividade.
É, pois, a ciência, combinada com valores, que vai permitir às novas gerações, desde que educadas para tanto, construir avanços na constituição de uma sociedade menos excludente e rancorosa e, portanto, mais humana.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 29/03/2019