O Banco Central está reduzindo juros e tomando medidas para facilitar o crédito. O Ministério da Fazenda estimula o consumo. Tudo porque, é o discurso oficial, há uma forte desaceleração na economia mundial, que empurra para baixo a atividade no Brasil.
Nos cenários construídos no BC e no setor privado, o produto brasileiro deve crescer em torno dos 3% neste ano e no próximo. Para o BC, o crescimento baixo derruba preços, de modo que a inflação deve cair para a meta de 4,5%, medida pelo IPCA, no segundo semestre de 2012. Fora do governo, a expectativa é de uma inflação na casa dos 5% – mas subindo na passagem para 2013.
Nada disso, garante o ministro Guido Mantega. O Brasil pode e vai crescer 5% no próximo ano. E com inflação na meta.
Aí, não bate. Já está dado que o Brasil termina este ano com inflação perto dos 6% e crescimento de 3,5%, com sorte. Ou seja, o ministro está dizendo que, para 2012, o crescimento vai acelerar e a inflação, desacelerar. Não tem como. Nem manipulando índices e conceitos.
A meta de inflação é 4,5% – havendo uma margem de tolerância de dois pontos para baixo ou para cima, de modo a acomodar situações e eventos extraordinários. Assim, uma inflação de 6,5% não está na meta, está no teto máximo.
A Fazenda, entretanto, já deu sinais de que considera bom qualquer índice de 6,5% para baixo. Na prática, isso equivale a ampliar o tamanho do alvo. Mesmo assim, seria difícil alcançá-la no ano que vem, se a economia de fato acelerar como acredita o ministro. Sem contar que Mantega quer também uma mais forte redução de juros.
Ou seja, estamos no terreno da propaganda. Estão dizendo: que desânimo é esse pessoal? Só por causa de uma crise lá dos gringos? Aqui não tem essa, podem gastar.
Mas para que isso fosse mais eficiente, seria preciso censurar os textos do BC, quer dizem justamente o contrário. A crise lá fora é muito brava, tal é a tese, por isso vamos nos virando por aqui, com redução de juros e tal. Ou seja, se a economia acelerar, os juros não podem cair porque a inflação subiria.
E segue a ciranda.
E por falar dos gringos… Não está fácil: na mesma semana em que a economia americana enfileirou uma sequência de notícias positivas, indicando uma recuperação melhor do que se imaginava, a China trouxe sinais preocupantes.
A produção industrial caiu para um nível igual ao de 2009 – auge da crise – e o governo anunciou medidas para estimular consumo e investimento. Movimento típico de uma ditadura: não admite problemas, até esconde alguns dados, mas decreta medidas que indicam clara inquietação com o andamento da economia.
De todo modo, a China tem sempre conseguido manter um crescimento forte. Se mantiver esse padrão e se os EUA confirmarem a recuperação, o mundo em 2012 vai ser um tanto melhor do que se temia há poucas semanas.
Mas na dependência da Europa.
Custo Brasil. Funcionários públicos da Inglaterra fizeram greve, ontem, para protestar contra a reforma da previdência iniciada pelo governo conservador de David Cameron. Como toda reforma, em qualquer país, o objetivo é aumentar o tempo de contribuição e o valor da contribuição e, em certos casos, reduzir o valor da pensão. A idade mínima de aposentadoria, por exemplo, está sendo elevada de 65 para 67 anos, para homens e mulheres.
Diz o governo britânico que, sem as reformas, o déficit previdenciário pode chegar logo a “perigosos” 9 bilhões de libras, algo como R$ 25 bilhões. Sabem qual o déficit da previdência dos funcionários públicos federais no Brasil? R$ 50 bilhões neste ano, o dobro do que os ingleses consideraram temerário.
Não é difícil entender por que a presidente Dilma, que não é conservadora, está apressando a votação da sua reforma previdenciária. Também é fácil verificar que esse déficit é mais um pedaço da herança maldita que recebeu de seu patrocinador.
Custo Brasil 2. Eduardo Amaro, ouvinte nosso na CBN, entra no debate sobre os entraves do ambiente de negócios no Brasil.
Sua história: “Meu negócio – um hotel de pequeno porte – está localizado no lado mineiro da divisa com S. Paulo, ficando a 160km da capital paulista e a 465 km de Belo Horizonte. Tenho a maior dificuldade em conseguir notas fiscais de fornecedores localizados no estado de SP. Estes não querem fornecer notas para clientes de fora do estado, por causa do regime ICMS e da exigência de recolhimento do adicional do imposto pela diferença de alíquota entre os estados.
“Grandes supermercados localizados em S. Paulo recusam-se a vender ou simplesmente criam tanta dificuldade que é impossível fazer compras (para a operação normal do negócio). Assim, ou compramos em Minas, pagando um sobre-preço ou compramos em SP com cupom fiscal do caixa, sem validade para a contabilidade do hotel.
“Isso é que é incentivar o pequeno empresário a criar empregos, renda e empreender”.
Não tem nada de mais – a série. Deu no site Congresso em Foco: PSC obriga servidor a pagar caixinha para partido. Funcionários que trabalham nos gabinetes dos deputados filiados à legenda têm que reservar 5% do que ganham para o partido. De cada gabinete, são R$ 3 mil por mês. Dos cofres públicos diretamente para os cofres do partido.
Segundo o vice-líder da legenda, deputado Zequinha Marinho, não interessa se a pessoa é filiada ou não. Ele diz que “um não pode trabalhar pelos outros”. E diz mais: “Se não quiser não vai, não aceita, não se mete em política”.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 05/12/2011
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