O déficit de profissionais no setor de tecnologia da informação soma 570 mil vagas em todo o mundo, segundo dados da consultoria IDC. Com o objetivo de levar mão de obra qualificada a empresas que atuam no exterior, o grupo educacional irlandês SEDA fez um aporte de R$ 3 milhões para criar a startup StarHire 365. A empresa vai treinar profissionais e capacitá-los para vagas em países como Irlanda, Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Portugal, Alemanha e Estônia.
A iniciativa chega ao mercado brasileiro nesta quarta-feira (7/7), com inscrições abertas para treinamentos voltados ao segmento tecnológico. Os cursos são gratuitos, mas é necessário bancar a matrícula (o valor parte de R$ 97 e aumenta de acordo com a quantidade de aulas escolhidas). No modelo de negócios da startup, o cliente final é a empresa contratante – e não a pessoa capacitada. A companhia de tecnologia só recebe quando um novo colaborador passa a integrar o quadro de funcionários dos parceiros.
Para aprimorar ou desenvolver “hard skills”, os interessados devem escolher entre três opções: desenvolvimento Apple, desenvolvimento Android ou design UX/UI. A startup disponibiliza conteúdos sobre resiliência, inteligência emocional e gestão do tempo – as chamadas “soft skills”. Há também aulas de inglês.
Em um primeiro momento, cada curso terá 500 vagas – no total, são 1,5 mil. O conteúdo é gravado e cada formação tem duração média de 40 horas. Com as “soft skills”, a carga horária chega a 150 horas.
Após fazer a inscrição, o candidato realiza uma prova para avaliar seus conhecimentos gerais em tecnologia. Se acertar mais do que 30%, é aprovado. O estudante selecionado recebe o link para pagamento da matrícula, condicionante para a participação no programa.
Apesar de ser irlandês, o grupo foi fundado pelo economista paulista Thiago Mascarenhas em 2009. Além da startup, o portfólio do SEDA inclui as marcas SEDA College (escola de inglês para estrangeiros em Dublin, na Irlanda), SEDA Intercâmbios (agência de intercâmbios), Skill Lab (escola de cursos tecnológicos), Pathway (para o ingresso de estudantes no ensino superior) e cursos de MBA em São Paulo.
Em 12 anos, mais de 25 mil alunos de 40 nacionalidades já utilizaram a estrutura criada por Mascarenhas para aperfeiçoar a fluência no inglês na Irlanda. Em todas as frentes de negócio, o grupo faturou R$ 45 milhões nos últimos 12 meses.
Mascarenhas e Vanderlei Abrantes, CEO da StarHire 365, têm Vanessa Melo como a terceira cofundadora. Para Abrantes, a origem brasileira dos líderes tem influência positiva e é um direcionador para o oferecimento de oportunidades no país.
“O grupo sempre deu bastante ênfase no Brasil, buscando formas de capacitar e desenvolver um povo que carece de oportunidades. Como hoje a gente não consegue formar, no mercado brasileiro, a quantidade de profissionais suficiente para atender às empresas, resolvemos lançar um programa de capacitação”, afirma Abrantes. “Hoje em dia, não basta simplesmente ter competência técnica. Diversas outras habilidades são analisadas.”
Além do enfoque em aspectos complementares, outro diferencial da plataforma, segundo o executivo, é o uso machine learning para fazer uma varredura no seu banco de dados e determinar o “match” com o profissional que melhor atende à complexidade da vaga anunciada, de acordo com nível de exigência da empresa.
Em um primeiro momento, a ideia é oferecer colaboradores nos níveis júnior e pleno. Dessa forma, mesmo as pessoas que não são da área de tecnologia, mas que desejam iniciar uma transição de carreira, podem se inscrever.
A proposta, diz Abrantes, é elevar o número de ingressantes brasileiros em um mercado que tem uma quantidade farta de posições a serem preenchidas – com a pandemia, as empresas estão aceitando mais profissionais que trabalham à distância.
Existe também a possibilidade de fornecer mão de obra para as companhias que estão inseridas no mercado brasileiro. “Já estamos sendo procurados por recrutadores e empresas para firmar parcerias e empregar esses profissionais no Brasil. É algo que vai acontecer naturalmente, porque nosso propósito é reduzir o gap entre vagas e profissionais”, diz o empreendedor.
As primeiras turmas têm início em agosto e término em novembro. Os cinco alunos com as melhores performances são premiados com um mês de curso de inglês no SEDA College, em Dublin, além da oportunidade de conhecer a estrutura de big techs como Apple, Amazon, Facebook e Airbnb, entre outras, na Irlanda.
A StarHire 365 tem 50 empresas cadastradas em busca de profissionais. Nos próximos 12 meses, a startup tem uma meta considerável: qualificar 10 mil pessoas. A ampliação dos serviços para países que apresentam a mesma deficiência do Brasil é uma das metas. México, Argentina, Colômbia, Panamá e Peru estão no radar. “São países com muitas dificuldades para capacitar seus profissionais, assim como o Brasil”, pontua o CEO.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”, 07/07/2021
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