Os desafios da educação brasileira não dizem respeito só à limitada aprendizagem dos alunos ou à ainda inconclusa universalização do acesso dos jovens ao ensino médio.
A defasagem idade-série, situação em que o aluno tem dois ou mais anos que a idade correta para a série cursada, vem a eles se somar e, em alguns casos, é o motivo principal dos problemas acima apontados.
Essa distorção é causada por entrada tardia na escola ou por altos índices de repetência e gera consequências sérias, como o desinteresse, dada a inadequação ou infantilização dos materiais didáticos, problemas de bullying e, em última instância, o abandono escolar. Além disso, acarreta uma ineficiência grande em todo o sistema.
De acordo com os dados da PNAD contínua de 2018, cerca de 23,1% dos jovens de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino médio, ainda cursam os anos finais do fundamental e 12,4% dos de 11 a 14, idade correta para o 6º ao 9º anos, frequentam a etapa anterior de escolaridade.
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E mais, aqui também a desigualdade educacional espelha a de renda: o atraso escolar por etapa de ensino dos jovens de 15 a 17 era 4 vezes maior entre os pertencentes aos 20% da população com os menores rendimentos que entre os que faziam parte dos 20% mais ricos.
Resolver essa questão é urgente, pois essa situação nos tem feito perder muitos jovens que não aprendem, portanto repetem de ano e, sem ninguém que lhes ajude a superar déficits de aprendizagem, acumulam insucessos. Eles acabam por abandonar os bancos escolares, e as chances são enormes de que, ao fazer isso, alimentem os exércitos da chamada economia paralela, para usar um eufemismo.
As soluções passam certamente por transformar as redes escolares, num esforço integrado e coerente para oferecer um ensino em que todos aprendam, monitorando a aprendizagem, detectando precocemente dificuldades e sanando-as a tempo. Evita-se, assim, o fenômeno da repetência.
É necessário também organizar um sistema de recuperação de aprendizagem competente, já que na escola pública poucos têm a oportunidade de contratar, como fazem alunos de escolas frequentadas por jovens de famílias mais afluentes, professores particulares ou contar com os pais para sanarem dúvidas.
No entanto, até que tudo isso se resolva, precisamos implementar –como fazem os municípios de Maragogipe, na Bahia, Muriaé, em Minas Gerais, ou Esteio, no Rio Grande do Sul– bons programas de aceleração dos alunos mais velhos do fundamental 2, para que cheguem à etapa seguinte mais cedo e mais preparados e, assim, não abandonem a escola.
Não podemos nos dar ao luxo de perder mais jovens!
Fonte: “Folha de São Paulo”, 14/2/2020