Apesar da tecnologia e dos serviços de previsão, o clima é ainda o principal fator de risco para a produção agrícola, dizem especialistas ouvidos pelo UOL. As perdas podem ser dramáticas, mas existem formas de minimizá-las. Há até seguro contra isso.
“A agropecuária é afetada por adversidades climáticas que prejudicam a produtividade, considerando que, no período de desenvolvimento das plantações, a ocorrência desses fenômenos reduz o potencial produtivo, que pode resultar em perda parcial, total ou ainda inibir o plantio da lavoura no período adequado, resultando em menor produção na colheita”. – Pedro Loyola, diretor do Departamento de Gestão de Riscos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Para Cláudio Brisolara, chefe do Departamento Econômico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), praticamente todos os fenômenos climáticos podem ser prejudiciais às culturas, dependendo da intensidade e da fase de desenvolvimento das plantas. Veja os exemplos:
Estiagem e seca: podem impedir a semeadura, atrapalhar o crescimento das plantas, abortar flores e frutos e diminuir a quantidade e qualidade dos frutos e grãos
Excesso de chuvas: pode causar a morte de plantas e afetar a qualidade dos produtos
Geada: pode necrosar tecidos, estragar os frutos e matar as plantas
Granizo: pode danificar as plantas e os frutos
Ventos fortes: podem causar tombamento de plantas e queda dos frutos
Temperaturas extremas: podem causar abortamento de flores e frutos
Tempestades, granizo, vendavais, ondas de calor, longas estiagens etc. são eventos meteorológicos extremos que podem levar a perdas significativas e até totais da produção em determinado ano.
Giampaolo Pellegrino, pesquisador de modelagem agroambiental e mudanças climáticas da Embrapa Informática Agropecuária
De acordo com dados do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), do Ministério da Agricultura, de 2006 a 2019, as principais adversidades que influenciam a agricultura e geram indenização de sinistros de seguro agrícola são:
Estiagem agrícola ou veranicos (pouca água): 49,8%
Granizo: 27,3%
Geadas: 11,6%
Chuva excessiva: 8,1%
“Esses fenômenos representaram entre 2006 e 2019 o total de 96,9% de todas as indenizações de seguros rurais. Entre as culturas mais afetadas, destacam-se a soja, milho de segunda safra, trigo, maçã e uva”, Pedro Loyola.
Mudanças climáticas afetam ainda mais a agricultura
José Luiz Tejon Megido, professor da Fecap e especialista em agronegócio, diz que as mudanças climáticas de grandes impactos podem transformar regiões agrícolas em áreas inviáveis para produção de alimentos.
Dessa forma, a compreensão do efeito estufa e da preservação de matas e árvores e o uso do conhecimento do plano ABC [agricultura de baixo carbono] no Brasil são de gigantesca importância.
Para ele, o uso da ciência e da informação digital confere possibilidade de aumentar a gestão de fatores incontroláveis, como o clima.
Medidas que o produtor pode tomar
Produtores rurais podem adotar estratégias prévias ao cultivo, para tentar minimizar os riscos, de acordo com os especialistas.
Contratar seguros rurais para minimizar as perdas ao recuperar o capital investido na sua lavoura. Pode ser apenas para proteção de fenômenos climáticos (seguro de produtividade ou custeio) ou para proteção simultânea de eventos climáticos e de oscilações de preço nos mercados (seguro de receita ou faturamento).
Ter um planejamento adequado, analisar a área, o padrão climático da região e adequação da cultura, cultivares ao tipo de solo e clima.
Utilizar, em alguns cultivos, estruturas físicas para se proteger de determinados eventos, como telas para evitar danos por granizo aos frutos de plantas perenes.
Acompanhar os boletins climáticos e prognósticos para cada ano-safra. O produtor deve ajustar área plantada e o período de plantio às previsões meteorológicas.
Usar inteligência artificial para auxiliar no processamento dos dados para identificar padrões climáticos, fazer previsões sobre esses padrões e auxiliar os produtores na tomada de decisão.
Com essas estratégias, os produtores podem gerenciar o risco agropecuário, de modo a manter a sustentabilidade financeira do negócio no longo prazo.
Fonte: “Claudia Varella, para UOL”, 12/11/2020
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