Os mercados começam a respirar aliviados, passado o surto recessivo ocorrido ao fim do ano passado e início deste, sendo fato relevante a pronta intervenção das autoridades econômicas, tanto dos países ricos como dos emergentes.
Sem dúvida que a crise, embora dúvidas ainda permaneçam sobre o seu desenlace, acabou se mostrando mais rápida do que se previa no início do ano. Recordemos que em janeiro poucos se atreviam, com segurança, a prever esta rápida superação, como de fato vem ocorrendo. Os formatos de crise eram os mais variados, sendo até introduzido uma literatura baseada em várias letras, como U, V, W, ou mesmo L, pela qual a economia derraparia numa interminável recessão, mais longa que por qualquer um esperado.
O que se verifica, no entanto, é a economia global evoluindo dentro de uma lógica de “U”, com um mergulho forte e uma lenta retomada. Os dados recentes, aliás, ajudam a visualizar isto, como no caso do PIB norte-americano, tendo mergulhado com queda de 6,4% no quarto trimestre do ano passado, para cerca de –1,0% no primeiro deste ano. Este dado, acabou divulgado na semana passada, dentre outros. A agenda neste período, aliás, foi bem cheia. Tivemos, no Brasil, dados fiscais, externos e monetários. Os primeiros mostraram alguma deterioração, reflexo da trajetória preocupante das despesas permanentes, com a arrecadação recuando, os segundos mostraram uma demanda externa ainda fraca e os últimos registram uma boa evolução, ainda que sustentada pelos bancos públicos. Vejamos, então, o que foi destaque no cenário doméstico, com comentários pertinentes.
No cenário doméstico, destaque para os dados monetários, com o volume de crédito tendo chegado próximo a 45% do PIB em julho deste ano, mesmo que impulsionado por bancos públicos, com destaque para o BNDES, injetando recursos na Petrobras. Deve-se destacar, também, o grande volume de crédito direcionado para o mercado imobiliário, segmento de bens duráveis, bem como o consignado, sem esquecer o importante papel do setor público. As expectativas para os próximos meses é de que este volume evolua ainda mais, quando começa o ciclo de encomendas da Indústria. Internacionalmente, inclusive, observa-se o potencial de crescimento para o setor imobiliário – representando apenas 2% do PIB -, já que este segmento pouco evoluiu nos últimos anos, engolido sempre por alguma crise. Na tabela a seguir observa-se como o volume de crédito do Brasil se encontra baixo se comparado ao resto do mundo. Será importante, no entanto, que este crescimento evolua sob bases consistentes, sem os excessos como os ocorridos na economia norte-americana, onde o volume de crédito imobiliário representa cerca de 80% do PIB, quando analisados os “recursos livres”.
Uma preocupação diz respeito ao aumento da inadimplência neste ano, na sua maioria concentrada em empresas de pequeno porte. As parcelas dos empréstimos com atraso acima de 90 dias chegou a 5,9% das operações.
Outros dados em destaque vieram com o setor externo ainda no vermelho. Em julho, o saldo em conta corrente foi negativo em US$ 1,66 bilhão, decorrente da perda de força do saldo comercial, aumento das remessas de lucros e dividendos e das viagens internacionais. No ano, o saldo em conta corrente foi negativo em US$ 8,74 bilhões. Com isto, a conta de serviços registrou déficit de US$ 1,5 bilhão, recuando 1,9% contra o mesmo mês do ano passado. Dentre os outros itens em alta, destaque para aluguel de equipamento (48,1%) e seguros (111,5%). Sobre os investimentos externos diretos, estes registraram ingresso líquido de US$ 1,28 bilhão, totalizando US$ 13,97 bilhões, indo a US$ 39,05 bilhões em 12 meses (2,94% do PIB). Os investimentos em carteira totalizaram US$ 7,5 bilhões, com os em ações e em renda fixa totalizando ingressos líquidos de US$ 7,6 bilhões. Por fim, as reservas cambiais fecharam julho em US$ 211,9 bilhões. Estes dados são um indício de reversão do pior da crise, dada a melhoria no ingresso de investimentos externos diretos financiando o saldo externo negativo.
Pelo lado fiscal, o saldo primário acabou recuando 71%, registrando superávit primário de R$ 3,18 bilhões. No acumulado ao ano, o superávit foi a 2,25% do PIB, sendo que o governo trabalha com uma meta de 2,5% do PIB para este ano. Para os próximos meses, neste ano, o governo deverá queimar toda margem de manobra disponível, o que significará usar o PPI, devendo gerar um superávit primário de cerca de 1% do PIB. Lembremos que esta gordura não leva em consideração o uso do Fundo Soberano, a ser deixado para o próximo ano. Este é um dos pontos nevrálgicos da gestão pública do governo Lula. A trajetória das despesas públicas, claramente, é insustentável com a perda recente de arrecadação, o que tende a piorar o quadro fiscal neste ano. Entre o primeiro semestre de 2003 e o primeiro deste ano, as despesas públicas passaram de 13,84% do PIB para 18,34%, com os investimentos públicos pouco evoluindo, passando de 0,7% para 0,8%, as despesas com Previdência saltando de 6,6% para 7,1% e a folha de pagamento passando de 4,3% para 5,0%. No caso dos investimentos, estes ficaram parados, negando até uma tese cara ao pensamento keynesiano, na qual, o consumo do governo pode ter uma eficácia anti-cíclica caso seja liderada pelos investimentos públicos, o que não vendo sendo o caso do Brasil. Por aqui, a evolução das despesas públicas vem se dando pela manutenção da máquina pública, com concentração na folha de pagamentos e nas contas previdenciárias. Lembremos que estas são temerárias no longo prazo, por serem permanentes, ao contrário da evolução das receitas, ao sabor dos ventos econômicos.
No caso do resultado nominal, o déficit foi de R$ 13 bilhões, acumulando no ano um desequilíbrio de R$ 56,7 bilhões (3,31% do PIB), decorrente do impacto do juro, registrando R$ 95,1 bilhões, ou 5,56% do PIB, ainda muito alto. Com isto, pelo lado da dívida pública, em julho o estoque foi a R$ 1,28 trilhão, ou 44,1% do PIB, devendo passar dos 45% nos próximos meses, confirmando este quadro de deterioração no front fiscal.
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