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Receber autorização da agência federal norte-americana para usar uma tecnologia de saúde nos Estados Unidos é um desafio. A startup brasileira Brain4Care aplicou em agosto de 2018 e só conseguiu no final de 2019 a aprovação do órgão americano para utilizar seu sensor de medição de pressão intracraniana no país. Para os fundadores, a dificuldade compensa: o aval dos EUA abre portas para um mercado global de saúde.
Com a chancela dos Estados Unidos, a empresa brasileira, fundada em 2014, espera que se intensifiquem as pesquisas científicas ao redor do mundo validando seu método. Atualmente, grandes centros de pesquisa, como a Universidade do Porto, a Universidade Stanford e a Universidade Johns Hopkins, conduzem estudos para avaliar as possíveis aplicações médicas da tecnologia brasileira.
Na metade de 2021, quando os resultados já estiverem publicados, a startup pretende iniciar sua operação comercial nos Estados Unidos e na Europa. Por ora, quatro funcionários da companhia estão em Atlanta acompanhando as pesquisas acadêmicas e iniciando as primeiras negociações com possíveis clientes.
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Para ajudar na expansão internacional, a empresa está captando investimentos em uma rodada de 10 milhões de dólares que termina no final de janeiro. Até então, a companhia havia recebido um milhão de reais, em 2016, de um investidor anjo e, em 2017, 5 milhões de dólares de um grupo brasileiro de investidores.
Tecnologia nacional
No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou o produto em março de 2019. Desde então, 15 hospitais e clínicas médicas pelo país já utilizam o sensor em pacientes da unidade de tratamento intensivo.
A tecnologia comercializada pela startup foi desenvolvida pelo professor Sérgio Mascarenhas, fundador do Instituto de Física e Química da Universidade de São Paulo (USP). O sensor consegue medir a pressão intracraniana de um paciente sem a necessidade de inserção de um equipamento por via cirúrgica, que é o procedimento tradicional hoje.
Além de menos invasivo, o método da Brain4Care é econômico. Enquanto a empresa cobra uma mensalidade de 3.100 reais por sensor utilizado, o método tradicional, segundo especialistas ouvidos por Exame, custa em torno de 20 mil reais por paciente operado.
O alto custo e a dificuldade do método invasivo também restringem atualmente a medição da pressão intracraniana a pacientes neurológicos de alto-risco. As pesquisas feitas atualmente tentam descobrir de que outras formas é possível utilizar esse sinal vital em outros tipos de diagnósticos.
“Acreditamos que, no futuro, a pressão intracraniana será um sinal vital monitorado pela medicina como são hoje os batimentos cardíacos”, diz Plínio Targa, presidente da companhia.
Experiência na UTI
O hospital Nove de Julho, de São Paulo, usa dois sensores da companhia na sua Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) desde 2019. Carlos Nassif, médico intensivista chefe do hospital, conta que duvidou do método à primeira vista. “Aprendi na faculdade que o cérebro é envolvido por uma caixa óssea imóvel”, conta.
Quando recebeu o equipamento para teste, monitorou a pressão de pacientes da UTI que estavam utilizando o método tradicional — inserido dentro do crânio. Para sua surpresa, as curvas obtidas com os dois aparelhos eram idênticas. “Não existe nada no mercado que consiga trazer as informações que o sensor da Brain4Care traz sem invadir a cabeça do paciente”, afirma o médico.
A partir daí, a UTI do hospital passou a monitorar também a pressão de pacientes em estado menos grave, para ajudar na tomada de decisões terapêuticas. No primeiro ano de uso da tecnologia, Nassif conta que o hospital reduziu seus gastos com tomografia na UTI, já que o acompanhamento do quadro clínico dos pacientes neurológicos passou a ser feito com o sensor.
“Não deixamos de usar o método invasivo em situações em que ele é indicado (para pacientes com grave comprometimento neurológico), mas agora conseguimos monitorar como doenças não relacionadas ao cérebro causam alterações neurológicas”, diz o médico.
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Próximos passos
O objetivo da Brain4Care é replicar a experiência de sucesso vista nos 15 hospitais que já usam o produto durante 2020. A empresa planeja atingir o ponto de equilíbrio financeiro da operação brasileira até o final do ano, quando projeta que 78 hospitais estarão usando sua tecnologia.
A meta de Plínio Targa para a startup é começar 2021 com o sensor aprovado para operar em todo o continente americano e europeu. Ele acredita que a aprovação da Anvisa irá agilizar o processo nos países latino-americanos e que o aval norte-americano ajudará a convencer os reguladores europeus.
Em julho de 2021, os planos são começar a vender a assinatura do sensor para hospitais nos dois continentes. O presidente da startup projeta que a operação internacional se equilibre financeiramente no final de 2022.
Para que as previsões e metas de fato se concretizem, é essencial que as pesquisas internacionais comprovem o que a Brain4Care verificou em sua experiência brasileira: seu produto é uma alternativa mais segura e eficiente que os métodos tradicionais.
Fonte: “EXAME”