Em meio aos esforços do governo federal para reduzir os efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a atividade, os economistas do mercado financeiro avaliam que o Brasil encerrará o ano de 2020 com um rombo primário recorde. Dados divulgados nesta segunda-feira, 13, pelo Banco Central mostram que a expectativa de déficit primário do setor público para o ano saltou de 1,65% para 4,14% do Produto Interno Bruto (PIB). Esse é o maior porcentual da série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2001.
No pior resultado registrado até hoje, em 2016, o setor público consolidado registrou déficit primário equivalente a 2,48% do PIB. Na época, o rombo ainda era consequência do descontrole fiscal verificado nos anos do governo da presidente Dilma Rousseff.
Desta vez, a expectativa de déficit primário recorde para 2020 é consequência direta da crise provocada pela covid-19. Desde março, o governo tem anunciado uma série de medidas econômicas para evitar o fechamento de empresas e o aumento descontrolado do desemprego. As ações representam um aumento de despesas para o governo, com impacto direto sobre o resultado primário. Apenas o Ministério da Economia já anunciou mais de R$ 500 bilhões de auxílio.
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O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do setor público, antes mesmo do pagamento dos juros da dívida pública. Os avanços nas projeções refletem a expectativa de que, com o aumento das despesas do governo durante a pandemia do novo coronavírus, o País terá um cenário fiscal ainda mais difícil em 2020.
Os dados do Relatório de Mercado Focus, divulgados nesta segunda pelo BC, mostram ainda que o resultado nominal do setor público apresentará um rombo de 9,02% do PIB em 2020. Se confirmado, será o pior desempenho desde 2015, quando o déficit nominal foi de 10,22% do PIB. O resultado nominal reflete o saldo entre receitas e despesas após o pagamento dos juros da dívida pública.
O avanço do déficit primário do setor público é uma preocupação para o governo e para os economistas do setor privado. Isso porque, para cobrir o rombo, o governo é obrigado a se endividar ainda mais, emitindo títulos públicos. O resultado é de alta na relação entre a dívida e o PIB.
Os números do BC mostram que, no fim de fevereiro, a Dívida Bruta do Governo Geral estava em 76,5% do PIB. Com a crise provocada pelo novo coronavírus – que eleva o rombo fiscal e reduz o PIB – a expectativa entre os economistas do mercado financeiro é de que esse porcentual supere os 80% nos próximos meses.
O cálculo sobre até onde vai a dívida, no entanto, é incerto. Isso porque o próprio governo não tem, neste momento, segurança sobre até quando as medidas de isolamento social vão continuar, com impactos negativos sobre a economia.
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A Dívida Bruta do Governo Geral – que abrange o governo federal, os governos estaduais e municipais, excluindo o Banco Central e as empresas estatais – é uma das principais referências para avaliação, por parte das agências globais de classificação de risco, da capacidade de solvência do País. Na prática, quanto maior a dívida, maior o risco de calote por parte do Brasil.
Morro abaixo
Os dados do relatório Focus mostram que as projeções dos economistas para a atividade estão cada vez piores. A projeção mediana para o PIB em 2020 é de retração de 1,96%. No entanto, já existe pelo menos uma instituição financeira que espera retração de 6,00% da economia este ano.
Neste domingo, 12, o Banco Mundial indicou queda de 5,0% do PIB do Brasil em 2020 e, na quinta-feira passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia citado possibilidade de retração de 4,0%.
O setor de serviços deve ser um dos mais afetados. A estimativa atual do mercado é de retração de 3,27% do PIB do setor este ano. A queda esperada para o PIB industrial é de 8,90%. No caso do PIB da agropecuária, a projeção é de alta de 0,90%.
Fonte: “Estadão”