As autoridades da República, nas esferas executiva, legislativa e judiciária, nos níveis municipal, estadual e federal, estão empenhadas num grande debate: qual era o calibre da arma do traficante que derrubou o helicóptero da polícia no Rio?
Mas os mandatários do Brasil não discutem só isso. Há estudos profundos sobre as táticas de invasão da bandidagem ao Morro dos Macacos. Uns dizem que o assalto da quadrilha A ao território da quadrilha B foi “dissimulado”. Outros dizem que foi abrupto.
Até 2016, quando o Rio de Janeiro sedia os Jogos Olímpicos, certamente já estará pronta a tese de doutorado das autoridades brasileiras sobre a geopolítica do tiro ao alvo contra o helicóptero da PM.
Uma fonte deste espaço assistiu a tudo de Paris, pela TV. As cenas do helicóptero nos céus em chamas vinham acompanhadas de explicações sobre a guerra na Colline des Singes (Morro dos Macacos). Deve ser a isso que os especialistas chamam de “sensação de insegurança”.
“O problema do fuzil é o alcance dele”, explica uma das autoridades. É o tipo de explicação que tranqüiliza a população. Diminui a sensação de insegurança. O ministro da Justiça de Lula grita que não tem nada a ver com isso. Outro momento de alívio.
Se a internacionalmente famosa guerra na Colline des Singes não é problema dele, vai ver até que o problema não existe. Vão acabar descobrindo que o helicóptero se chocou com um balão de São João.
Esses bandidos cariocas andam se comportando muito mal. Invadem os territórios uns dos outros sem avisar a ninguém. Agem de forma dissimulada, sem a menor transparência. Estão completamente insensíveis ao alcance dos seus fuzis.
O governador do Rio, o ministro da Justiça e o presidente da República estão cobertos de razão. Não há outra coisa a fazer, senão exigir um pouco de racionalidade dos traficantes. Chega de barbarizar sem ética.
Os membros do Comitê Olímpico Internacional, que escolheu a cidade da Colline des Singes para sede das Olimpíadas de 2016, já tomaram suas providências: soltaram um pigarro, deram uma tossidinha e desligaram a TV.
Mas vêm aí as eleições de 2010, e tudo será posto em pratos limpos. Vamos discutir a privatização do Rio São Francisco e a transposição da Vale. Ou vice-versa. Tanto faz.
(Publicado em Época)
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