A História mundial está repleta de exemplos inspiradores. E a saga brasileira, também. Os defeitos pessoais e as limitações humanas dos homens públicos, inevitáveis e recorrentes como as chuvas de verão, não matavam a política. Hoje, no entanto, assistimos ao advento da pornopolítica e ao avanço de um inclemente deserto de liderança. A vida pública, com raras e contadas exceções, transformou-se num espaço mafioso, numa avenida transitada por governantes corruptos, políticos cínicos e gangues especializadas no assalto ao dinheiro público.
[su_quote]O espaço público é um deserto de princípios, de valores e de grandeza[/su_quote]
Não bastasse tudo isso, e não é pouco, o Brasil foi tomado por um grupo disposto a impor à sociedade um modelo ideológico autoritário de matriz marxista: o bolivarianismo. Optaram, esperta e pragmaticamente, pelo atalho gramsciano: o populismo democrático. O lulopetismo, como bem lembrou recente editorial do jornal O Estado de S. Paulo, “aplicou uma ‘nova matriz econômica’ que priorizou os investimentos de alto retorno eleitoral – como programas sociais que efetivamente ajudaram a tirar milhões de brasileiros momentaneamente da miséria, mas sem nenhuma garantia de efetiva inserção na atividade econômica – aliados a uma agressiva política de renúncia fiscal, para estimular a produção, e de ‘flexibilização’ do crédito popular, para estimular o acesso a bens de consumo. O populismo lulopetista optou por investir no retorno eleitoral imediato, relegando a plano secundário os programas de investimento de maturação mais lenta em bens sociais como educação, saúde, saneamento, mobilidade urbana, segurança, etc.”.
“De acordo com a constatação insuspeita de Frei Betto, nas favelas que se multiplicam por todo o País se encontram hoje barracos devidamente equipados com geladeira, eletrodomésticos, televisores moderníssimos, às vezes até mesmo carros populares e outros objetos de consumo, mas quando saem porta afora as pessoas não encontram escolas, postos de saúde e hospitais decentes, transporte público eficiente e barato, segurança adequada, enfim, os bens sociais que são muito mais essenciais a um padrão de vida digno do que os bens de consumo que lhes oferecem a ilusória sensação de prosperidade”, concluiu o editorial.
O bolivarianismo tupiniquim, estrategicamente implantado por Lula, rendeu bons resultados aos seus líderes: muito poder e muito dinheiro. Não contaram, no entanto, com três fatores complicadores: a força inescapável da realidade econômica, o papel da liberdade de imprensa e a independência das instituições.
A política econômica populista, que, como hoje se constata, não tinha possibilidade de se sustentar, provocou a catastrófica crise que aprisionou Dilma Rousseff no figurino de um zumbi, reduziu a pó o capital político do PT e transformou Lula num náufrago que se agarra à miragem de sua candidatura em 2018. Não vai funcionar. Lula é um manipulador, mas tudo tem limites. Armado de um cinismo afiado, procura transformar irresponsabilidade fiscal em pedalada social. Uma tentativa, mais uma, de lançar pobres contra ricos. Mas a mentira não se sustenta.
Como bem lembrou a jornalista Miriam Leitão, “a maior parte das pedaladas fiscais não foi feita para beneficiar os pobres, mas sim os muito ricos através dos subsídios para as grandes empresas no Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do BNDES. Das pedaladas de R$ 40 bilhões, R$ 6 bilhões foram de atrasos à Caixa Econômica para os pagamentos de programas como Bolsa Família. A maior parte da dívida é com programas do bolsa empresário”. A população sentiu a mordida da traição populista: desemprego, inflação, saúde que definha nos corredores da morte do SUS.
A liberdade de imprensa, tão execrada pelos caciques bolivarianos, está cumprindo sua missão. O jornalismo, sem as mordaças que alguns defendem e livre de quaisquer tentativas de cooptação, tem um papel decisivo no processo de recuperação do Brasil. Denunciar a corrupção é um dever irrenunciável. Lula manifesta crescente irritação com o trabalho da imprensa independente. Seus sucessivos e raivosos ataques à mídia, balanceados com declarações formais de adesão à democracia, não conseguem mais esconder seus dragões interiores. Lula está desesperado com o avanço da Lava Jato.
Os brasileiros, trabalhadores e honrados, olham com crescente esperança para as instituições da República. Lula e Dilma, frequentemente, exaltam o mérito do governo de estar investigando a corrupção “pela primeira vez na História do Brasil”. Cinismo fantástico!
Em primeiro lugar, amigo leitor, o governo não está apurando nada. Ao contrário. Está sendo investigado. O juiz federal Sergio Moro não é um contínuo do Palácio do Planalto. É representante de outro Poder da República. A Polícia Federal, independente e eficiente, não é um departamento subordinado aos interesses, caprichos e ordens da doutora Dilma Rousseff.
A Operação Lava Jato vai compondo um quadro de corrupção que arranhou gravemente a história, a saúde financeira, a marca e o futuro de um ícone do Brasil: a Petrobrás. Lula e Dilma, queiram ou não, estão no olho do furacão.
O panorama de ampla, geral e irrestrita bandalheira escancarado pela divulgação diária de novas e escandalosas pilhagens, acordos e chantagens põe o Brasil diante do risco da banalização da safadeza, que pode matar a indignação, destruir a esperança e causar indesejável fatalismo. É isso, caro leitor, que a bandidagem quer. Mas é isso que você, brasileiro honrado, não pode aceitar.
A crise econômica e política é gravíssima. Mas a sua raiz é ética e moral. O espaço público é um deserto de princípios, de valores e de grandeza. Virar o jogo não depende de salvadores da pátria, mas de trabalho, honestidade e competência. A democracia tem o melhor remédio: o voto. O Brasil vai ganhar o jogo.
Fonte: O Estado de S.Paulo, 26/10/2015.
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